Partilhareste artigo
A Imperial, adquirida há quase um ano pela espanhola Vimaroja, dona da Chocolates Valor, vai iniciar neste exercício um investimento de sete milhões de euros para “praticamente duplicar” a capacidade de produção de tabletes e barras, avançou ao Dinheiro Vivo Manuela Tavares de Sousa, CEO da fabricante portuguesa. Este projeto, que se irá desenvolver até 2024, insere-se no plano estratégico para os próximos três anos, definido já sob o controlo acionista da Vimaroja, e tem por base a ambição do grupo de se tornar “o maior player ibérico de chocolate”.
Relacionados
A empresa de Vila do Conde reforça assim a sua aposta no fabrico de tabletes e barras, o maior segmento de mercado a nível mundial, depois de em 2020 ter finalizado um investimento de três milhões para incrementar a produção desta categoria de produtos. Agora, com o novo projeto, a Imperial vai passar a garantir uma resposta da ordem das 10 mil toneladas/ano, quase duplicando a atual, revelou a gestora. Este incremento produtivo visa assegurar o crescimento da procura no mercado nacional e nos mais de 50 países para onde exporta. Segundo Manuela Tavares de Sousa, o plano envolve também uma aposta na inovação e tecnologia, de forma a criar valor.
Como sublinhou a presidente executiva da Imperial, as exportações têm vindo a aumentar o seu peso na faturação, sendo que os produtos mais saudáveis e com novos sabores têm registado uma forte recetividade. Aliás, uma das apostas da Imperial nos últimos anos tem passado pelo desenvolvimento de chocolates com menor teor de açúcar (ou mesmo sem açúcar), com grande incorporação de cacau e de cereais e sem glúten. Estas são as tendências que estão a marcar o consumo e a empresa tem apostado na inovação “para fidelizar mais o consumidor, que procura alimentos com componentes nutricionais benéficos para a saúde, novos sabores e formatos”.
Um dos produtos estrela é o Regina Protein, com elevado teor em fibra e proteína. O mercado japonês já se rendeu e em breve será vendido em território chinês. “Estamos a fechar a comercialização com um retalhista na China e prevemos estar a vender já em outubro”, adiantou. Certo é que parece uma aposta ganha. Este ano fiscal, que termina a 30 de junho, a previsão de vendas aponta para um volume da ordem dos 37 milhões de euros, um aumento de 5,7% face ao exercício precedente, com o peso das exportações a crescer de 24% para quase 30%. Embora o mercado nacional seja dominante no negócio, a Imperial exporta para os cinco continentes, com os mercados asiáticos, europeus, africanos e do Médio Oriente a destacarem-se nas aquisições dos chocolates portugueses.
Subscrever newsletter
Grandes desafios
A pandemia já tinha provocado um aumento nos preços da energia e das matérias-primas, mas o conflito militar na Ucrânia veio agudizar o contexto inflacionista. A Páscoa, a melhor época de vendas da Imperial – representa cerca de 35% do volume de negócios -, foi “marcada por grandes desafios”, que se refletiram no abastecimento das matérias-primas e dos produtos de embalagem e no custo dos mesmos. Como frisou a responsável, “a guerra veio agravar um problema que já se sentia na pandemia. Verificou-se uma evolução desfavorável e num espaço de tempo curtíssimo”. A líder nacional na categoria de amêndoas de chocolate não deixou de preparar com todo o afinco a campanha da Páscoa, mas admite que, “este ano, e face ao agravamento dos custos de produção, já houve algum impacto nos preços ao consumidor, mas de forma residual”.
O mais difícil está ainda para vir. Segundo Manuela Tavares de Sousa, “a indústria vai fazer todo o possível para absorver o impacto do aumento dos custos” e, acredita, “também toda a cadeia de abastecimento”. Mas é incontornável que os chocolates vão ficar mais caros. A Imperial está neste momento a analisar todo o contexto para apurar como vai refletir no próximo ano fiscal, que se inicia em julho, esta expansão inflacionista, sendo que “os incrementos nos preços dependerão de cada segmento de produto”. Como exemplificou, “há um ano, comprava-se a proteína a 3,5 euros o quilo e agora está a 12 euros, o açúcar aumentou 40% no espaço de 12 meses, o cacau teve subidas da ordem dos 10 a 15%, o preço da energia – apesar da Imperial não ser uma indústria de energia intensiva -, está três vezes mais alto, o leite gordo duplicou o preço desde o início da guerra…”. E, sublinhou, “há um nível de incerteza muito grande”.
Neste contexto, a gestora deixou ainda uma mensagem: “É preciso ter uma noção muito clara de como a política energética pode impactar a indústria. Temos empresas fortes nas renováveis, mas com uma produção ainda cara. A indústria pode deixar de ser competitiva e isso perigar a reindustrialização.”
Deixe um comentário