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O contágio da covid-19 à economia nacional começou a fazer sentir-se logo no final do primeiro trimestre do ano, tendo alastrado aos setores de atividade a ritmos diferentes. À crise sanitária somou-se uma crise económica. Mas, ao contrário do que aconteceu no início da década, aquando da anterior crise, encontrou empresas mais resistentes.
O governador do Banco de Portugal (BdP) deixou elogios à transformação que o tecido empresarial não financeiro fez, apesar de não esconder que há áreas que enfrentam agora um travão a fundo. Uma travagem que, acredita, será temporária se a capacidade produtiva não for destruída.
“As empresas não financeiras representam um universo de mais de um milhão e trezentas mil empresas. Desde o ponto mais baixo da crise de dívida soberana (2013 para a generalidade dos indicadores), este enorme universo produtivo teve uma transformação única e em si mesmo inédita. Inédita porque acrescentou sustentabilidade a setores produtivos que muitos diziam que não conseguiriam promover a convergência da economia portuguesa com as médias europeias”, disse Mário Centeno, durante a sua intervenção na Money Conference.
Mais investimento e empresas mais eficientes, fizeram com que o tecido empresarial tenha também absorvido mais trabalhadores, tendo Portugal chegado ao início de 2020 numa situação de quase pleno emprego, e com um aumento das remunerações. Por isso, quando o País teve de enfrentar a atual crise contava com mais capacidade de desalavancagem financeira, investimento, emprego e eficiência, algo que “devemos ao esforço das empresas portuguesas, o leva ex-ministro a enfatizar: “não chegámos à crise pandémica sem o trabalho de casa feito. Podemos continuar a negar o país que temos, mas isso só ajuda os demais, não os portugueses”.
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A capacidade de transformação, que levou a um aumento da produtividade, e investimento das PME, permitiu que chegássemos “ao início de 2020 com uma dinâmica empresarial única em Portugal”.
“A realidade setorial é ainda mais impressiva da transformação que ocorreu em Portugal, em especial nos últimos cinco anos. O aumento da produtividade foi maior nos setores mais atingidos pela crise pandémica: 50% no Alojamento e Restauração; 52% no Imobiliário; 32% na Indústria Transformadora e 26% no Comércio. Claro que a pandemia colocou um travão a alguns destes desenvolvimentos e colocou desafios a todos eles. Este travão foi severo, mas será temporário se conseguirmos manter a capacidade produtiva e estivermos preparados, e já demonstrámos a partir de junho que estávamos, para retomar a atividade por completo”.
“Bancos foram solução”
No início desta década Portugal foi atingido por outra crise: a da dívida soberana, que culminou com o resgate ao País, feito pelas instituições europeias e FMI. Do pacote de 78 mil milhões de euros de ajuda que Portugal recebeu, 12 mil milhões tinham um destino específico: a banca. O setor financeiro atravessava dificuldades tendo várias instituições recorrido a este apoio. Quase 10 anos depois, a imagem é distinta o que permitiu que a banca fosse parte da “solução” para a crise, conseguindo injetar dinheiro na economia e empresas (nomeadamente através de linhas de crédito articuladas com o governo, e concedendo moratórias de crédito).
“No final de 2015, o sistema financeiro português estava subcapitalizado, com estruturas acionista instáveis, em incumprimento de planos de negócios e obrigações assumidas perante as autoridades. Hoje, ninguém reconhece estes problemas no sistema bancário português”.
Ministro das Finanças até junho, posição que deixou para pouco depois ocupar o cargo de governador do banco central, Mário Centeno considera que “no período anterior à crise pandémica, acumulámos um capital de confiança, de redução do risco e até de partilha de risco que não podemos desbaratar”.
A banca tem atualmente uma posição de capital e liquidez mais sólida do que no passado, o que “contribuiu para a acomodação do choque inicial da pandemia, garantindo que os agentes económicos tivessem à sua disposição o crédito necessário e reduzindo as pressões de desalavancagem”. E remata: “os bancos fizeram parte da solução, não foram parte do problema”.
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