//Autocarros de aluguer ajudam transportes no regresso às aulas

Autocarros de aluguer ajudam transportes no regresso às aulas

As imagens dos autocarros sobrelotados na periferia de Lisboa marcaram os primeiros dias pós-desconfinamento. Mesmo com máscara, os passageiros estavam demasiado perto para cumprir as regras de distanciamento relativas à pandemia da covid-19. As transportadoras rodoviárias não querem repetir este cenário no regresso às aulas e aos locais de trabalho na próxima segunda. Os autocarros turísticos estão a postos para reforçar os transportes públicos e os acrescentos de oferta deverão ficar por aqui.

É precisamente na região da capital que há mais dificuldades em cumprir a lotação dos dois terços de passageiros e na próxima semana, já vão circular todos os autocarros para o serviço público, segundo a associação de transportadoras, a ANTROP.

Poderá juntar-se a esta frota um total de 200 autocarros de aluguer prontos para voltar à estrada já na esta semana e que poderão proporcionar mais 10 mil lugares sentados na hora de ponta.

“O governo e os operadores estão conscientes de que o mesmo número de autocarros não vai poder transportar os mesmos passageiros como acontecia antes da pandemia. Este défice pode ser regularizado desde que o governo, os municípios e as autoridades de transporte queiram, com a entrada no sistema dos veículos usados para outro tipo de atividade, só com lugares sentados”, explica ao Dinheiro Vivo o dirigente da ANTROP, Luís Cabaço Martins.

Esta medida retiraria os motoristas do lay-off convencional, onde se encontram há seis meses. Além disso, “permitiria poupanças significativas ao Estado”, que “poderia recuperar parte do financiamento necessário para esta medida” e “arrecadar mais receitas com o imposto sobre os combustíveis”, acrescenta Cabaço Martins. Fonte oficial do Ministério do Ambiente alega que não tem conhecimento desta proposta.

O autocarro foi o meio de transporte com maior taxa de ocupação nos últimos três meses, entre os 45% e 50% a nível nacional face ao período homólogo do ano passado. Nas áreas metropolitanas, a procura subiu para os 60%, ou seja, não muito longe do limite permitido por lei.

Dentro dos concelhos de Lisboa e do Porto também será possível contar com mais autocarros. A Carris está pronta para ter uma oferta “cerca de 10% acima” do que existia em setembro de 2019. Nos últimos três meses, os índices de procura na empresa de autocarros da capital variou entre os 50% (junho) e os 60% (agosto) No caso da STCP, serão postos a circular todos os autocarros, “à semelhança do que acontecia na fase pré-pandemia”.

O Metro de Lisboa também poderá passar mais vezes nas estações. A empresa está preparada para “aumentar a oferta ao longo do dia, na hora de ponta da parte da tarde, e à noite aos fins de semana”. O Metro de Lisboa diz que o índice de procura variou entre os 34% (junho) e os 46% (agosto).

Nos autocarros a sul do Tejo, a TST prevê aumentar a oferta nos próximos dias, embora sem indicar em que moldes. A transportadora do grupo Arriva pretende evitar o episódio do início de julho, quando foi obrigada a retomar algumas carreiras devido à violação das regras de ocupação e dos protestos dos utentes.

No Porto, entre as 6h e as 20h, nos dias úteis, cada viagem do metro será feita com veículos duplos, com 70 metros de comprimento, para evitar a sobrelotação. Na linha amarela, que vale mais de um terço da procura na rede, o metro vai circular a cada seis minutos (em vez de oito) nas horas de ponta; nas linhas azul e laranja, haverá uma frequência de 12 minutos. No início de setembro, a taxa de ocupação neste metro tem sido próxima dos 60%.

Também no Norte, a Transdev chama a atenção para a sustentabilidade das viagens, a única forma de “ter redes de transportes públicos que sirvam os interesses e necessidades das comunidades”. Com metade dos passageiros habituais, esta empresa admite colocar mais autocarros no terreno se houver financiamento.

Por exemplo, na região de Aveiro e na área metropolitana do Porto, “as autoridades de transportes optaram por colocar no terreno toda a oferta que existia antes da pandemia, encontrando as soluções de financiamento e de subvenção necessárias” até ao final deste ano. A empresa alerta, contudo, que, em janeiro, a questão do financiamento “voltará a colocar-se. Não será possível manter serviços com margens de 0%”.

Quem precisar de apanhar ou comboio ou barco não irá contar com grandes mudanças. Nos comboios, a CP lembra que desde o final de maio está a realizar todas as viagens programadas nos serviços suburbanos e regionais de norte a sul do país. Não tendo mais material, nem horários disponíveis, os utentes terão de contar com os horários que existem, tentando evitar as horas de ponta se tal for possível.

Por ser uma empresa pública, a CP nunca colocou trabalhadores em lay-off e terá de ser compensada pelo Estado pelos prejuízos causados pela pandemia, estimados em 150 milhões de euros. Durante o confinamento, a CP manteve 75% da oferta nos suburbanos e regionais, mas os índices de procura ficaram abaixo dos 25%. Nos últimos três meses, a taxa de ocupação “manteve-se abaixo dos 2/3 da lotação máxima”, embora se tenham registado taxas de ocupação superiores “em alguns comboios e horários de maior procura.

Nos barcos sobre o Tejo, a Transtejo/Soflusa garante que vai manter os horários habituais, repostos entre maio e julho. A empresa fluvial assegura que tem cumprido as regras de lotação dos passageiros.

Difícil expectativa

Nenhuma empresa de transportes arrisca antecipar a procura que possa haver até ao final deste ano, até porque não são conhecidos os detalhes das regras de desfasamento de horários que serão aplicadas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Tudo dependerá ainda da concertação com os parceiros sociais.

O Metro de Lisboa, antecipa um “ligeiro aumento da procura” nos próximos dois meses, podendo atingir 60% de ocupação, quando comparado com o mesmo período do ano passado. Ainda na capital, a Carris antecipa mais passageiros por causa do regresso às aulas, mas ainda distante dos níveis pré-pandemia. A Transtejo/Soflusa admite uma subida residual de passageiros.

A ANTROP estima que os índices de procura pelos autocarros possam variar entre 80% e 85%, nas áreas metropolitanas, o que justifica a utilização de mais veículos para cumprir as regras de lotação. Luís Cabaço Martins, ainda assim, reconhece que haverá sempre “alguma perda de procura” face ao período pré-pandemia.

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