//CIP. Maio reduziu faturação a metade em três quartos das empresas

CIP. Maio reduziu faturação a metade em três quartos das empresas

A grande maioria das empresas atravessou o mês de maio com perdas de faturação médias da ordem dos 49% e o futuro próximo não se apresenta melhor, pelo menos, nos sectores de indústria e alguns serviços, onde as carteiras de encomendas espelham a faturação futura. A quebra deve manter o nível ainda ao longo dos próximos tempos, apontam os dados do último inquérito CIP-ISCTE, divulgado esta terça-feira.

Nos resultados, 76% das empresas ouvidas reportam quebras de faturação em maio, com a redução média a atingir os 49% face ao mesmo mês de 2019.

Para outras 17%, as vendas mantiveram-se, e há ainda 7% de negócios que reportam subida nas vendas no período de estado de calamidade. Aqui, o aumento médio na faturação é significativo, de 31%, e representará os casos de empresas que adaptaram ou tinham já produção direcionada para as necessidades que aumentaram devido à pandemia, segundo Pedro Dionísio, do Marketing FutureCast Lab do ISCTE.

Um quarto das empresas diz também ter encontrado novos clientes – representando estes em média 15% das vendas realizadas.

Por outro lado, é baixo peso das empresas que conseguiram tirar partido de novos canais, como o comércio eletrónico, para aumentarem vendas. Foram apenas 8% entre as inquiridas, mas com os aumentos alcançados a atingirem 58% em termos médios.

O estudo inquiriu uma amostra de 561 empresas com um forte concentração da indústria transformadora, serviços e comércio, na semana de 15 de junho, e dá conta da evolução das compras e vendas no tecido empresarial português, olhando também às alterações nos prazos de pagamento.

No que diz respeito à entrada do dinheiro das vendas em caixa, numa altura de fortes constrangimentos de tesouraria, 34% das empresas dizem ter visto aumentar o número de dias que os clientes demoram a pagar (em média, 38 dias). Outras 64% referem que os prazos não mudaram. Apenas 2% dão conta de uma redução de prazos (em média, de 44 dias).

O inquérito olha também ao que será a atividade a partir de junho, mostrando que 58% das empresas viram cair encomendas. Em média, o nível da carteira de vendas futuras estava a 1 de junho 45% abaixo do nível registado no mesmo período do ano passado nestas empresas.

Outras 16% reportaram estabilidade na carteira de encomendas, havendo 5% que viram crescer a atividade dos próximos tempos de forma significativa com um aumento médio de 34%. Às restantes 21% não se aplica a questão colocada em inquérito por estarem em sectores que não antecipam negócio, como a restauração.

A redução nas encomendas para perto de dois terços das empresas “significa que a queda de negócios vai ser repercutida nos próximos meses”, de acordo com Pedro Dionísio”.

Os dados do inquérito são um indicador para avaliar as condições de subsistência das empresas num momento em que mantêm a dependência dos apoios de emergência criados pelo governo, como o lay-off simplificado, mas também para antecipar aquela que poderá ser a adesão ao mecanismo sucessor: o apoio à retoma progressiva, que vigorará a partir de agosto e limita a redução de trabalho a perdas de faturação registadas, de um mínimo de 40%. Os dados médios colocam as empresas no limiar da elegibilidade.

No entanto, mantém-se aberta a opção do lay-off tradicional do Código do Trabalho ao qual já mais de 4600 empresas aderiram em maio com mais de 44 mil trabalhadores abrangidos.

Esta edição do estudo, realizada ainda em meados do mês, voltou a questionar as empresas sobre a adesão aos apoios do governo. E mostra que, para julho, mês em que termina o acesso ao lay-off simplificado para muitas empresas, há mais negócios com planos para apresentar pedidos junto da Segurança Social (o prazo termina hoje para aqueles que esgotam o limite de renovações e não permanecem encerrados por determinação administrativa). As intenções entre quem não usou e pretende agora usar o mecanismo subiram aos 10%, mais três pontos percentuais que nos últimos resultados de inquérito.

Por outro lado, a percentagem daquelas que se mantêm em lay-off está bastante mais reduzida, nos 25%, por comparação com aquela que se registava na primeira semana do estudo, de 48%.

Aumentou também a proporção de empresas que declaram ter já recebido financiamento das linhas de crédito de emergência, de 47% para 62%, ou mais 15 pontos percentuais,

Segundo os dados, 57% dos negócios inquiridos na semana de 15 de junho pediram financiamento, contra 14% que ainda não o fizeram e 29% que não o pretendem fazer.

A apreciação das medidas do governo entre as inquiridas da CIP mantém-se em grande medida, com 80% a considerarem que ficaram aquém ou muito aquém do necessário. Já os apoios garantidos a nível da União Europeia são vistos como adequados ou muito adequados entre 63% das empresas.

Nesta altura, os dados apresentados pela CIP apontam para que 64% das empresas estejam de regresso à atividade plena, com 33% ainda em atividade parcial. Outras 3% mantêm-se ainda encerradas. Mas os dados podem enganar, notou na apresentação Pedro Dionísio. As empresas em dificuldades “habitualmente não são aquelas que respondem a estudos”.

Atualizado às 18h56

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