“Na atmosfera política atual, muito polarizada, é preciso trazer consenso sobre as formas de combater as alterações climáticas, como a ‘clean tech’, para dentro da agenda e do discurso políticos”. A ideia foi defendida esta quarta-feira pela eurodeputada Lídia Pereira, num painel na Web Summit sobre o potencial da Península Ibérica em se tornar um epicentro de startups “clean tech” – empresas dedicadas a desenvolver tecnologias que reduzam os impactos ambientais negativos, como as formas de energia alternativas.
A líder da juventude do Partido Popular Europeu pede que Portugal e Espanha unam esforços para uma “cooperação mais aprofundada”, que promova “um mercado de capitais unido e funcional” e que facilite a atribuição de incentivos fiscais – caso contrário, é provável que “percam a relevância na atração de ‘clean tech’ para outras geografias”.
Bianca Dragomir, diretora da associação Cleantech for Iberia, assume que, apesar de a Europa ter sido pioneira na aprovação de medidas para combater as alterações climáticas, há ainda muito a fazer, nomeadamente acelerar políticas que favoreçam a tecnologia.
“Temos de acelerar a inovação no mercado, expandi-la para outros territórios e também para outros setores. Precisamos de nos alinhar para conseguirmos levar o capital aos sítios onde podemos ter mais impacto. E este é o momento para a Península Ibérica ser um polo central na promoção desta mudança”, explica.
Iker Marcaide também pede políticas que resolvam as “falhas” nestes ecossistemas e que multipliquem a criação de valor. Como fundador e administrador do grupo Zubi (dedicado à compra e investimento destas startups), Marcaide aponta ainda a necessidade de facilitar a ligação entre diferentes empresas de clean tech – “é o esforço mais duradouro que podemos fazer em conjunto e a forma mais eficiente de maximizarmos o nosso impacto”.
É também à procura de mais impacto que o Parlamento Europeu criou o “Grupo de Amizade de Cleantech”, no qual todas as forças políticas europeias debatem o papel da União Europeia (UE) nesta matéria – um sinal, para Lídia Pereira, de que a Europa “quer chegar a melhores políticas”.
“Temos visões diferentes de como investir, implementar e também expandir, mas partilhamos o mesmo objetivo: colocar a ‘clean tech’ no coração das políticas feitas pelo Parlamento Europeu. Esta visão – que também é partilhada pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen – dá-me esperança na Europa: numa Europa que também quer combater a crise climática e promover a transição energética”, conclui.
Startups e universidades são as principais aliadas
Ana Casaca, diretora de Inovação da Galp, também aponta a colaboração como a chave para promover uma transição energética eficaz, principalmente num tempo em que “a troca de ideias é de tal ordem que 40% do conhecimento vem de fora da organização, de outras entidades e parceiros”. Neste processo de troca de ideias, as start-ups são umas das protagonistas.
“Nós queremos construir soluções com startups, queremos investigar e testar com elas novas formas de energia – não queremos ficar com a propriedade de nenhuma ideia. Se as startups precisam de investimento, nós damos. As grandes empresas de energia devem ser um veículo para promover a inovação, nas condições certas. No final, aí sim, pode-se fazer um contrato entre a empresa e a startup, para implementar essa nova forma de energia”, clarifica a executiva da Galp.
Além disso, Ana Casaca diz que não faz sentido colaborar com startups se não houver novas formas de tecnologia para investir – e nisto as universidades e politécnicos são um importante aliado.
“Pensamos os ecossistemas com o meio académico em Portugal, onde damos mentorias e colaboramos diretamente com projetos. Queremos garantir que os estudantes de mestrado e doutoramento continuam a criar oportunidades para o país. Financiamos projetos porque acreditamos que a liberdade de investigação pode ser um catalisador do conhecimento que precisamos”, afirma.
Também a EDP não olha para a cooperação como uma responsabilidade apenas dos governos e das instituições internacionais.
Durante uma conferência esta quarta-feira na Web Summit sobre a aceleração da transição energética em Portugal, Ana Paula Marques, administradora da empresa, garantiu que a “cooperação e o empoderamento” das comunidades locais é “crucial” para que as populações “compreendam e acreditem em projetos como os da transição energética”.
E é devido a esta necessidade de informar transversalmente a sociedade, desde as empresas aos governos e cidadãos, que Ana Paula Marques espera que muitas empresas do setor energético participem na COP 28, que decorre no final deste mês no Dubai.
“Precisamos dos contributos e da energia de toda a gente, não a criticar, mas a criar soluções. Nós vamos estar na COP28 e espero que outras empresas energéticas também estejam. Somos parte da solução para levar a transição energética para a frente e para não deixar ninguém para trás”.
O objetivo para a administradora da EDP só pode ser um: apanhar o “contrarrelógio da emergência climática”.
“As alterações climáticas devem ser um imperativo [de mudança] para a Humanidade. O relógio está a andar e temos até 2050 para responder ao desafio da neutralidade carbónica e para fazermos ainda mais do que isso. Há um sentido de urgência nesta matéria”, remata.
Deixe um comentário