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O clube dos três biliões tem apenas um membro e esse ocupante solitário do espaço mais exclusivo de Wall Street é a Apple. A empresa conseguiu atingir e manter uma capitalização bolsista acima dos três biliões de dólares (3,01 biliões no fecho de quinta-feira) depois de uma ascensão notável das suas ações: valorizaram 48% desde janeiro. É um feito num ano em que o mercado global de eletrónica de consumo está a cair e a própria Apple tem registado quebras consecutivas nas receitas.
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Foi isso que aconteceu na última quinta-feira, quando a empresa apresentou os resultados do seu terceiro trimestre fiscal, findo a 1 de julho. As receitas caíram 1% para 81,8 mil milhões de dólares (74,2 mil milhões de euros), marcando o terceiro trimestre consecutivo de redução. Quase todas as linhas de produtos contraíram: o iPhone caiu 2% para 39,6 mil milhões de dólares, o Mac reduziu 7% para 6,8 mil milhões, e o iPad teve o maior tombo, -20% para 5,8 mil milhões.
Em contrapartida, o segmento de serviços brilhou com um aumento de 8% para 21,21 mil milhões de dólares, a categoria de wearables cresceu 2% e os lucros líquidos também subiram 2%.
“Os resultados não são maus”, disse ao Dinheiro Vivo Francisco Jerónimo, vice-presidente associado da divisão de dispositivos na IDC EMEA. “Considerando que esta é uma das maiores empresas do mundo, crescer o lucro face a uma queda relativamente pequena das vendas é bom resultado. Está acima daquilo que os analistas financeiros estavam à espera.”
Este é tradicionalmente um trimestre fraco para a Apple, porque antecede o lançamento do próximo iPhone, e insere-se agora num contexto de quebra mundial – a venda de smartphones recuou 8% e a de computadores 13%, segundo a IDC. Feitas as contas, disse Jerónimo, “a Apple está a ter um desempenho melhor que o da concorrência.”
Isso reflete-se na valorização extraordinária das suas ações, que lhe permitiu ser a primeira empresa da história a valer três biliões de dólares. “É notável porque acaba por ser um porto seguro para a maior parte dos investidores”, opinou Francisco Jerónimo. “O que a Apple tem vindo a demonstrar nas últimas décadas é efetivamente uma segurança de investimento muito forte”, sublinhou, “não só a nível dos resultados que apresenta, independentemente da performance do mercado, mas depois a nível do pagamento de dividendos que acontece quase todos os trimestres.”
Para o analista, há vários fatores que explicam isto. “A razão por que a Apple consegue sempre ter melhor performance em períodos de crise económica tem a ver com o poder da marca, o ecossistema e os programas oferecidos a nível de trade in [retomas] e financiamento, o que leva a que a pessoa não pague o preço total.”
Estes programas são cada vez mais utilizados, referiu o analista. “É uma coisa que notámos em qualquer país da Europa. O preço de um iPhone não é o preço que as pessoas acabam por pagar, fazem trade in ou pagam em prestações”, detalhou. Um dos efeitos disso é que os iPhones com preços mais altos estão a exibir uma melhor performance. “Notámos isso em todos os países da Europa, incluindo Portugal”, disse o analista. “A venda de produtos com preço mais alto tem melhor performance que os produtos deles com preços mais baixos.”
Isso ajuda a explicar um dos dados mais interessantes da apresentação de resultados, que apontam para um aumento das vendas da Apple na Europa e na China.
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“Na Europa, o que indica é que o mercado está a recuperar”, frisou Francisco Jerónimo. “A Apple veio demonstrar que as vendas estão a melhorar, em particular na Europa do Norte, onde as pessoas são menos afetadas por efeitos de inflação e custo de vida, porque o poder de compra é maior.”
Por outro lado, o efeito de ecossistema está a empurrar os serviços para cima, sendo esta uma categoria que tem vindo a aumentar o seu peso nas receitas globais da Apple – já pesa 26% do total. Francisco Jerónimo espera que isso continue nos próximos trimestres, à medida que a situação alivia.
“Estamos à espera de uma melhoria progressiva do mercado, não só de smartphones mas também de outras categorias”, indicou. “Também se espera que haja bastantes promoções na segunda metade do ano por parte dos canais e dos fabricantes”, indicou. Além disso, há um outro efeito no ar. “O que se começa a notar é que a grande maioria dos consumidores já interiorizou o aumento do custo de vida.”
iPhone 15: o que esperar?
Se a tradição for mantida, o próximo iPhone será apresentado na segunda terça-feira de setembro. A IDC não espera uma grande disrupção no produto, apenas melhorias incrementais. Francisco Jerónimo aponta para a transição para o carregador, que passará a ser USB Type-C, como a diferença mais notória.
“Mas mais uma vez, a Apple vai ter uma performance excecional com o iPhone 15”, frisou, “porque continua a trabalhar os ciclos de upgrade dos seus clientes.”
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