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Foi para falar de alterações climáticas e de transição energética que a EDP organizou, em Madrid, a primeira de um conjunto de conferências que designou de “We choose earth“, evento que juntou 800 pessoas e arrancou com um vídeo a elencar os danos causados ao planeta pela ação humana nos últimos 200 anos: as emissões de CO2 cresceram em 50%, a temperatura média da superfície terrestre aumentou 1,1 graus e o nível do mar subiu 20 centímetros desde o início do século XX.
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Por outro lado, em 20 anos, o homem abateu 100 milhões de hectares de floresta, com a expansão da agricultura a assegurar 90% da desflorestação do planeta. Calcula-se que entre 10 mil e 100 mil espécies entram em extinção a cada ano e que os eventos climáticos extremos provoquem mais de 20 milhões de deslocados por ano.
Miguel Stilwell d”Andrade, CEO da empresa, lembrou que há três mil milhões de pessoas vulneráveis às alterações climáticas e explicou que a EDP pretende – com esta série de eventos que arrancou em Madrid, mas irá seguir para outras cidades – discutir “como podemos ter um futuro brilhante, combatendo as alterações climáticas, mas trabalhando também para que haja menos desigualdades sociais e assegurando o acesso de todos a fontes energéticas confiáveis e acessíveis”.
“Esforço coletivo”
Com Amal Clooney, a ativista dos direitos humanos, Miguel Stilwell d”Andrade falou do “efeito dramático” da guerra da Ucrânia, em termos de segurança energética, e defendeu que o reforço da aposta nas energias renováveis exige “um esforço coletivo, de governantes, associações não governamentais, empresas e cidadãos.
“Sabemos que agir é difícil, mas não se pode apenas criticar os outros que nada fazem, e essa é a questão chave deste evento em que quisemos chamar a atenção para o tema, lembrando que todos temos de tomar uma atitude”, sublinhou. E se é verdade que acredita que as renováveis “podem ser escaladas” e que a transição energética pode ser feita de forma “muito mais rápida”, Miguel Stilwell d”Andrade é perentório: “Não será uma transição fácil, haverá muitas dificuldades e contratempos, mas é algo que temos realmente de fazer e, portanto, se tivermos isso em mente, seremos todos muito mais consequentes nas nossas ações”.
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Já Amal falou da sua experiência em defesa de um mundo “onde as mulheres têm as mesmas oportunidades que os homens, os responsáveis por crimes contra a humanidade são levados à Justiça para responder por eles, onde a liberdade das minorias é protegida e os inocentes não são perseguidos ou mortos pela cor da sua pele, por quem amam ou a quem oram”. Mas falou também do mundo empresarial, dizendo que as empresas não podem continuar a dizer que os direitos humanos não lhes dizem respeito, porque, além do mais, “os jovens querem sentir orgulho das organizações onde trabalham”.
Investir na natureza
Já a pró-reitora da Universidade Nova de Lisboa defendeu que não basta pensar em cortar as emissões de CO2 que produzimos, é preciso lembrar que “25 a 30% das emissões da Europa são importadas de outros países, como a China e a Índia”, e isso tem que ser tido em conta. Júlia Seixas deixou uma mensagem de esperança, garantindo que a comunidade científica já não se foca na neutralidade carbónica, mas em cenários de positividade carbónica, e defende que o investimento das empresas deve ser também na natureza para ajudar nesse caminho.
Enrique Dias, professor de inovação na IE Business School, diz que é “totalmente falso” o argumento de que a transição energética não pode ser feita por falta de matérias-primas. “Não encontramos lítio porque não o procuramos com a devida insistência”, advoga, sublinhando que os políticos “estão a ser lentos porque não os obrigamos a serem mais rápidos” na transição. O pior, diz, é que “grande parte da sociedade acredita nessas mentiras e ainda protesta perante qualquer tentativa de antecipar o fim do uso de combustíveis fósseis”.
O professor deixa um alerta aos reguladores: “Pôr um preço no carbono é uma boa ideia, mas não podemos é depois estar a importar produtos mais baratos de outros países só porque os custos de carbono são diferentes”.
Já o secretário-geral da Eurelectric, a associação que representa os industriais europeus de eletricidade, lamenta a “falta de foco” e o regresso do petróleo como um “investimento atrativo”, fruto da crise energética gerada pela guerra na Ucrânia. Kristian Ruby lembra que a meta para a descarbonização da economia “está definida”, o que falta hoje é “um regime regulatório em que se possa confiar”. Em causa está a reforma do mercado elétrico, em discussão na Europa, e que leva o responsável a apelar para que “não destruam o mercado, não destruam as regras que as pessoas conhecem”.
Ação: retirar lixo dos mares
Diz-se que o lixo de uns é o tesouro de outros, mas, neste caso, o lixo de muitos é a morte dos ecossistemas marinhos. A EDP tem vindo a organizar ações de recolha subaquática de lixo nos oceanos, batendo recordes mundiais do Guiness, quer pela quantidade de lixo recolhido quer pelo número de mergulhadores envolvidos. No total, e entre as ações realizadas, por duas vezes em Sesimbra, e várias na costa espanhola, a EDP extraiu já 15 toneladas de lixo do mar. Em 2022, envolveu 600 mergulhadores, este ano foram já mais de 800. Um computador portátil, um tambor de uma máquina de lavar roupa, calçado diverso e até uma bomba armadilhada – que teve de ser desativada pela Marinha – são alguns dos artigos recuperados do fundo dos mares. Alguns deles estão em exposição numa pop-up store que a EDP abriu no centro de Madrid, na Gran Via, 66, com o custo para o planeta de cada um deles: 200, 300 ou mais de 500 anos para se decomporem.
A jornalista viajou para Madrid a convite da EDP
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