Partilhareste artigo
Menos de 15 minutos demora um operador da Autoeuropa, em Palmela, a colocar os óculos de realidade aumentada e a aprender a utilizar a plataforma que acrescenta um contexto digital ao seu trabalho em chão de fábrica. Parece simples, mas exige proficiência para tirar partido da tecnologia da KIT-AR, que apoia operações de produção e de controlo de qualidade, com instruções passo a passo dos procedimentos a ter em conta em cada uma das etapas do processo, evitando erros dos trabalhadores, num esforço de resiliência da indústria nacional.
Relacionados
“O projeto DEO [Digital Enhanced Operator, ou, em português, Operador Digital Avançado] deu aos trabalhadores [da Autoeuropa] acesso a uma solução que os acompanha e os direciona no chão de fábrica, o que é cada vez mais importante com a crescente complexidade da produção na indústria automóvel”, não impondo por isso uma nova forma de trabalho, como explica ao Dinheiro Vivo Manuel Oliveira, CEO da KIT-AR. “Esta solução permite que o trabalhador identifique e execute os procedimentos de forma mais assertiva, reduzindo tempos não produtivos e sem comprometer o tempo do ciclo de produção (que neste caso é muito rápido).”
A utilização da realidade aumentada permite ao trabalhador da fábrica da Volkswagen visualizar informação digital que se sobrepõe ao contexto da sua estação de trabalho, sem que haja uma substituição. “O contexto do DEO é o do trabalhador no chão de fábrica, onde existe a necessidade de manter as mãos livres, daí a nossa solução ser acessível através de headsets (ou HMDs, Head Mounted Displays)”, prossegue.
“O principal objetivo foi demonstrar que, de facto, é possível aumentar digitalmente as competências do trabalhador de chão de fábrica no quadro das necessidades de um cenário real de produção. Os casos de aplicação mais visíveis de realidade aumentada na indústria são de formação e manutenção. A adoção desta tecnologia em linhas de produção é uma mudança transformadora”, resume Manuel Oliveira. Com este objetivo procuraram alcançar muitos outros benefícios, como a standardização de processos, a rastreabilidade de erros e empowerment dos operadores no chão de fábrica para serem mais eficientes e assertivos na tomada de decisão.
834 milhões investidos
Ao longo de dois anos (entre julho de 2021 e 30 de junho deste ano), o projeto DEO juntou a Autoeuropa, KIT-AR e o INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, num consórcio “com experiência, conhecimento e competência, capaz de desenvolver, testar e experienciar tecnologias emergentes da indústria 4.0 em contexto industrial”, explica Filipa Rente Ramalho, investigadora do INESC TEC.
Subscrever newsletter
“Do ponto de vista geral, o projeto DEO procurou demonstrar que a introdução dos óculos de realidade aumentada pode ser útil tanto para a equipa de gestão como para os operadores ao nível do chão de fábrica”, contextualiza a investigadora. “A nível de gestão, a introdução desta tecnologia potencia a standardização dos processos produtivos e a rastreabilidade do produto ao longo da cadeia de valor. Por outro lado, ao nível dos operadores, a tecnologia de AR [realidade aumentada] permite entregar informação rica e instruções aos operadores, de forma contextualizada, que irá acelerar a tomada de decisão e reduzir a incerteza para a execução de tarefas complexas em produtos igualmente complexos.”
Um operador que usa óculos de realidade aumentada tem a possibilidade de visualizar informação, como objetos, demarcações, sinais, setas, texto, animações, vídeo ou imagens, posicionada de forma integrada com os objetos reais que estão à sua frente. “Esta tecnologia surge, assim, como um elemento forte de ligação do operador com o contexto e situação onde este se insere e opera em real time, nomeadamente como um ponto de acesso a informação e conhecimento relevantes para a situação e contexto do momento”, explica Filipa Rente Ramalho. “Quando bem implementado, envolvendo todos os stakeholders, esta tecnologia potencia a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, a diminuição de riscos de acidentes e a redução de retrabalho, com o objetivo de motivar os trabalhadores e atrair mão-de-obra especializada para o chão de fábrica.”
Com o sucesso do projeto, esta será uma nova realidade na fábrica de Palmela. “Após provarmos o conceito, estamos neste momento a preparar a continuidade do projeto nas linhas de produção da Volkswagen Autoeuropa”, avança o CEO da KIT-AR, que está neste momento a avaliar o impacto da sua plataforma em várias linhas de produção em diversos países, “com resultados muito bons na redução de erros humanos e aumento da qualidade da produção”.
Deixe um comentário