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A quatro meses do final do ano, as cinco empresas com ADN português e estatuto de unicórnio (avaliadas em, pelo menos, mil milhões de dólares) ainda vão contratar mais 1791 trabalhadores. Esta promete ser uma rentrée animada pela Farfetch, Outsystems, Talkdesk, Feedzai e Remote, mas não se pense que é fácil preencher todas estas vagas. Há áreas profissionais onde a procura supera a oferta.
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Veja-se o caso da empresa de desenvolvimento de software low-code Outsystems. A maioria dos 250 processos de recrutamento em curso é para a equipa de engenharia, com vagas para programadores de diferentes níveis. “Esta é simultaneamente a área de maior dificuldade, pela elevada procura por profissionais com estas formações e pela pouca oferta existente no mercado”, explica ao Dinheiro Vivo Alexandra Líbano Monteiro, responsável pelos recursos humanos (VP of people). “Portugal sempre foi um mercado atrativo para contratar, especialmente nestas áreas de tecnologia, engenharia e programação. Tem um sistema de ensino muito completo e bem estruturado que forma profissionais de elevadíssimo nível. Ainda assim, o principal obstáculo está na lacuna existente entre a procura e a oferta.”
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A Outsystems está a contratar não só para os escritórios de Linda-a-Velha, Braga e Proença-a-Nova, mas também para os EUA, Londres, Jacarta, Alemanha, Espanha. Muitas das posições são em teletrabalho. “O trabalho remoto faz parte da história da OutSystems: estamos espalhados pelo mundo e atualmente temos escritórios em Portugal e em mais 12 cidades (Ásia, Europa e Estados Unidos), com muitos colaboradores a serem contratados no pressuposto de trabalharem a partir de casa.”
A Farfetch, com 916 vagas abertas em todo o mundo, das quais 374 são para funções em Portugal, sente dificuldades de contratação em “áreas como é o caso de data science, em que a disponibilidade de talento não evolui ao ritmo da necessidade das empresas”, explica fonte da plataforma tecnológica líder global para a indústria da moda de luxo. “Mas, independentemente disso, a nossa procura por talento é global e prova disso é que uma grande percentagem dos nossos colaboradores em Portugal têm nacionalidade estrangeira – em Portugal temos colaboradores de mais de 40 nacionalidades”, acrescenta. “Aqui temos funções abertas para todos os escritórios, em Lisboa, no Porto, em Guimarães, em Braga.” Ainda que a pandemia tenha trazido mudanças de hábitos de trabalho. “Os nossos colaboradores poderão, depois do levantamento das medidas restritivas e, se a sua função o permitir, continuar a trabalhar remotamente 60% do seu tempo. Temos algumas funções em modo full remote, mas são situações específicas e não a tendência.”
A nova forma de trabalhar em modo 100% remoto permitiu também que se juntassem à Talkdesk, que desenvolve soluções de contact center na cloud, pessoas de diferentes regiões, que podem agora operar à distância. “No ano passado, contratámos 700 pessoas, e cerca de 500 foram integradas em contexto totalmente remoto”, explica João Coelho, diretor senior de talento da Talkdesk. “Além de Lisboa, Porto, Coimbra e Aveiro, procuramos talento em Braga, Guimarães, Leiria, Viseu, Vila Real, Castelo Branco, Évora, Faro, Açores e Madeira.”
A Talkdesk procura reforçar as equipas de engenharia e desenvolvimento de produto, vendas e apoio ao cliente, e funções de suporte, como gestão financeira e contabilidade, recursos humanos e IT Support. Estão 225 vagas em aberto, num total de 500 contratações em Portugal neste ano.
“Desde a génese da Talkdesk que temos sentido que há uma dificuldade generalizada em recrutar para posições tecnológicas no mercado português”, diz João Coelho. “A procura por estes perfis, por parte de várias empresas, tem vindo a intensificar-se, no entanto, acreditamos que a nossa proposta de valor é diferenciada. Temos uma equipa de engenharia multicultural, que lidera pelo exemplo e com profundo conhecimento na sua área de atuação.”
A Feedzai, que aplica inteligência artificial ao combate à fraude financeira, tem 100 posições ativas em todo o mundo, 59 delas são para Portugal. Todas com um modelo flexível que permite escolher entre trabalhar a partir de um dos escritórios (Coimbra, Lisboa e Porto) ou maioritariamente à distância, o que significa que em Portugal as funções podem ser exercidas em qualquer parte do país.
Dalia Turner, VP of people da Feedzai, explica que, sendo uma empresa em rápido crescimento, estão constantemente à procura de perfis muito variados e para diversas funções, tais como: data scientists, software engineers e apoio para as equipas de produto.
“Por algumas destas funções serem altamente especializadas, é normal existir alguma escassez de talento nestas áreas. Por isso, assumimos também como missão ter um papel ativo na promoção da investigação científica, partilha de conhecimento e dinamização da ligação com a academia.”
Tal como Nuno Sebastião, CEO da Feedzai, tem vindo a defender, desde a elevação a “startup unicórnio”, que esta é a única, das cinco, com sede em Portugal. Dalia Turner enfatiza este ponto. “Temos defendido essa ideia porque acreditamos fundamentalmente que é possível fazer crescer um negócio global a partir de Portugal. Temos algumas das melhores mentes de engenharia e universidades fantásticas.”
Também para Marcelo Lebre, o cofundador da Remote, especializada em resolver burocracia no trabalho remoto, “Portugal é sempre atrativo para contratar. A nossa formação é bastante boa em todas as áreas; encontramo-nos num fuso horário interessante, que permite criar uma ponte entre os EUA e a Europa; culturalmente somos conhecidos por nos adaptarmos bem a mudanças de contexto e desafios, e o custo de vida é relativamente acessível.” Mas há mais argumentos. “O trabalho remoto permitiu também o retorno de muitos portugueses já que podem estar em Portugal a auferir salários ao nível de outros países, facto que tem motivado também a mudança de muitos estrangeiros para o nosso país” (ver texto ao lado).
Com 300 vagas em aberto, as posições mais procuradas pela Remote são as relacionadas com engenharia, produto e design. “Tem a ver com a crescente necessidade do mercado por pessoas altamente qualificadas nesta área. A crescente digitalização dos processos físicos implica e requer a existência de profissionais que consigam transformar e codificar os mesmos, levando a uma procura muito ativa e até agressiva”, explica Marcelo Lebre.
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