//“Abordagem do Facebook na Austrália é típica dos monopólios”. Entrevista ao australiano Rod Sims

“Abordagem do Facebook na Austrália é típica dos monopólios”. Entrevista ao australiano Rod Sims

Austrália criou novas regras para as plataformas digitais que dominam a publicidade online no país, Google e Facebook, com este último a reagir proibindo notícias legítimas na plataforma. Líder da Concorrência do país explica como funciona o novo Código e como o único objetivo é “privilegiar o jornalismo de serviço público”, “para uma sociedade mais informada, menos dividida e democrática”.

Irá 2021 marcar uma mudança significativa na relação entre meios de comunicação e o duopólio Google e Facebook? “Pelo menos na Austrália, com a nova legislação, nada será como era. Google e Facebook tornaram-se, essencialmente, na internet. Queremos com o novo Código equilibrar a balança e privilegiar o jornalismo de serviço público, os jornalistas e uma sociedade mais informada, menos dividida e democrática”.

Quem o diz é o líder da Autoridade da Concorrência e dos Consumidores do país (ACCC), Rod Sims, em entrevista ao Dinheiro Vivo (feita a semana passada, ainda antes da polémica com o Facebook que o experiente gestor já parecia adivinhar). Depois de passar pelas áreas de energia, transportes, água e telecomunicações, admite que tem em mãos um “dos temas mais pertinentes e que influencia a sociedade, não só no país mas no mundo, o das plataformas digitais.”

O chamado News Media and Digital Platforms Bargaining Code, sugerido pela ACCC após vários estudos ao longo de três anos, foi aprovado na Câmara dos Representantes esta quarta-feira e deve seguir o mesmo curso no Senado.

Em resposta, o Facebook anunciou na quarta-feira com efeito imediato a proibição de notícias de meios de comunicação legítimos na plataforma (ver mais por baixo), proibindo inclusive a partilha de notícias pelos próprios utilizadores. Rod Sims admite que o Facebook tem vindo a ameaçar banir notícias para não ter de negociar.

“Ao remover as notícias da plataforma, o Facebook envia um sinal claro para o mundo sobre as suas prioridades e objetivos (…) é uma abordagem típica dos monopólios, esta do pegar ou largar”, diz o responsável, admitindo que plataformas pouco saudáveis ou problemáticas podem ter outro tipo de consequências no país além das relacionadas com a concorrência – ou seja, o Facebook pode correr o risco de ser banido.

O novo Código tenta resolver um problema detectado que afeta os meios de comunicação, “o de não conseguirem ser sustentáveis pela publicidade online” e é baseado em alguns estudos. “Os resultados foram claros, a Google tem cerca de 95% do mercado da pesquisa online e o Facebook tem, de longe, as duas redes sociais mais dominantes no país”, explica o responsável, indicando que no caso da publicidade online ambas têm 81% do valor total na Austrália (53% para o motor de busca da Google e 28% para o mural de notícias do Facebook).