//Aviação. De 918 milhões de toneladas de CO2 a emissões zero

Aviação. De 918 milhões de toneladas de CO2 a emissões zero

O anúncio chegou de manhã e foi notícia em todo o mundo: O voo EJU854, entre Berlim e Viana, foi o primeiro a ser operado em neutralidade carbónica. A rota marcou uma nova fase para a companhia europeia easyJet, que a operou, e para todo o setor que tenta atingir metas cada vez mais verdes.

Desde 19 de novembro, e deste voo, que a easyJet é a primeira companhia de aviação no mundo a operar com um impacto líquido de zero emissões de carbono. Isto é, é a primeira empresa aérea a compensar todas a emissões de carbono que produz com medidas pró-ambiente.

O caminho não é fácil. Um estudo do Council on Clean Transportation (ICCT), organismo que revelou o escândalo do Diesel Gate que envolveu a fabricante automóvel Volkswagen, mostra que as emissões de CO2 aumentaram cerca de 32% entre 2013 e 2018. Isto é, 70% mais depressa do que a ICAO, Organização Internacional da Aviação Civil (ICAO) previa.

O ICCT estima que o transporte aéreo de pessoas e carga tenha libertado 918 milhões de toneladas de CO2 em 2018 – um cidadão de um país desenvolvido deve produzir cerca de 10 toneladas de emissões por ano, segundo a Terrapass, que disponibiliza uma calculadora para a pegada ambiental. Ou seja: a aviação representa cerca de 2,5% das emissões de carbono mundiais.

Os voos domésticos nos EUA e China valem um quarto das emissões da aviação. E Estados Unidos, Europa e China representam 55% das emissões libertadas pelo setor. Só o Reino Unido, forte hub europeu, é responsável por 4% deste valor.

Mas num quadro mais alargado há melhorias. A IATA estima que as emissões contabilizadas na medida que avalia o passageiro por quilómetro percorrido tenham caído 50% desde 1990, graças a modelos de avião mais poupados e leves.

A própria easyJet revelou recentemente que as suas emissões, nesta medida, caíram 33,67% desde o ano 2000, uma diminuição que foi conseguida através da introdução de tapetes, trolleys ou assentos mais leves, taxying com um único motor ou pela remoção dos manuais de papel dos cockpits dos aviões.

Há, no entanto, cada vez mais metas a cumprir e, enquanto não se consegue voar com impacto zero, os objetivos passam pela compra de ‘créditos’ que se fazem através de programas de compensação.

A neutralidade carbónica é, assim, uma figura de compromisso enquanto o setor aeronáutico tenta dar saltos maiores – as fabricantes estão cada vez mais empenhadas em desenvolver modelos de aviação híbridos; já há empresas a trabalharem em projetos elétricos e há ainda o bio-fuel que, apesar de verde, é um recurso muito escasso para as necessidades do setor.

No caso da easyJet, a companhia anunciou que vai investir cerca de 30 milhões de euros em 2020 para comprar 8,5 milhões de toneladas de créditos de carbono de modo a neutralizar o seu impacto.

A empresa fez uma parceria com alguns especialistas ambientais para o desenvolvimento iniciativas de compensação de emissões de carbono, através da conservação florestal, aposta na energia solar e na recolha de água potável em regiões da Índia, África do Sul ou América do Sul.

Há vários outros exemplos. O Grupo IAG, dono da British Airways e Iberia, estabeleceu a meta da neutralidade carbónica em 2050, sendo que o compromisso assumido com a ONU e perante o projeto CORSIA começa já em 2020 com a redução de emissões nos voos domésticos dentro do Reino Unido.

A Air France também já anunciou que a partir de janeiro de 2020 vai anular a totalidade das suas emissões de voos domésticos e, até 2030, reduzir as emissões de CO2 em 50%.

A portuguesa TAP também tem em prática um plano de compensação de emissões de dióxido de carbono com o apoio de projetos no Pará, Mato Grosso, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no Brasil. O programa da companhia portuguesa assenta não só na área da produção de energia hidroelétrica, como biomassa ou reflorestação.

A transportadora tem como objetivos reduzir em 50% as emissões de CO2 até 2050, face aos valores de 2005 e melhorar a eficiência energética em 1,5% até 2020 e o desenho deste programa até lhe valeu um prémio, ainda em 2010, atribuído pela UNESCO e União Internacional de Ciências Geológicas. “Orgulhamo-nos de ter sido a primeira companhia aérea do mundo a lançar o Programa de Compensação de Emissões de CO2”, refere no seu site.

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