//BCP sem exposição “material”  à Rússia e Ucrânia, garante CEO

BCP sem exposição “material”  à Rússia e Ucrânia, garante CEO

O presidente executivo do Banco Comercial Português (BCP), Miguel Maya, aproveitou ontem a conferência de apresentação dos resultados de 2021 para tranquilizar clientes e investidores sobre a exposição do banco à Rússia e Ucrânia. A Ucrânia foi invadida pela superpotência liderada por Vladimir Putin, que está a ser alvo de sanções internacionais.

O CEO do BCP garantiu que, “do ponto de vista do risco de crédito, não há motivo para preocupação”. Miguel Maya explicou que a instituição não tem dívida soberana russa ou ucraniana, nem dívida relacionada com empresas, sendo a exposição “imaterial”. O banco também não tem dívida sueca ou finlandesa – países já visados pela Rússia, na sequência do conflito na Ucrânia.
“Estamos numa situação confortável”, assegurou, afastando possíveis “impactos” específicos na operação do BCP, uma vez que o banco não terá uma exposição “direta” e “material”. E reiterou não existirem “relações relevantes” do banco com a Ucrânia e a Rússia. Mesmo assim, o banco já implementou cem medidas para restringir a atividade com a Rússia, incluindo restrições nas relações com bancos russos.

Numa ótica macroeconómica, Miguel Maya chamou a atenção que a guerra pode ter efeitos económicos à escala global, europeia e, por arrasto, sobre economia portuguesa – embora tenha referido que a economia nacional não tem ligações relevantes às economias ucraniana e russa. Nesse sentido, perante um agravamento do cenário macroeconómico, o gestor admitiu que o banco também possa sentir consequências.

Miguel Maya afirmou, ainda assim, que “ainda é cedo para se ter certezas” e que o momento exige “enorme prudência”. Por isso, assegurou que o banco está “atento aos diversos cenários”.

Cartel: não houve “intenção” de prejudicar clientes”

O presidente executivo do BCP também se pronunciou sobre o processo da Autoridade da Concorrência, que acusa os principais bancos de cartel entre 2002 e 2013. Miguel Maya referiu-se ao caso como uma injustiça. Esclareceu que “houve troca de informação, mas nunca houve nenhuma intenção que essa troca de informação tivesse como objetivo prejudicar os clientes”.

O CEO do BCP argumentou que o que aconteceu “foi um grande fenómeno de concorrência”. A prova, realçou, está no facto de que “os bancos estavam tão agressivos que ainda hoje estão a pagar por terem concedidos empréstimos com tais spreads”. “Nunca recebemos uma única reclamação dos clientes sobre este assunto”, disse, defendendo que isso “é a prova do algodão” de que os bancos envolvidos não procuraram lesar os clientes. “Quando há crise enforcam-se sempre os banqueiros”, criticou.

Em causa estão coimas de 225 milhões de euros a 11 bancos por partilha de informação privilegiada.

Banco na Polónia “não está à venda”

O BCP, com operação também na Polónia e Moçambique, viu os lucros quebrarem 24,6% para 138,1 milhões de euros em 2021, em grande parte devido a encargos de 532,6 milhões de euros associados à carteira de créditos em francos suíços concedidos pela subsidiária Bank Millennium. Em causa estão riscos legais associados à carteira de créditos hipotecários concedidos em moeda estrangeira (totalizam 2305,2 milhões de zlótis), depois da justiça polaca, em 2019, ter determinado que os clientes podem exigir a conversão dos créditos para a moeda local, obriga o banco a criar imparidades.

Questionado sobre o processo que ainda decorre e se o BCP não considera desfazer-se do Bank Millennium, Miguel Maya esclareceu que “não há soluções simples para temas complexos”. A ideia é gerir esta pasta com “visão de longo prazo”, procurando uma solução “equilibrada”, mas o gestor admitiu que tal é “difícil”. Quanto ao facto da subsidiária polaca ser hoje um peso nas contas do grupo, o banqueiro assegurou que o Bank Millennium “não está à venda”.