A visita do Presidente angolano, João Lourenço, a Portugal, que começa amanhã, é vista como “uma demonstração de que os dois Estados pretendem enterrar o ‘irritante’ e avançar com os temas da cooperação direta”, escreve o Jornal de Angola, no seu editorial.
A publicação intitulada por “O irritante ficou para trás?” reconhece que Portugal é conhecido por ter realizado “dois milagres” após o 25 de abril de 1974 – o fim das mortes maternoinfantis e a erradicação do analfabetismo. Por serem estes dois dos maiores desafios do país africano, o editorial propõe um novo modelo de parceria nas áreas da saúde e da educação.
“A lógica não é que os médicos e professores portugueses substituam os nossos. Apenas que ajudem os nossos a melhorar. Que ajudem o Estado a redesenhar um sistema de saúde. Que nos ajudem a redesenhar o sistema educativo, sobretudo o ensino geral”, pode ler-se. O Jornal de Angola mostra ainda preocupação em conseguir atrair e fixar os quadros no país, para que estes possam participar na recuperação económica e social.
O editorial publicado na terça-feira destaca uma entrevista de João Lourenço publicada pelo Jornal Expresso, este fim de semana, onde refere que o chefe de Estado passa mensagens importantes tanto para o seu país como para o exterior. “É um importante posicionamento do Presidente João Lourenço em relação aos últimos desenvolvimentos da situação política prevalecente em Angola onde o combate à corrupção é a sua grande aposta.”
O diário angolano espera que a visita de João Lourenço a Portugal permita “atrair outros investidores”, referindo-se não só àqueles que queiram vender para Angola como também aos que, investindo diretamente no país, promovam a produção interna nos mais variados setores desde a agricultura ao turismo.
A visita de João Lourenço a Portugal “vale por si”
João Lourenço fará a terceira visita de Estado de um Presidente angolano a Portugal. A visita acontece cedo no mandato de João Lourenço, uma vez que este tomou posse há pouco mais de um ano. Lembre-se ainda que acontece também muito perto da ida de António Costa a Angola em setembro deste ano.
Vários diplomatas afirmaram ao jornal Público, esta quarta-feira, que a “visita vale por si”, salientando que o “timing é um sinal de que Angola quer passar a página”, no que às relações bilaterais diz respeito.
“Normalizar não é uma boa palavra porque normais as relações já são, mas é importante haver atos públicos que sinalizem que estamos num bom caminho”, destaca um embaixador.
Augusto Santos Silva, chefe da diplomacia portuguesa, acredita que a viagem “vale por si”, não só ao nível simbólico como também no que toca à “dimensão executiva e concreta que prolonga o trabalho e os acordos feitos há dois meses em Luanda”.
Uma das questões pendentes entre os dois países é a dívida às empresas portuguesas. Em 2017, 400 empresas portuguesas em Angola representavam um investimento direto de quatro mil milhões de euros no país. Além de que existem quase seis mil empresas que exportam de Portugal para Angola.
Fonte oficial do Governo português revelou ao mesmo jornal que “ainda não há acordo sobre exatamente quanto” mas a dívida fixa-se nas centenas de milhões de euros.
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