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Os portugueses querem dar cada vez mais ao pedal. Apesar de o país ter a ‘camisola amarela’ das exportações, a procura excede em muito a oferta. À conta disso, as compras de velocípedes ao estrangeiro aumentaram 62% entre 2015 e 2020. As unidades com assistência elétrica estão a ganhar cada vez mais protagonismo.
No ano passado, foram importadas 172 222 bicicletas, segundo os dados obtidos pelo Dinheiro Vivo junto do Instituto Nacional de Estatística (INE). Mesmo em tempo de pandemia, o mercado cresceu 5% – em 2019, Portugal tinha ido buscar 163 935 unidades.
Em 2020, mais de três quartos das importações corresponderam a bicicletas convencionais – ou seja, as unidades com assistência já tinham 25% do mercado.
“As pessoas procuram um modo de transporte saudável, económico e ao mesmo tempo amigo do ambiente. Muitas cidades e países europeus lançaram ou aceleraram arrojados programas de investimento de apoio e estímulo a modos ativos e de contenção do uso do automóvel”, justifica Rui Igreja, líder da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi).
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A procura por este artigo foi sentida nas lojas da Sport Zone. “Começou desde o primeiro confinamento como também depois dessa altura, o que demonstra a tendência crescente dos portugueses em praticar desporto ao ar livre”, reporta fonte oficial.
A retalhista “alargou a sua gama de bicicletas e incluiu também novas marcas para poder satisfazer as necessidades dos clientes”. Mesmo assim, “a rutura de stock de alguns segmentos foi inevitável no ano que passou, principalmente pelas dificuldades que as fábricas tiveram em dar resposta a todos os pedidos”. Espanha, Itália e Roménia foram os países com mais envios.
A empresa destaca ainda que as bicicletas elétricas “tiveram um aumento de procura, contribuindo para que a categoria de mobilidade urbana estivesse várias vezes no topo das vendas” em 2020. Os dados do INE, no entanto, revelam que as importações de unidades com assistência recuaram no ano passado – para 41 976 unidades – quando em 2019 tinham chegado 43 922.
Há seis anos, as importações eram menos vigorosas. Em 2015, Portugal foi ao estrangeiro buscar 106 333 bicicletas, com as unidades sem assistência a praticamente monopolizarem o mercado, com uma quota de 94,6%.
A aceleração do valor das bicicletas importadas foi semelhante. Os velocípedes que chegaram a Portugal no ano passado valeram 41,38 milhões de euros, o que compara com os 25,5 milhões de euros de 2015. Na Sport Zone, a venda de bicicletas “estabilizou e está a decorrer de forma relativamente normal”. Mas os primeiros três meses deste ano antecipam mais um novo máximo nas importações.
Entre janeiro e março, Portugal obteve 37 974 bicicletas no mercado internacional, mais 30,5% do que no ano passado e em 2019. As unidades com assistência elétrica já representam mais de um terço das aquisições.
Oportunidade perdida
Ainda assim, segundo Rui Igreja, o mercado português está numa pedalada diferente do estrangeiro. “A quota de mercado de bicicletas elétricas em Portugal é ainda bastante inferior à verificada nos locais que criaram as condições de segurança e conveniência para a utilização da bicicleta como modo de transporte. Em vários países, as bicicletas com assistência elétrica representam já mais de metade das vendas totais de bicicletas”.
O representante da MUBi lamenta que os municípios (à exceção de Lisboa) e o Governo português estejam a “perder uma oportunidade de transformar significativamente a forma como as pessoas se deslocam nas cidades portuguesas”.
“Ao invés de apostar na mobilidade ativa e numa agenda de desenvolvimento urbano sustentável, o Governo português optou por destinar mais de 700 milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência para a construção de mais estradas”, conclui o responsável ao Dinheiro Vivo.
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