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A Amazon Web Services (AWS), o braço armado da Amazon para o negócios dos dados e cloud (nuvem), está a desenvolver projetos no setor aeroespacial. A AWS procura, por um lado, tornar mais resilientes e fiáveis as plataformas que alojam gigantescas quantidades de dados em cloud, ao mesmo tempo que acelera a inovação espacial fornecendo “nuvens de dados”. Por outro, tem em curso um projeto de criação de uma rede de satélites para a internet de banda larga. Neste universo, ainda que a operação da AWS seja à escala mundial, Portugal poderá sair a ganhar.
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“Portugal tem um setor aeroespacial forte e em crescimento que, obviamente, alinha-se com o que estamos a tentar alcançar na AWS”, afirma ao Dinheiro Vivo Peter Marquez, diretor global para a política espacial da AWS.
A AWS quer afirmar-se como um grande player na indústria aeroespacial ao aliar a tecnologia cloud às potencialidades que as comunicações via satélite oferecem. Como pode Portugal beneficiar disso? Marquez não revela se os projetos que a AWS está a desenvolver podem passar pelo país, mas explica, em traços gerais, que a cloud “é um fator essencial para o progresso futuro e para novos avanços” no setor aeroespacial. Permite às organizações do setor acelerar projetos e definir “a forma como a tecnologia espacial” pode ter impacto no planeta, tendo em conta que a tecnologia cloud “permite maior interoperabilidade, maior eficiência e custos reduzidos”, o que pode “derrubar barreiras à inovação”.
“A indústria de satélites geoespaciais [por exemplo] é uma forma poderosa de monitorizar, analisar e comunicar informações em tempo quase real sobre as condições [que estão] em mudança na Terra”, realça. Neste ponto, o gestor da AWS sublinha que “os recursos naturais, a agricultura e as pescas estão entre os maiores setores económicos de Portugal” e, por isso, “a utilização de dados espaciais pode aumentar a eficiência, a sustentabilidade e o rendimento destes setores”.
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“Todos procuramos combater os efeitos das alterações climáticas no terreno”, diz, notando que “o investimento em serviços espaciais [em vários países] vai continuar a aumentar”. O diretor global para políticas espaciais da AWS defende que “a utilização do espaço para compreender as catástrofes naturais e as alterações ambientais está a tornar-se cada vez mais importante para os governos, e em particular para a União Europeia [UE], que definiu o espaço como uma componente fundamental de um futuro ecológico”.
“Utilizemos a agricultura como exemplo do que o AWS faz no espaço. Um satélite capta uma imagem de uma quinta na Terra. Uma ferramenta de machine learning da AWS, a bordo do satélite, determina automaticamente as imagens mais úteis e o satélite liga a imagem diretamente a uma estação terrestre da AWS. Aí transferem-se os dados, através da cloud, para uma empresa que estuda os dados utilizando as nossas capacidades de computação. Através da AWS, o diagnóstico chega ao agricultor que passa a saber quais as áreas específicas da exploração agrícola necessitam de mais água”, descreve, notando que um processo destes, quando implementado, corre em muito pouco tempo.
O Espaço da AWS
Em julho de 2020, um mês antes de Peter Marquez chegar à AWS, a o grupo Amazon, liderado por Jeff Bezos anunciou o investimento de dez mil milhões de dólares numa rede de internet por satélite – uma rede que, prevê-se, competirá com o Starlink de Elon Musk (que está presente em Portugal). O projeto Kuiper deverá materializar-se no lançamento de mais de 3200 satélites em órbita baixa.
Sobre este tema, Peter Marquez nada diz. Apenas salienta que o objetivo da AWS na indústria aeroespacial é apoiar empresas privadas e os governos a “construir satélites, realizar operações espaciais e a lançar e desenvolver novas tecnologias de exploração espacial”, fornecendo plataformas cloud “mais flexíveis, escaláveis e económicas”, para “impulsionar” a inovação e que permitam “transformar” dados – no futuro dados espaciais – em “informações úteis.
De acordo com o diretor global de políticas espaciais, atualmente, 7500 agências governamentais, mais de 14 mil instituições académicas e mais de 35 mil organizações usam a cloud da AWS, em 180 países. Entre estes clientes da AWS encontra-se a NASA e a missão Perseverance, a Agência Espacial Europeia (ESA) e o projeto WorldCover, o projeto KhalifaSat do Centro Espacial Muhammed Bin Rashid, bem como o Orbital Reef da Blue Origin/Sierra Space, que ainda está em desenvolvimento.
“Não há dúvida que o espaço oferece uma oportunidade emocionante para alargar os limites do que podemos alcançar. À medida que trabalhamos de forma mais eficaz no espaço, melhoramos a forma como vivemos e trabalhamos, aqui, na Terra”, argumenta o especialista da AWS.
A AWS é um dos maiores fornecedores mundiais de plataformas cloud onde correm enormes quantidades de dados. Com a crescente necessidade de preservar a fiabilidade das comunicações e de aumentar a capacidade de alojar os dados das mesmas, empresas como a AWS estão a virar-se para o espaço e para o potencial dos satélites enquanto complementos aos servidores na Terra. É neste quadro que entra Peter Marquez, contratado pela holding da Amazon em 2020. Antes da AWS, Marquez ganhou notoriedade quando, entre 2004 e 2010 trabalhou para os governos norte-americanos de Barack Obama e George W. Bush, chegando a ser diretor de Política Espacial na Casa Branca – fez parte da equipa de especialistas que defendia a cooperação internacional para resolver a questão do aumento de lixo espacial e para desencorajar o uso de armas baseadas no espaço.
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