//AIG: “O que vejo é respeito porque conseguimos passar por tudo aquilo”

AIG: “O que vejo é respeito porque conseguimos passar por tudo aquilo”

Há 10 anos, um gigante financeiro foi salvo na crise de 2008. Ao contrário do banco Lehman Brothers, que as autoridades nos EUA deixaram falir, a American Investment Group (AIG), uma das maiores seguradoras a nível mundial, recebeu um pacote de ajuda de 182 mil milhões de dólares (157 mil milhões de euros) a 16 de setembro de 2008.

Cinco anos depois, concluiu o reembolso do ‘empréstimo’ gerando um lucro para o Tesouro norte-americano de 23 mil milhões de dólares (20 mil milhões de euros). Mas o processo foi controverso. Primeiro, porque a AIG caiu em desgraça devido à sua aposta agressiva em produtos financeiros especulativos. Depois, porque um ano após receber a ajuda pública, anunciou que iria pagar 165 milhões de dólares (142 milhões de euros) em prémios aos seus executivos.

Para fazer o reembolso, a AIG vendeu ativos, incluindo a American Life Insurance Company (ALICO) à Metlife.

Oscar Herencia, diretor-geral da MetLife para Portugal e Espanha, estava na altura a liderar a ex-companhia da AIG. “A crise financeira de há 10 anos proporcionou-me o que chamo de um ‘MBA da vida real’”, recordou ao Dinheiro Vivo. “Tinha chegado há pouco tempo a Portugal para liderar a Alico/AIG Life, quando fui confrontado com um dos desafios mais complexos da minha carreira – o possível colapso da AIG nos EUA, com tudo o que isso implicava em termos de incertezas para os clientes, colaboradores, entidades reguladoras, etc”, disse.

Tudo isto numa cultura e uma língua que ainda não era a sua e com uma visibilidade mediática maior do que a seria de esperar nessa altura. “Mas, apesar de tudo, no final foi possível resolver todos os problemas em Portugal e, em 2010, a Alico acabou por ser comprada pela MetLife e continuamos a ser os líderes em seguros de vida no mundo”.

A AIG opera agora em Portugal numa área de nicho no setor de seguros e oferece, nomeadamente, seguros para operações de fusão e aquisição e na área de cibersegurança e de riscos ambientais. A diretora-geral da AIG na Península Ibérica diz que ainda existe uma sombra da crise de 2008. “Não diria que desapareceu mas temos uma realidade diferente em Portugal e Espanha”, afirmou Benedetta Cossarini ao Dinheiro Vivo. “Tivemos muito orgulho de pagar de volta cada cêntimo que nos foi emprestado. O que vejo é respeito porque conseguimos passar por tudo aquilo”, afirmou.

30 anos em Portugal

A AIG está em Portugal há três décadas. Benedetta Cossarini lidera a companhia em Portugal e Espanha há dois anos. A empresa emprega 200 pessoas na Península Ibérica, das quais 50 em Portugal e tem menos de 1% de quota do mercado segurador nacional. A companhia ambiciona crescer em Portugal, nomeadamente na área de proteção de empresas na área de cibersegurança.

Hoje, a AIG atravessa uma nova fase de transformação ao preparar-se para o Brexit – separação do Reino Unido da União Europeia. Criou uma empresa separada no Luxemburgo para as operações europeias e mantém uma empresa em Londres. Ao nível dos resultados, também enfrenta desafios. O lucro líquido do grupo caiu 17% no segundo trimestre deste ano, para 937 milhões de dólares (802 milhões de euros), devido à fraca performance do negócio de seguros.

Apesar dos desafios, Oscar Herencia sublinhou que “no caso do setor dos seguros, os reguladores tiveram um papel muito positivo nos últimos anos, o que permitiu que a indústria ultrapassasse a crise financeira com menos dificuldade que outros sectores financeiros”.

Disse que “todas as grandes mudanças em termos de regulação e supervisão estão a aumentar as exigências em termos de solvência, transparência e governo das sociedades para as seguradoras, mas a verdade é que o sector tem sabido reagir às mudanças e dar a resposta adequada”. “A indústria deixou de falar em produtos para falar em clientes, tornando-se um parceiro credível e de confiança”, adiantou.

Lembrou que as novas regras de adequação de capital – Solvência II – significam que todas as companhias no mercado vão ter de respeitar as mesmas regras. “Na minha opinião, esta situação cria condições de igualdade no mercado que asseguram que todas as companhias no mercado estão adequadamente capitalizadas”, apontou.

A longo prazo, “isto será positivo para o desenvolvimento do mercado segurador e, em última análise, será bom para o cliente”. É importante sobretudo, na indústria de seguros Vida, “onde as apólices estão desenhadas para o longo prazo”.

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