//Vasconcellos foge a perguntas (e dívidas) e irrita deputados

Vasconcellos foge a perguntas (e dívidas) e irrita deputados

Nem uma hora durou a audição de Nuno Vasconcellos, antigo presidente da falida Ongoing, na comissão de inquérito às perdas do Novo Banco. Após ter recusado consecutivamente a responder às perguntas dos deputados e a assumir que era o responsável pelas dívidas da Ongoing ao banco, Fernando Negrão colocou um ponto final na sessão. “Em nome da dignidade dos trabalhos”, justificou o presidente da comissão.

O desfecho inédito resultou da troca de palavras entre o antigo presidente da Ongoing e Mariana Mortágua. A deputada do Bloco de Esquerda arrancou com a ronda de perguntas, as quais não foram respondidas diretamente. Aliás, à pergunta repetida várias vezes pela deputada sobre como é que tencionava pagar a dívida de 522 milhões de euros ao Novo Banco, Vasconcellos começou por dizer que quem tem dívidas é a Ongoing. “Quem tem de pagar é a Ongoing. A pergunta está a ser feita de um ponto de vista pessoal, mas deve ser dirigida à Ongoing. O grupo não é da minha família”, comentou, relembrando que a empresa, que chegou a ter 10% da antiga Portugal Telecom (PT), entrou em insolvência em 2016.

Ao longo da curta audição, que se realizou através de videoconferência a partir do Brasil onde reside há dez anos, Nuno Vasconcellos fez questão de sublinhar que estava a ser ouvido como “convidado” e não como “arguido”. Defendeu que a partir de 2016 deixou de ser responsável pela Ongoing, e que esta tinha um gestor de falência pelo que as questões não deveriam ser feitas a título pessoal.

Nuno Vasconcellos argumentou ainda que a dívida de 522 milhões ao BES tinha ativos e garantias associados, entre os quais ações da PT, um depósito de 70 milhões de euros e ativos imobiliários.Todos estes ativos estariam avaliados em mais de mil milhões de euros em 2013, segundo o responsável. “Não consigo entender o que foi feito com esses ativos, não sei se foram vendidos. Muitos continuam no Novo Banco”, acrescentou, voltando a reencaminhar as perguntas para o gestor de insolvência da Ongoing. Sobre os empresários que o ajudaram a reforçar as garantias bancárias, recusou-se a elencar nomes referindo apenas que um deles é o padrinho do seu filho.

Depois de respostas dispersas e omissas, Mariana Mortágua perdeu a paciência e sublinhou que Vasconcellos estava ali “porque deixou um calote de 600 milhões de euros”, e face às respostas que ele estava a dar não pretendia dar-lhe mais palco. Nuno Vasconcellos respondeu que a deputada não “tinha direito de falar num tom acusatório”. “Estou aqui como convidado e não aceito essas acusações. A senhora deputada prove aquilo que está a falar!”. Logo de seguida, Fernando Negrão deu a sessão como encerrada.

“Ficou claro, e de forma pública e notória, que o senhor se recusa sistematicamente e sem explicações plausíveis a admitir que seja titular de qualquer dívida. E é claro ainda que a sua única preocupação é construir a sua defesa. Nestes termos, em nome da dignidade dos trabalhos desta comissão, eu e todos os deputados entendemos dar por terminada a audição”, disse o presidente da comissão de inquérito às perdas do Novo Banco imputadas ao Fundo de Resolução.