Porcos controlados por computador, apps que dão prémios por bons comportamentos, piza comprada pela televisão. Podia ser ficção científica, mas é a realidade da InnoWave, criada para mudar as nossas vidas.
Uma produção de porcos controlada por computador a 300 km de distância. Um chip que permite saber o estado de um lote de garrafas de gás ou barris de cerveja. Robôs que entendem linguagem corrente e são capazes de perceber o humor do seu interlocutor humano e agir de acordo com o seu estado de espírito para resolver situações da vida real (InnTeract). Boxes que interagem com quem tem o comando na mão, seja para encomendar uma piza ou para fazer um seguro. Não é ficção científica num cenário futurista descrito por alguém com imaginação fértil. É o presente, aqui simplificado, para a InnoWave.
Nascida de doses iguais do espírito criativo, do talento e do engenho que fazem o ADN de Tiago Mendes Gonçalves, a empresa que fundou há uma década tem objeto de negócio e propósito inscritos no slogan que lhe completa o nome: “Change Lives trough Innovation”. Assim mesmo, em inglês, ou não fosse esta uma casa virada para fora – só seis meses depois de abrir portas, e já com trabalho de referência feito para a Belgacom, em Bruxelas, onde se estreou apesar de a sede ser em Lisboa, ganhou o primeiro contrato em solo português.
Hoje, os negócios estendem-se a clientes em 18 países. No Brasil, por exemplo, a área de internet of things foi contratada por uma empresa de sinalizadores de tráfego aéreo para instalar sensores de controlo nas lâmpadas no topo dos edifícios, para assegurar que estão a funcionar – uma produção de 20 mil por mês, controlada a partir do escritório, que reporta periodicamente e avisa se há problemas. Para a Ambev, fizeram um piloto com 500 devices que controlam o estado de barris de cerveja e comunicam anomalias por wi-fi (se houve quedas, mudanças de temperatura, aberturas indevidas, etc.). A solução, criada na Holanda, está já a ser exportada para a Bélgica e para a China.
Seguindo uma linha condutora com o objetivo de se tornar líder em inovação e transformação digital, a InnoWave mais do que duplicou resultados nos últimos três anos, tendo ultrapassado a fasquia de 17 milhões de euros de faturação – 65% obtidos fora de Portugal. O que, de resto, está no ADN da empresa desde a sua fundação, em plena crise financeira internacional. “A exportação de serviços e soluções sofisticadas de software para mercados maduros e concorrenciais, com a dimensão em que querem jogar, sempre foi uma prioridade” para Tiago Mendes Gonçalves. “O sonho de criar uma multinacional tecnológica baseada em Portugal é hoje uma realidade porque desde o primeiro momento exportámos mais do que vendemos aqui.”
Construir o futuro é uma ambição assumida e a empresa tem conseguido dar passos relevantes nesse caminho, conforme conta o empreendedor, no tom tranquilo e sem ponta do espalhafato que aprendemos a associar ao perfil de criador. Quem o ouve explicar cada gadget ou produto de software que sai da sede da José Malhoa para o mundo, quase acredita que é coisa simples. A verdade é que o mundo que se vai tecendo aqui e nos outros cinco países onde a InnoWave já tem escritórios – Reino Unido, Bélgica, Holanda, Estados Unidos da América e Emirados Árabes Unidos – tem ligação direta à cabeça do seu mentor. Uma realidade agora imaginada, pensada, desenvolvida e concretizada pela equipa que Tiago foi construindo à sua imagem, e que já soma 350 pessoas.
Talento e motivação
Essa identidade, o espírito de pertença, é um traço que considera fundamental para o sucesso da empresa e por isso faz questão de manter a interação entre equipas de diferentes geografias. “É essencial, dada a nossa expansão geográfica, ter a certeza de que todos respiram o ADN, por isso promovemos trocas, visitas e partilha entre os diferentes escritórios.”
Licenciado em Engenharia Eletrónica e de Sistemas no Técnico, com um MBA na Nova e uma pós-graduação na Católica em Empreendedorismo e Inovação, Tiago Mendes Gonçalves casou-se ainda com os 20 anos feitos há pouco e tem três filhos. Já perto dos 50, mantém forte a veia criativa que alimentou desde miúdo invenções de todo o tipo. Permanentemente à procura de novos desafios, reconhece, porém, que hoje o seu papel passa mais pela gestão. E não o desgosta essa função, sobretudo no que respeita ao talento.
