A decisão sobre o futuro do maior produtor de cogumelos da Península Ibérica, o grupo Sousacamp, vai demorar mais algumas semanas, depois da assembleia de credores marcada para hoje ter sido adiada para 19 de fevereiro.
O administrador judicial, Bruno Costa, pediu ao tribunal de Vila Flor, onde decorre o processo de insolvência, um adiamento para concluir negociações entre credores, que implicam repensar projetos em curso no grupo para os tornar viáveis.
Em declarações à Lusa, o administrador judicial explicou que o pedido de adiamento se deveu à necessidade de conformar o plano de viabilização com a realidade atual do grupo.
“Há negociações que estão em curso entre credores tendentes a que os planos se ajustem ao que a empresa precisa”, afirmou, referindo-se a projetos que estão em curso na última década financiados por fundos públicos.
O administrador afirmou que o plano de viabilização continua a contemplar a dispensa, por mútuo acordo de 90 trabalhadores, a maior parte na unidade de Paredes, e cerca de seis trabalhadores, em Benlhevai, na sede da empresa para onde está projetado acabar com a produção do composto para produção de cogumelos.
Segundo o administrador, “mais de 20 trabalhadores já aceitaram o mútuo acordo”.
Algumas dezenas dos trabalhadores, a maioria mulheres, assobiaram hoje o administrador judicial à porta do Tribunal de Vila Flor, onde se manifestaram enquanto decorria a assembleia de credores que acabou por ser adiada.
O protesto teve o apoio do SINTAB com o dirigente Eduardo Andrade a contestar a forma como os trabalhadores foram tratados na sessão, que classificou de “intimidatória”.
“O que ouvimos agora aqui foi um chega para trás aos trabalhadores por parte do administrador judicial e da juíza que disse para termos cuidado, porque não havendo viabilização, a solução é a falência”, contou.
O sindicato vincou que não é contra a proposta de viabilização do grupo, quer apenas que sejam salvaguardados os postos de trabalho.
A proposta que está em análise e para votação é da gestora de capital de risco CoReEquity, que obteve, em dezembro, autorização da Autoridade da Concorrência para entrar no capital do grupo transmontano.
A proposta prevê um perdão de 40 dos 60 milhões da dívida do Grupo Sousacamp, sendo o maior credor a banca, nomeadamente o Novo Banco. Foi com a queda do antigo BES em 2014 que o maior produtor de cogumelos ibérico começou a ter dificuldades.
O grupo já teve outra proposta de aquisição que foi rejeitada pela assembleia de credores.
A entrada do novo investidor e a concretização da intenção de aquisição está dependente da aceitação ou não da atual proposta de viabilização, cuja votação foi hoje adiada.
Se este plano for aprovado, mais de metade dos “entre 150 e 170 trabalhadores” da unidade de Paredes serão dispensados, segundo as trabalhadoras que se manifestaram hoje.
A proposta prevê o fim da produção nesta unidade onde Fernanda Mendes trabalha há 12 anos e onde, aos 48 anos, foi chamada ao escritório para lhe ser apresentada a proposta de rescisão.
Fernanda não entende qual foi o critério de seleção dos trabalhadores, pois na lista estão também de outros setores, como Guilhermina Monteiro que trabalha há nove anos nos laminados e que também foi confrontada com a proposta.
“Houve um perdão de dívida de 40 milhões, um suposto investidor que vai investir 13 milhões, não há salários em atraso, qual o porquê de despedir 100 pessoas”, questiona.
Desde que encerrou a produção há dois meses que trabalhadores como Fernanda Mendes, Antónia Ferreira e Matilde Ribeiro foram transferidas para um corredor onde passaram a laminar cogumelos, como contaram à Lusa.
Queixam-se da falta de condições, alegando que trabalham “ao frio, cheias de roupa, carapuços na cabeça, com um cartão debaixo dos pés, durante oito horas, a laminar cogumelos em cima de paletes de madeira a servir de mesas”.
“Que higiene é essa numa empresa certificada?”, perguntam, afirmando que nesse corredor trabalham “cerca de 30 mulheres em simultâneo”, enquanto a empresa tem “35 salas climatizadas e que eram da produção”.
Segundo dizem, a média de idades na empresa é entre “40 e 50 anos” e o salário é mínimo, cerca de 600 euros bem abaixo dos “4.500 euros que recebe o administrador judicial” que está a gerir o processo de insolvência.
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