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Os vinhos do Alentejo tiveram, em 2021, um ano recorde de vendas e o principal contributo veio da Fundação Eugénio de Almeida – sediada em Évora e proprietária da Adega Cartuxa, produtora do Pêra-Manca -, que fechou o ano com 20 milhões de faturação, quase 7% acima do máximo de sempre obtido em 2019. O mercado brasileiro foi fundamental.
“É verdade que as exportações de vinho cresceram em 2020 e que há muito a perceção de que se consumiram mais vinhos em casa, mas não deixa de ser uma meia verdade. Houve muitos produtores que, com a restauração fechada e não tendo o canal dos supermercados bem trabalhado, tiveram grandes quebras. Até porque, muitos dos mercados de exportação, num primeiro momento, em 2020, estiveram também fechados”, diz o diretor de vendas e marketing da Fundação Eugénio de Almeida.
Com metade das vendas das marcas da Adega Cartuxa asseguradas pela restauração e hotelaria, não admira que João Teixeira classifique 2020 como um ano “especialmente difícil”, com o volume de negócios a cair 25%. Uma quebra minimizada pelo crescimento de 18,8% nos mercados externos, o qual resultou, quase em exclusivo, da performance no mercado brasileiro, onde a Adega Cartuxa tem uma posição “muito relevante, no top 3, em valor, dos vinhos portugueses”. Em 2021, o crescimento no Brasil continuou a fazer-se a dois dígitos, a par de acréscimos significativos nos EUA, no mercado comunitário e Reino Unido. Mas não só. França e Suíça foram mercados que cresceram a dois dígitos em 2021 e a Bélgica a três.
No total, as exportações aumentaram 30% face a 2020 e 49% comparativamente a 2019. Valem 40% das vendas totais da Cartuxa, com o Brasil a representar 60% disso. Ou seja, dos cerca de oito milhões de euros exportados, cerca de 4,8 milhões são assegurados pelo Brasil. Aliás, a Adega Cartuxa é o primeiro exportador em volume e valor para o mercado brasileiro, respondendo por 11% das vendas totais de vinhos alentejanos para esse país.
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Mas não foi só por aí que os resultados históricos da Adega Cartuxa em 2021 advêm. Em 2019, a Fundação Eugénio de Almeida decidiu mudar a estratégia de apresentação dos seus vinhos no mercado nacional, trabalhando diretamente todos os clientes da moderna distribuição. “Entendeu-se que havia um potencial por explorar nesse segmento de mercado e que, se o abordássemos diretamente, poderíamos tirar daí essas mais-valias. Foi uma decisão corretíssima e que nos preparou para o que foi 2020”, refere João Teixeira.
Além disso, no arranque de 2020, a Fundação mudou de distribuidor em Portugal, “apostando numa abordagem ao mercado assente num posicionamento de perceção de valor e não tanto de preço ou de volumes”. Com a chegada da pandemia, e o encerramento do canal Horeca (hotelaria, restauração e cafetaria), houve que “resistir à tentação” de colocar outros vinhos nos supermercados e de ir atrás de uma política de preços e de volumes.
“Mantivemos o que tínhamos decidido em 2019 como estratégia de médio prazo e, quando em 2021 surge a retoma, estamos com uma posição relevante e muito dominante na moderna distribuição. Em termos de marcas de produtor, somos o número 2 do Alentejo neste segmento de mercado, tendo aumentado a notoriedade da marca em oito pontos percentuais, de acordo com dados da Wine Intelligence”, refere o responsável, que acrescenta: “Em 2021, e ainda que o mercado da restauração e do turismo não tenham ainda atingido os valores pré-pandemia, a Adega Cartuxa aparece com toda a forma e legitimidade, mas sobretudo com uma grande coerência e estabilidade de preços”.
João Teixeira reconhece que o “músculo financeiro de mais de 30 anos de sucesso da Fundação Eugénio de Almeida no mercado” ajudou a empresa a ultrapassar as dificuldades criadas pela pandemia, mas sublinha que foi a decisão de “jamais entrar em guerras de preços, defendendo sempre a política de qualidade e de identidade da região do Alentejo” que assegurou os resultados obtidos em 2021.
Quanto ao mercado brasileiro, João Teixeira admite que a carga fiscal é proibitiva e que inflaciona, e muito, o preço final dos vinhos nesse país, a par de constrangimentos burocráticos e processuais. “É possivelmente o país mais difícil para exportar e desalfandegar um produto, em especial no segmento dos vinhos, que o Brasil quer desenvolver, para se tornar relevante no panorama mundial”, refere o dirigente.
O sucesso da Fundação em terras de Vera Cruz advém de mais de 30 anos de experiência neste mercado, mas também do facto de a Cartuxa, a sua marca âncora, ser vista pelo consumidor brasileiro como um “luxo acessível”.
2021 foi também ano de lançamento de Pêra-Manca tinto, um dos mais exclusivos vinhos portugueses, produzido apenas em anos de excecional qualidade. A colheita agora à venda é de 2015 e é limitada a 44 mil garrafas, com um preço de venda ao público recomendado de 275 euros. Para o mercado brasileiro foram sete mil garrafas, e que chegam ao consumidor a quase cinco mil reais, ou seja, o equivalente a mais de 870 euros.
Uma colheita de Pêra-Manca tinto vale só por si 10 a 15% da faturação do segmento de vinhos da Fundação Eugénio de Almeida. Mas 2019 também foi ano de lançamento de Pêra-Manca, portanto, não é a isso que se devem os resultados extraordinários de 2021. Até porque, sublinha o responsável de vendas e marketing da Fundação, o Pêra-Manca tinto 2014 foi lançado em abril de 2019, enquanto o de 2015 só chegou ao mercado em outubro do ano passado. Parte das vendas vão-se refletir em 2022.
Para este ano, o objetivo da organização é manter a rota de crescimento, esperando aumentar as suas exportações em 10% e reforçar as suas vendas totais em 8%. A Rússia era um dos mercados de aposta para este ano, mas já está posto de parte. Em contrapartida, a Adega Cartuxa quer alargar a sua presença no mercado americano, expandindo da costa Este para o Centro e Sul, em especial para regiões como Chicago, Texas, Florida e, eventualmente, a Califórnia. Na Europa, a aposta é no Reino Unido e na Europa Central, com destaque para França, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo e Suíça.
Quanto a investimentos, estão orçados em 20 a 30 milhões e o foco é na reformulação da oferta enoturística da Adega Cartuxa, por onde passavam, antes da pandemia, 19 mil visitantes ao ano, maioritariamente brasileiros. A ambição este ano é chegar aos 11 ou 12 mil, com uma oferta de maior valor, designadamente no seu envolvimento no processo de vindima.
Além disso, será retomado o festival EA Live Évora, que este ano será feito com “maior dimensão e visibilidade”. E em estudo está já a internacionalização do projeto, com a realização de um evento similar no Brasil.
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