A importância reconhecida ao capital humano ajuda a explicar porque é que a InnoWave é presença regular na lista de melhores empresas para trabalhar em Portugal. E se confirma o que qualquer empresa com negócios nestas áreas dirá – não é pera doce encontrar em número e qualidade profissionais com as características necessárias para trabalhar em inovação digital -, há muito que este empreendedor entendeu que reter talento é tão ou mais importante do que encontrar o perfil adequado na hora de contratar. “O salário conta, mas o engagment é ainda mais valorizado, sentirem que fazem parte de alguma coisa maior, que estão a criar algo e que são permanentemente estimulados e encorajados a inovar, a procurar caminhos, a sugerir soluções ou melhoramentos.” A flexibilidade (nos horários e no local onde trabalham), a importância dada ao equilíbrio entre vida profissional e pessoal e os espaços de lazer também ajudam a construir um ambiente em que se sente o fervilhar de ideias e a energia de uma juventude que vai para lá da idade (ainda que a média da equipa ronde os 30 anos).
Inovação à medida
O que faz a InnoWave em concreto? De uma forma simples, identifica necessidades antes de surgirem problemas, imagina e torna realidade soluções que nos facilitam a vida e resolve os desafios que as suas clientes lhe apresentam. Nos bastidores, onde a malha se constrói e aperfeiçoa, há talento a borbulhar entre programas de inteligência artificial, machine learning, internet of things, tecnologia e inovação digital. O resultado são linhas de soluções como a YuBuy, plataforma de comércio na televisão já presente na Nos, na Meo e na Vodafone que permite fazer compras usando apenas as quatro setas e o OK do comando da box. Com até 30 lojas associadas, esta solução permite, em segurança e sentado no sofá de casa, desde comprar comida para animais a seguros ou a pesquisar modelos, simular e marcar test drives da Kia à Porsche. Usando geolocalização, a ligação à loja mais próxima é assegurada para entregas e o pagamento feito em integração com o cartão de crédito ou MBWay. As receitas são tripartidas entre a loja, o operador e a YuBuy – e o negócio está longe de ser secundário. “No ano passado vendemos mais de um milhão de pizas, o que faz da nossa loja a maior do país em vendas.” E esta é apenas a ponta do icebergue para um software com um potencial incrível – e em relação ao qual a InnoWave já está a testar novas aplicações, nomeadamente na área da publicidade interativa.
A cada desafio sua solução
“Muito do que aqui arquitetamos nasce de desafios que nos são lançados por empresas clientes”, explica o empresário. É o caso de uma solução atualmente a ser testada em algumas lojas de conveniência que permite ao cliente pegar nos produtos de que precisa, pagar e sair sem ir à caixa – através de um sistema de leitura de código de barras 360º, a conta é feita em tempo real, conforme se acrescenta produtos à cesta e paga por MBWay ou sistema semelhante. Uma solução que também pode ser usada para medir stocks no armazém ou saber quando é preciso repor artigos nos expositores, por exemplo. É também o caso das soluções InnLink de otimização de áreas de trabalho através de um programa de reserva de salas e contagem de cabeças para melhor aproveitar espaços comuns e de reuniões. Ou ainda de um sistema de radiografias que deteta e assinala anomalias, baseado num processo otimizado por machine learning, criado à medida de uma equipa de veterinários da UTAD.
Foi também nos escritórios da InnoWave que nasceu uma espécie de FarmVille da vida real, desenvolvido e continuamente melhorado para permitir controlar à distância todos os fatores e variantes de uma quinta e rentabilizar a produção ao máximo com o maior conforto e bem-estar possível para os animais. Tudo é medido e os dados analisados à distância, da temperatura dos recintos à humidade, da abertura de janelas à alimentação, da saúde ao crescimento dos animais, ponderando todos os fatores e aprendendo e corrigindo de forma a obter os melhores resultados. O projeto desenvolvido para uma produção de porcos motivou até a mudança de slogan: “O lema, ‘mudar a vida das pessoas através da inovação’ ficou desatualizado porque já estávamos também a melhorar a vida de animais.”
Todas as soluções têm níveis de desenvolvimento tecnológico assinaláveis, mas para a equipa da InnoWave não é essa a parte relevante. “O que importa é criar boas soluções, sermos desafiados; andamos sempre à procura de dores de barriga. É isso que faz sentido: trabalhar onde se consiga trazer mudanças para melhorar a vida das pessoas.” Um dos melhores exemplos disso é a app criada em parceria com a Câmara de Cascais, distinguida entre 400 nomeados de 180 países nos World Summit Awards. Parte do ramo de gamification da empresa, a InnGage, a CityPoints Cascais premeia bons comportamentos dos cascalenses, atribuindo-lhes pontos por ações que o envolvem no melhoramento da autarquia (como votar no Orçamento Participativo, fazer voluntariado ou usar transportes públicos); pontos que se traduzem em entradas em museus e eventos, livros, cafés, etc.
A solução tem vindo a ser replicada noutros ambientes para criar envolvimento entre equipas e incentivar bons exemplos.
Seja em que área for, a InnoWave tem um objetivo bem traçado: continuar a liderar em todas as áreas em que está, da inteligência artificial à mobilidade, da automação à Internet das Coisas. E para Tiago Mendes Gonçalves não há portas fechadas ou limites à criatividade para fazer o futuro acontecer já.
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