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O BCP não antecipa problemas no incumprimento por parte das famílias e empresas nos próximos tempos devido à subida das taxas de juro, mas mostrou-se preocupado com o aumento dos custos da energia alertando que pode mesmo colocar em causa a sobrevivência de algumas empresas. Sobre o impacto da guerra e alta inflação na evolução da economia portuguesa, o presidente executivo do banco considera que a situação é “preocupante”, mas não “dramática”.
“Não perspectivo nos próximos dois anos nenhuma subida de empréstimos em incumprimento com base no aumento de custos financeiros relacionados o aumento das taxas de juro”, começou por defender Miguel Maya na conferência de imprensa dos resultados do primeiro semestre na quarta-feira. Para o CEO do BCP, a grande preocupação deve estar centrada em “como é que num contexto de grande aumento dos custos de energia a sociedade portuguesa consegue defender as empresas”, alertou. O responsável alertou que o disparo dos preços da eletricidade e do gás podem levar à saida de mercado empresas competitivas, principalmente as que estão muito dependentes dos custos energéticos.
Questionado sobre as perspetivas para a evolução da economia portuguesa, o impacto da guerra e da alta inflação, Miguel Maya sublinhou que “o ambiente é desafiante e Portugal não é alheio ao que se passa no mundo”. O gestor confessou que continua a estar preocupado com esta situação, principalmente na vertente humana. E sublinhou que a parte económica também é “preocupante, mas não é dramática”, não antevendo uma situação como se viveu na crise anterior. Voltando a referir-se aos receios do aumento dos níveis de incumprimento, o CEO do BCP relembrou o nível das poupanças dos portugueses têm batido recordes. Por isso, mostra-se tranquilo e optimista em relação ao futuro. “As perspectivas são de um arrefecimento da economia, por isso, devermos ser todos mais prudentes mas não ficar com “mood” muito negativo”.
Lucros caídos do céu?
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No que diz respeito ao ambiente fiscal, as palavras de Miguel Maya não são tão positivas. Instado a comentar sobre a criação de um novo imposto sobre os lucros caídos do céu [windfall taxes] do setor da banca e energia, à semelhança de Espanha, o gestor queixou-se da atual carga fiscal e das contribuições extraordinárias que já paga. “Na última década temos tido impostos pesadíssimos. As contribuições nacionais foram superiores a 60 milhões de euros. É um fardo insuportável e mina a competitividade do banco quando falamos na zona euro”. Por estes motivos, rejeita mais contribuições. “Não sei o que são para o BCP os proveitos caídos do céu, porque estamos com a rendibilidade do capital abaixo dos 3% e manifestamente insuficiente”.
Lucro sextuplica
O banco apresentou um lucro de 74,5 milhões de euros na primeira metade do ano, cerca de seis vezes mais que os 12,3 milhões reportados no mesmo período de 2021. Os resultados beneficiaram de um aumento da margem financeira, subidas das comissões e controlo de custos. Naquele primeiro indicador – que mede a diferença dos juros que o banco paga para se financiar e cobra nos empréstimos que concede – houve um aumento de 28,6% para 985,2 milhões de euros. Já as receitas com comissões cresceram 9,8% para 387,6 milhões de euros.
Na operação em Portugal, o banco teve um lucro de 174,5 milhões de euros, mais 63,1% face ao período homólogo, o que compensou as perdas registadas na operação da Polónia. O BCP teve encargos extraordinários com o Bank Millennium na Polónia, do qual detém 50,1%, de 257,8 milhões de euros relacionados com as carteiras de crédito à habitação denominadas em francos suíços. Sem este feito, o lucro do grupo teria sido de 200,9 milhões no primeiro semestre.
Apesar das perdas e da situação desafiante do mercado polaco, Miguel Maya garantiu que não estão a planear “nenhuma operação de aumento de capital”. Assegurou que o plano de reestruturação que está a ser posto em marcha no Bank Millennium não vai exigir dinheiro da casa-mãe, assegurou o gestor.
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