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Prevê-se um ano difícil para o emprego no setor da banca. Em 2021 deverão abandonar o setor entre 2500 e 3000 trabalhadores, segundo cálculos do DN com base em resultados e anúncios de bancos a operar em Portugal. Trata-se de mais de 6% da força de trabalho do setor que, segundo dados da Associação Portuguesa de Bancos, rondava os 40500 trabalhadores no final de 2020.
No primeiro semestre deste ano, saíram 586 trabalhadores de seis grandes bancos: Caixa Geral de Depósitos, Santander Totta, BCP, Novo Banco, Banco BPI e Banco Montepio.Ao todo, desde o início de 2021, estes bancos fecharam 168 balcões bancários no país.
Mas bancos e sindicatos já alertaram que as saídas de trabalhadores vão acelerar na segunda metade do ano. O BCP anunciou um programa que envolve a saída de entre 800 e 900 trabalhadores do banco. No caso do Santander serão mais de 600 a deixar o banco em breve. estes dois bancos admitem mesmo o recurso ao despedimento coletivo, caso não consigam chegar a acordo para a saída de um número mínimo de trabalhadores. Também o Montepio estará a negociar a saída de colaboradores, podendo dispensar cerca de 100 este ano, segundo previsões de sindicatos, que esperam que do Novo Banco também possam sair cerca de uma centena no segundo semestre.
Os trabalhadores e os sindicatos têm contestado os planos de reestruturação em marcha em alguns bancos. Sindicalistas e banqueiros foram recentemente chamados ao parlamento para detalhar o que se passa com as saídas de trabalhadores da banca.
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Representantes dos diversos sindicatos dos bancários reafirmaram aos deputados, em audição no parlamento, que o setor vive dias de “terror” e de “assédio” sobre os trabalhadores que estão a ser alvo de processos de despedimento.
Em causa, estão sobretudo as saídas em curso no Millennium bcp e Santander mas também foram relatadas situações na Caixa Geral de Depósitos.
Os sindicatos voltaram a denunciar a suspeita de que existe concertação dos bancos na forma como estão alegadamente a pressionar os seus funcionários selecionados para deixarem as instituições.
O Sindicato dos Bancários do Centro disse estranhar que entre os vários bancos que estão a dispensar trabalhadores, os valores compensatórios oferecidos sejam iguais e que as cartas enviadas aos trabalhadores sejam “idênticas”, entre outras situações.
Ouvidos também no parlamento, na Comissão de Trabalho e Segurança Social, os presidentes executivos do BCP e do Santander negaram as acusações que recaiem sobre os bancos.
O presidente executivo do Millennium bcp, Miguel Maya, rejeitou a existência de pressões sobre trabalhadores do banco, nomeadamente assédio ou chantagem, no âmbito do processo de redução de pessoal que está em curso. “Não vai haver nenhum desrespeito pela lei, nenhuma ilegalidade”, afirmou Miguel Maya em resposta a questões dos deputados. “Seria inaceitável qualquer violação dos direitos (dos trabalhadores). “Nem assédio nem chantagem”, garantiu.
No caso do CEO do Santander em Portugal, Pedro Castro e Almeida disse no parlamento que está na mesa a possibilidade de o banco avançar com um despedimento coletivo, mas afastou que haja pressões e assédio junto de trabalhadores para deixarem o banco. Segundo os representantes dos trabalhadores, o banco tem exercido pressões sobre trabalhadores para saírem da instituição. Denunciaram ainda que o banco tem alegadamente estado a substituir trabalhadores pela contratação de serviços externos, além de haver alegadas situações de discriminação sobre trabalhadoras mulheres. “Todas estas afirmações são falsas e sem fundamento”, afirmou o CEO do Santander em Portugal.
O Santander anunciou no final de junho que iria avançar com um programa de reestruturação que envolve a saída de 685 trabalhadores.
Os sindicatos dos bancários garantem que não vão baixar os braços e preparam a manutenção de ações para travar as saídas em curso no setor.
Ouvidos no parlamento, os sindicatos pediram a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho e também da Autoridade da Concorrência, para que analise aquilo que concideram ser uma ação concertada entre bancos para forçar a saída de trabalhadores. Os sindicatos também pediram audiências com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, com o primeiro-ministro e com a ministra do Trabalho.
As saídas de trabalhadores da banca ocorre num ambiente de aceleração da digitalização no setor, em consequência das medidas impostas pelo governo no âmbito da gestão da epidemia que começou em março de 2020.
No caso dos resultados dos bancos, no primeiro semestre de 2021, seis dos principais bancos registaram lucros de 677 milhões de euros, que compara com prejuízos de 65 milhões de euros – devido ao resultado negativo de 555 milhões de euros registado pelo Novo Banco na primeira metade do ano passado. Desde janeiro deste ano, o BCP e o Santander foram os únicos a registar um recuo nos lucros de 64 milhões de euros e 92 milhões de euros, respetivamente.
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