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Há na cidade do Porto uma empresa com cerca de 15 anos de atividade que se dedica a fornecer a energéticas – como a EDP ou REN e a empresas de consumo intensivo de energia, como a Bosch – serviços de eficiência energética e apoio na introdução de fontes renováveis na operação. Trata-se da Smartwatt, que começa agora a apostar forte em serviços assentes em Inteligência Artificial (IA), uma parte do negócio que está a dar sinais de robustez e crescimento para o futuro.
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Ao Dinheiro Vivo (DV), Tiago Santos, intelligence director da Smartwatt, conta que a empresa trabalha para cerca de 200 companhias e que a área que lidera, focada em aplicar IA à gestão do desempenho energético das unidades, é responsável por “12 a 13 clientes”. Pode parecer um número pequeno, mas o gestor realça que, no último ano, a atividade global da Smartwatt registou seis milhões de euros de volume de negócios, sendo que a área de intelligence gerou receitas de um milhão de euros.
“Temos vindo a crescer. Há quatro anos, a faturação desta área andava à volta dos 90 mil euros”, diz.
A evolução das receitas na área de intelligence reflete uma evolução rápida que corresponde a uma maior aposta da Smartwatt na aplicação de IA nos serviços energéticos. Aliás, da conversa que o Dinheiro Vivo teve com Tiago Santos, depreende-se que a área que lidera tem ganho relevância e que, por isso, poderá surgir algum tipo de novidade futuramente sobre esta parte do negócio, mas o gestor não abriu o jogo.
O negócio da Smartwatt divide-se em três grandes áreas, nomeadamente, eficiência energética; energias renováveis e a área de intelligence.
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Segundo Tiago Santos, as áreas de negócio dedicadas à eficiência energética e à introdução de fontes renováveis são “as mais maduras”, uma vez que são uma aposta desde a criação da empresa, “trabalhando os clientes numa ótica de gestão do consumo de energia” e procurando otimizar desempenhos – alterando processos nas empresas que serve, por exemplo – tendo “muito foco na indústria, e em tudo o que são grandes fábricas e grandes processos [energéticos]”.
Ora, a área de intelligence sempre existiu, mas só mais recentemente ganhou relevo. Antes era trabalhada “mais numa lógica de investigação”, sublinha.
IA cada vez mais relevante
Tiago Santos explica que os serviços prestados nas duas primeiras áreas de negócio geram, por si só, uma grande quantidade de dados e, a dada altura, impôs-se a questão: o que fazer com eles, como trabalhá-los e aplicá-los? Gradualmente, a resposta foi passar a trabalhá-los com IA e foco nas empresas enquanto clientes da Smartwatt.
“Tudo isto gera dados, que têm um segundo valor. Ou seja, a partir de um conjunto de informações, transformamo-las em novos dados para retirar valor e melhorar ainda mais um processo”, explica. É nesta parte que entra a Inteligência Artificial.
O trabalho desenvolvido pela área de IA é muito amplo, mas a parte mais relevante consiste na criação de algoritmos que apoiam as empresas servidas pela Smartwatt nos processos diários. Parece haver duas Smartwatt – a que “indica o caminho” para melhorar a eficiência energética de uma operação, ou para introduzir fontes renováveis num processo, e a que cria mecanismos de previsão em tempo real para melhorar tomadas de decisão das energéticas e de outras grandes empresas consumidoras de energia.
“Queremos desbloquear o valor que existe nos dados. Há muitos ativos a gerar dados a cada segundo – uma turbina eólica com sensores, por exemplo. O objetivo é conseguir analisar esses dados em tempo real, olhar para a informação e com os algoritmos gerar nova informação que, por si só, torne mais simples a tomada de decisão de quem tem a informação”, realça o intelligence director da Smartwatt.
Trabalho de alfaiate
Tiago Santos salienta que se as empresas querem “ter menos falhas ou fazer crescer um portefólio, internacionalizar-se ou gerir mercados diferentes” é necessário perceber que tipos de dados são necessários e que tipo de algoritmo “tem que se criar para produzir o melhor resultado”.
Isto é, a criação de algoritmos está diretamente relacionada com a estratégia da empresa. “É um pouco como fazer um fato à medida”. E como se faz isso?
O primeiro passo será recolher os dados que a empresa tem disponíveis. Depois, segundo o gestor, os especialistas da “casa” cruzam-nos com dados que a própria Smartwatt tem. “E aí faço uma tradução para a parte técnica”, explica.
Tiago Santos detalha que em apenas duas horas é possível “identificar o que se pode fazer com o cliente em termos estratégicos”. Numa fase posterior, quase como se fosse uma sessão de brainstorming, juntam-se as equipas mais técnicas com as equipas de negócio “e durante 12 semanas faz-se duas ou três sessões” que vão resultar na ideia do que é o algoritmo deverá fazer para a estratégia do cliente.
“Depois chega-se ao desenvolvimento da ferramenta. Um algoritmo geralmente demora entre três a seis meses a ser desenvolvido, dependendo da complexidade. Menos de três meses é difícil, mas mais de seis nunca poderá ser”, explica o responsável, indicando que o trabalho da área de intelligence da Smartwat não termina com a criação do algoritmo.
De acordo com Tiago Santos, há um acompanhamento posterior, que muitas vezes resulta na “criação de centros de competências” no cliente. Isto é, se for necessário, a Smartwatt coloca técnicos dentro da empresa-cliente a apoiar na integração da ferramenta e na demonstração de como as coisas funcionam, dando apoio até na transformação de algumas funções anteriores ao algoritmo. Por outro lado, a própria Smartwatt faz um acompanhamento dos resultados para retirar conhecimento que poderá vir a ser útil no desenvolvimento de outras ferramentas ou algoritmos futuros.
IA aporta um milhão de euros por ano por cada GW
O intelligence director da Smartwatt diz que a empresa deve ser um dos “maiores players nacionais em termos de gestão de energia”, tendo esta vantagem de desenvolver IA através da criação e aplicação de algoritmos.
Questionado sobre efeitos quanto à poupança que este tipo de soluções gera para as empresas, Tiago Santos responde: “A utilização da IA mede-se pelo tempo da automatização de processos face a energia que consegui produzir a mais. O número que nós temos neste momento é que por cada gigawatt instalado, ou seja, mil megawatt, conseguimos aportar ao cliente um milhão de euros por ano”.
Criada em janeiro de 2008, enquanto spin-off do INESC TEC – Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência, a Smartwatt trabalha também com empresas em Itália, Reino Unido, Alemanha e Espanha. Segundo Tiago Santos, o negócio internacional da Smartwatt representa 10% da área de intelligence.
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