Os venezuelanos saíram hoje às ruas de várias cidades para voltar a protestar contra novos apagões elétricos, a falta de água e de transportes, enquanto esperam informação oficial sobre o racionamento de energia anunciado pelo Presidente Nicolás Maduro.
Os protestos decorreram em várias zonas de Caracas e em cidades como Maracaibo, Maracay, Barquisimeto, Valência, Mérida, Los Teques, entre outras.
Muitos residentes na capital tiveram hoje que fazer vários quilómetros para irem trabalhar, numa jornada de horário reduzido (até às 14 horas), porque as falhas de energia elétrica ocorridas na manhã de hoje impediram o Metropolitano de prestar o serviço de transporte de passageiros.
“Não tenho luz, não tenho água, os alimentos estragam-se, o dinheiro está a acabar, os medicamentos não se conseguem e os políticos vivem noutra realidade. Em Miraflores (palácio presidencial) ou na Pdvsa (petrolífera estatal), não falta a luz nem a água, é o povo quem está a passar sofrimentos”, explicou à agência Lusa uma cidadã venezuelana.
Yenifer Romero, de 45 anos, denunciou que” várias cisternas com água” saíram hoje da sede de Pdvsa em La Campiña, enquanto “as canalizações estão vazias” nos edifícios e “nem a água está a chegar aos tanques dos edifícios”.
Esta venezuelana levantou-se “cedo” para ir trabalhar, mas “havia poucos autocarros (em Propátria, oeste de Caracas) e muita gente à espera”.
“Tive que apanhar um autocarro até outra zona e caminhar parte da cidade a pé”, acrescentou.
“Agora não sei como vou regressar, nem a que horas chegarei a casa. Os autocarros são poucos, o Metropolitano não funciona, não há dinheiro para pagar um táxi e não sabemos como será o racionamento”, disse.
Além de pessoas a dirigirem-se para os respetivos locais de trabalho, durante as primeiras horas de hoje eram visíveis grandes grupos nas paragens à espera de autocarros, um serviço que nos últimos tempos tem sido comprometido devido à alta inflação no país e à falta de peças para as reparações.
“Nem as perreras’ (camiões de transporte alternativo) estão a funcionar. Há quem cobre até 300% mais pela passagem”, explicou outra pessoa, também em La Campinha (centro-leste) onde alguns autocarros passavam de tempos em tempos, com excesso de passageiros em pé, alguns deles inclusive pendurados nas portas.
Entretanto, fonte da organização do evento solidário “La Olla Milagrosa” (A panela milagrosa) denunciou, através da rede social Twitter, que suspendeu, no último sábado, a sopa solidária que tradicionalmente distribui a 500 pessoas, porque efetivos da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) confiscaram a cisterna que transportava a água para preparar os alimentos.
Na Venezuela, o mês de abril começou com cortes parciais no abastecimento de eletricidade em 21 dos 24 Estados do país: Anzoátegui, Apure, Arágua, Barinas, Carabobo, Cojedes, Distrito Capital (Caracas), Falcón, Guárico, Lara, Miranda, Mérida, Monágas, Nova Esparta, Portuguesa, Sucre, Táchira, Trujillo, Yaracuy, Vargas e Zúlia.
Perante a situação vários comerciantes disseram à agência Lusa, que baixaram os preços dos produtos como o leite, “antes que se estrague” e assim “recuperar parte” do que investiram.
Outros analisam os danos ocasionados pelos apagões, queixando-se de que ocorreram danos em arcas frigoríficas, lâmpadas e bombas de água.
O Presidente venezuelano anunciou no domingo à noite um plano de 30 dias de racionamento da eletricidade, mas de momento não foi avançada qualquer informação adicional sobre o horário em que será aplicado.
Segundo o ministro da Comunicação e Informação venezuelano, Jorge Rodríguez, o Governo decidiu manter a suspensão das atividades educativas e decretar a redução do horário de trabalho até às 14:00 locais, como parte dos esforços para estabilizar o serviço de energia elétrica.
No passado dia 07 de março, uma falha na barragem de El Guri (a principal do país) deixou a Venezuela às escuras durante uma semana.
A 25 de março último, ocorreu um novo apagão que afetou pelo menos 18 dos 24 Estados, incluindo Caracas, que estiveram às escuras, total ou parcialmente, pelo menos durante 72 horas.
Na última sexta-feira, pelo menos 21 dos 24 Estados ficaram às escuras e 24 horas depois as falhas elétricas fizeram sentir-se em pelo menos 20 Estados.
Na Venezuela são cada vez mais frequentes e prolongadas as falhas no fornecimento de eletricidade, passando de pequenos a grandes apagões que chegam a afetar a totalidade do território.
O Governo atribui as falhas a atos de sabotagem de opositores apoiados pelo Estados Unidos, enquanto que a oposição acusa o regime de não fazer os investimentos necessários no setor e tem denunciado, desde há vários anos, falhas na manutenção e ausência de peças de reparação.
Desde 2005 que engenheiros alertam que o país poderia registar um apagão geral, devido às condições precárias do sistema de distribuição.
Segundo a imprensa local, devido à crise política, económica e social, centenas de empregados da Corporação Elétrica Nacional da Venezuela (Corpoelec) abandonaram o país à procura de melhores condições no estrangeiro.
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