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O primeiro semestre foi extremamente positivo e permitiu ultrapassar o melhor ano de sempre das exportações de calçado, o de 2017, mas julho já trouxe nuvens no horizonte. Não admira, as entregas realizadas no primeiro semestre são maioritariamente encomendas feitas no arranque do ano, ainda antes do início da guerra na Ucrânia. Falta saber como é que os mercados vão reagir agora, com as empresas a apresentarem as suas coleções para a primavera-verão de 2023, à incerteza gerada pelo conflito, mas também pelo disparar das taxas de juro e da inflação. Com menor poder de compra, é de esperar que o boom de consumo que se seguiu ao abrandar da pandemia possa, agora, esfriar .
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José Pontes, da vimaranense Cruz de Pedra, disse ao ministro da Economia, que visitou as 41 empresas portuguesas na feira da Micam, em Milão, que o ano “tem estado a correr bem” e que as expectativas “têm sido boas”. No entanto, este responsável, que dá emprego a 80 trabalhadores e que faturou, em 2021, sete milhões de euros, um valor ainda abaixo do período pré-pandemia, reconhece que o setor se debate com “algumas dificuldades”, como a falta de mão-de-obra ou o aumento dos custos das matérias-primas. “Tem sido uma incerteza muito grande ao nível dos preços”, disse ao governante.
O crescimento de 25% nas exportações, este ano, dá gás à sua confiança no futuro mais próximo, mas a incerteza e a quebra drástica nos índices de confiança geram grande preocupação. “O consumo, se calhar, vai baixar nos setores do calçado e do têxtil”, admite.
A grande preocupação do setor é não se mostrar demasiado pessimista – ou realista, dirão alguns – com medo que a banca feche a torneira ao crédito. Joaquim Moreira, fundador da Felmini, não escondeu a preocupação. “Não estamos aqui com aquela felicidade que tínhamos há meia dúzia de anos”, disse ao ministro, apesar de reconhecer que, para a empresas, “as exportações estão a correr bem”.
Eduardo Avelar, da Ferreira Avelar & Irmão, de Fiães, Santa Maria da Feira, detentora da marca Profession Bottier, diz que o ano foi “bom”, mas de “muito esforço”. As expectativas para a feira são “boas” – ou pelo menos positivas, precisa – o que levou Costa Silva admitir que, embora sejam “tempos difíceis”, o país espera “um bom trabalho da vossa parte”, disse.
Investimentos adiado
De Pedro Ferreira, da Centenário, ouviu mais uma vez a preocupação com a dificuldade em contratar trabalhadores. Uma questão que se arrasta já há vários anos, levando mesmo a empresa de Cucujães, Oliveira de Azeméis, a adiar, sine dia, um investimento de aproximadamente 1,5 milhões de euros que tinha previsto, desde 2015, para a ampliação de instalações. A falta de mão-de-obra e a dificuldade na obtenção de matérias-primas em tempo útil levou a atrasos na entrega das encomendas. “Regressamos, esta segunda-feira, ao trabalho, mas ainda temos coisas para entregar que não conseguimos terminar antes de férias”, explica este responsável. E não há, ainda, garantias de que as encomendas necessárias para garantir trabalho até ao final do ano cheguem efetivamente.
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O disparar os preços das matérias-primas é outra dor de cabeça. “Todas as semanas recebemos emails de fornecedores a informarem dos aumentos. Nós bem tentamos repercuti-los no preço final, mas não é fácil. É uma guerra”, reconhece o primo, Hugo Ferreira.
Portugal marcou presença na Micam, a mais relevante feira mundial do calçado, com 41 empresas. E se é verdade que houve pesos-pesados da indústria, como as marcas Luís Onofre, Miguel Vieira ou a Lemon Jelly, que deixaram de ir ao evento, preferindo apostar em ações de promoção digital, houve novas marcas na Micam à procura de um lugar no mundo dos sapatos, como a Manuel Costa, Dakar Shoes e Hang Loose.
A jornalista viajou para Milão a convite da APICCAPS
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