Partilhareste artigo
Obrigada a uma aterragem forçada, a descolagem da aviação civil está a decorrer a um ritmo muito lento. As previsões dos organismos internacionais estimam que apenas por volta de 2024 o transporte de passageiros possa estar em níveis de 2019. Para minimizar os efeitos da aterragem de emergência a que foi forçada, e que manteve grande parte das frotas em terra no ano passado, e para lidar com os níveis baixos de procura, muitas companhias aéreas reestruturaram as suas operações e diminuíram o número de funcionários, entre eles pilotos. Aos poucos e poucos, o número de voos e as frequências semanais vão aumentando, o que em muitos casos pode traduzir-se numa crescente necessidade de pilotos.
Um estudo da consultora norte-americana Oliver Wyman aponta que, no próximo ano, devem faltar mais de 790 pilotos às companhias aéreas europeias, uma tendência que deverá agravar-se em 2023, ano em que a consultora considera que vão faltar 2300 pilotos às transportadoras aéreas do Velho Continente.
A crise foi transversal a todo o setor e regiões. Em novembro do ano passado, na Europa, e de acordo com dados citados pela BBC, existiam cerca de dez mil pilotos da aviação comercial desempregados. O processo de vacinação e, consequentemente a diminuição das infeções graves devido ao novo coronavírus e receios de viajar, deverá levar a uma recuperação do mercado, e as transportadoras vão precisar de mais profissionais ao longo da década. A consultora admite que em 2029 a aviação europeia possa precisar de 3900 pilotos. A escassez destes profissionais deverá acontecer à escala planetária, mas a verdade é que a Europa será a terceira região do mundo menos afetada pela falta de pilotos de aviação civil. Contas da consultora indicam que, no final da década, haverá uma carência de 22.670 pilotos na região da Ásia/Pacífico, 20.600 na América do Norte, e 12.400 no Médio Oriente.
“A crise da covid-19 fez com que muitas companhias aéreas interrompessem os programas de treino para novos pilotos, em muitos casos devido aos bancos terem cortado o financiamento para essas ações. E, embora se espere que muitos dos pilotos dispensados durante a pandemia voltem aos seus cargos, entre 25.000 e 35.000 atuais e futuros profissionais poderão optar por alternativas de carreira na próxima década”, assume a Oliver Wyman.
Subscrever newsletter
2020, o pior ano
Já era praticamente certo que o ano passado tinha sido o pior de sempre para a aviação. Agora, os dados estatísticos da IATA – revelados no início de agosto – confirmam o cenário. Em 2020, 1,8 mil milhões de passageiros voaram, um número que representa uma queda de mais de 60% face a 2019, quando mais de 4,5 mil milhões de pessoas usaram o transporte aéreo.
Com as fortes restrições à circulação e com o encerramento, em muitos casos, de fronteiras, os dados da IATA mostram sem surpresas que, à escala global, os voos internacionais foram mais penalizados do que os voos domésticos. A procura por voos internacionais caiu quase 76% em 2020 face ao ano anterior enquanto a procura por voos domésticos recuou quase 49% face a 2019.
Estimativas da IATA – organização que representa 290 companhias aéreas, responsáveis por 82% do tráfego aéreo mundial – indicam que as receitas totais do setor da aviação civil decresceram em 69% no ano passado para 189 mil milhões de dólares (cerca de 159 mil milhões de euros).
Willie Walsh, diretor-geral da IATA, assume que “2020 foi um ano que todos gostaríamos de esquecer”. Mas os dados estatísticos “mostram uma história incrível de perseverança. No momento mais profundo da crise, em abril de 2020, 66% da frota do transporte aéreo comercial do mundo estava em terra, na medida em que os governos encerraram fronteiras ou aplicaram quarentenas. Um milhão de empregos desapareceram”.
O responsável, em comunicado, não esconde ainda que os “prejuízos anuais do setor totalizaram 126 mil milhões de dólares [mais de 106 mil milhões de euros]”.
É ainda prematuro traçar um retrato do ano de 2021 para o transporte aéreo, ainda assim, é possível antecipar que a recuperação voa lentamente. Os últimos dados da IATA são relativos ao mês de junho e demonstram que a procura pelo transporte aéreo nesse mês ficou 60% abaixo do registado em 2019. E os voos domésticos, apesar de terem recuado face ao nível pré-pandémico, tiveram melhor desempenho que os internacionais.
“Assistimos a um movimento na direção certa, particularmente em alguns mercados domésticos principais”, assume Willie Walsh. Contudo, “a situação das viagens internacionais não está próxima do nível que tem de estar. Junho deveria ser o começo da época alta, mas as companhias aéreas transportaram apenas 20%” do que registaram em 2019. “Isso não é recuperação; é a continuação da crise causada pela inação dos governos”, remata o diretor-geral da IATA.
Deixe um comentário