//Venda de carros elétricos cai na Europa, mas em Portugal não. Saiba porquê

Venda de carros elétricos cai na Europa, mas em Portugal não. Saiba porquê

“O fim dos incentivos de apoio à aquisição dos veículos elétricos no exterior, nomeadamente na Alemanha, provocou uma queda imediata das vendas”, explica à Renascença o presidente do conselho diretivo da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), Pedro Faria.

Em Portugal, o cenário é diferente e a aquisição de veículos eléctricos continua a crescer. No mês de maio verificou-se um aumento de 8,5% relativamente ao mês anterior. Mensalmente, são comprados cerca de 4 mil veículos 100% elétricos.

Os incentivos para a aquisição de veículos elétricos são uma das justificações para estes valores, assegura Pedro Faria. “Embora ainda se esteja à espera dos incentivos de 2024, eles continuam a existir e continua a existir um plano fiscal de apoio à aquisição para as empresas”, diz, acrescentando que em Portugal não se reflete, para já, a tendência europeia — “antes pelo contrário, continuamos com um forte impacto positivo no crescimento das vendas e assim se espera que continue.”

No início de 2023, o Governo alemão reduziu os incentivos à compra de veículos eléctricos. Pedro Faria sublinha que “ainda é cedo para retirar esses apoios.”

“A partir de certa altura, eles têm que ser retirados gradualmente. Nós consideramos que ainda é muito cedo, mesmo na Europa, consideramos que é muito cedo”, defende.

Necessários mais incentivos

Em Portugal, veículos 100% elétricos e híbridos plug-in representam 3% do parque automóvel.

O Orçamento do Estado que estava previsto para 2024 estimava um aumento do incentivo ao abate de veículos e a redução do teto máximo do apoio à compra de viaturas 100% elétricas. A queda do Governo de António Costa adiou a implementação desta medida, mas Pedro Faria garante que “o que estava previsto para 2024 é para cumprir”, segundo informação da tutela. Tanto a aquisição para os particulares via Fundo Ambiental, como o pacote de apoio às empresas, nomeadamente com o abatimento do IVA, vão manter-se.

Hélder Barata Pedro, secretário-geral da Associação Automóvel de Portugal (ACAP), sublinha que são precisas “mais medidas de apoio e incentivos” à compra de automóveis elétricos.

Da mesma forma, Francisco Ferreira, da associação ambientalista Zero, acredita que os investimentos têm de ser feitos também através de veículos elétricos, por exemplo nas infraestruturas de transporte público. Já no caso dos automóveis, Francisco Pereira sublinha à Renascença que “é crucial que, à medida que os veículos vão chegando ao seu fim de vida, os motores de combustão sejam substituídos por veículos elétricos.”

Contudo, o presidente da associação ambientalista esclarece que “é necessário garantir preços atraentes e uma infraestrutura e custos que também estejam em linha e isso tem sido feito através de incentivos em vários países.”

Veículo a combustão ou elétrico? Qual fica mais em conta?

As opiniões dividem-se. O presidente do conselho diretivo da UVE garante que, considerando todos os custos, incluindo o de aquisição, “o custo total da operação, é muito inferior ao de um veículo a combustão.”

No entanto, o secretário-geral da Associação Automóvel De Portugal (ACAP) alerta: “a tecnologia do veículo elétrico é ainda uma tecnologia mais cara do que o veículo com motor de combustão“, apesar da redução do preço final para o consumidor.

Francisco Ferreira, da Zero, destaca a importância em garantir que os veículos elétricos se aproximem de custos idênticos aos de combustão, apontando a necessidade de manutenção dos incentivos, nomeadamente nos impostos.

“Neste momento, diz-se que em 2027/28, no máximo, comprar um veículo a gasolina ou 100% elétrico terá o mesmo custo.”

Os veículos elétricos são amigos do ambiente?

“Os veículos elétricos são absolutamente essenciais para reduzirmos as emissões dos vários países, nomeadamente para conseguirmos alcançar as metas europeias traçadas no quadro da Lei de Bases do Clima”, defende o presidente da Zero.

Em Portugal e na Europa, o transporte rodoviário, principalmente à custa dos automóveis individuais, é o que representa uma maior percentagem de emissões, pelo que, defende Francisco Ferreira, “a descarbonização deste setor é absolutamente crucial”.

Ainda assim, os veículos elétricos também têm a sua fatura de problemas ambientais, associados à necessidade de materiais raros como o cobalto e o lítio. As baterias representam uma pegada ecológica relevante, mas o ambientalista acredita que “o impacto ambiental dos veículos elétricos é incomparavelmente menor”. “No caso do nosso país, onde nós temos eletricidade de fontes renováveis, isso significa uma enorme redução de emissões na operação destes veículos em comparação com motores a combustão”, notou.

E as baterias? Qual o destino das baterias dos elétricos?

Francisco Ferreira esclarece que, quando deixa de poder ser utilizada num carro, uma bateria elétrica “tem mais uma segunda ou terceira vida”, até porque “há obrigações europeias de reciclagem dos diferentes materiais.”

“Há um conjunto de utilizações destas baterias para outros fins de armazenamento de eletricidade”, acrescenta, o que permite reduzir “o impacto ambiental da extração de muitos dos materiais associados”.

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