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A Ambar, empresa especializada em material escolar e de escritório, está apostada em tornar-se até 2025 na marca “mais verde” do setor. A primeira gama Ambar Cycle, de produtos reciclados, foi criada no ano passado, quando a marca comemorou o seu 80.º aniversário, mas tem vindo a ser gradualmente aumentada. E a intenção é continuar a aprofundar este caminho. “O consumo quebrou com a pandemia e vamos levar 30 anos para recuperar. E a economia circular é um tema que veio para ficar, porque não podemos continuar a consumir recursos como fazíamos até aqui”, diz José Manuel Ferreira, presidente da Valérius Têxteis, SA, grupo que em 2015 comprou a Ambar, evitando a falência da empresa, que hoje se divide entre o Porto e Barcelos.
O tema da sustentabilidade é particularmente importante no seio do grupo têxtil, com sede em Barcelos, tanto que levou à criação do projeto Valérius 360, com a instalação de uma fábrica para receber desperdícios têxteis e transformá-los de novo em fio e tecidos de algodão reciclado para reintegrar a cadeia produtiva. Fio esse que se destina também à produção de papel a partir de algodão. “O papel algodão é o mais antigo no mundo. Já o papiro era feito com algodão, tal como as notas que hoje usamos”, diz José Manuel Ferreira. A Ambar Cycle inclui já uma gama de papéis produzidos com algodão, mas ainda a uma “escala laboratorial”.
O projeto da fiação 360 atrasou quase um ano, designadamente por efeito da covid e da dificuldade em receber alguns dos equipamentos industriais, tendo finalmente arrancado com a fase de testes em setembro. A expectativa é que, no final de novembro, a unidade que levou à contratação de 30 pessoas, a que se irão juntar, progressivamente, mais 50 a 70, esteja a produzir em pleno. A parte do papel algodão só deve arrancar, em escala industrial, para o ano. “A nossa proposta de valor é que, em 2025, cerca de 60% de todos os produtos que os nossos clientes levem incorporem produtos reciclados”, diz o empresário. Que tanto podem ser do segmento têxtil como do papel, com reintrodução no ciclo produtivo de resto de coleção ou de materiais da própria Ambar.
“Criar valor é algo que está no nosso ADN”, admite José Manuel Ferreira. Sob nova gestão, a Ambar tem crescido a dois dígitos, mas está ainda aquém dos objetivos e precisará de “alguns anos” para começar a remunerar o capital investido. A pandemia também não ajudou. Este ano, a empresa espera faturar cerca de nove milhões de euros, um valor já ajustado aos efeitos da covid, em 2025 é esperado que atinja os 15 milhões.
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Aposta digital
O comércio encerrado obrigou a repensar o negócio e apostar, fortemente, nas grandes plataformas internacionais de e-commerce, com uma equipa dedicada, a par de um grande trabalho no desenvolvimento de projetos a la carte em parceria com blogers e influencers. Só dois deles, um alemão e outro inglês, têm em conjunto sete milhões de seguidores com potencial de compra.
Apostada ainda na diminuição da sua pegada ecológica, a Ambar reduziu os vendedores na rua e direcionou-os para as vendas online. E porque tem consciência de que o pequeno comércio de rua “vai sofrer muito” com a crise, transformou os seus vendedores em consultores e formadores para ajudarem as pequenas lojas a tirar partido da digitalização.
“Quando as empresas estão muito ocupadas, a inovação fica para trás. De um momento para o outro ficámos sem chão e as pessoas perceberam que quem não apostar na inovação está condenado. Temos de produzir valor acrescentado. Quando o cliente quer preço, há de sempre haver um lugar no mundo onde consegue produtos mais baratos”, defende José Manuel Ferreira. E esta é uma das áreas em que a empresa mais tem investido, depois do lançamento, há dois anos, da marca Ambar Science, dedicada aos brinquedos didáticos, numa parceria com a universidade do Porto.
É uma área de negócio que tem evoluído de forma mais lenta do que o esperado, mas não é uma preocupação. “Queremos fazer brinquedos que ajudem as crianças a aprender”, diz. Neste ano, a Ambar Science já deverá assegurar vendas da ordem dos 600 mil euros. E há novos nichos em vista, designadamente desenvolvendo artigos específicos para combater o declínio cognitivo na terceira idade ou para crianças com necessidades especiais. “O centro de desenvolvimento é o nosso maior património mas também consome muitos recursos”, admite.
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