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A procura por hotéis em Espanha está em níveis elevados. E não é só a procura. É também a compra e venda. Segundo o jornal espanhol Cinco Días, em cerca de duas semanas, os hotéis NH venderam o hotel Calderón, em Barcelona, por mais de 125 milhões de euros, os Meliá alienaram um conjunto de hotéis no valor de 208 milhões de euros e o Grand Hotel Central de Barcelona foi vendido por cerca de 93 milhões de euros.
Um inquérito da consultora Cushman & Wakefield realizado junto de cerca de 50 investidores – entre investidores institucionais, family offices e Socimis -, citado pelo jornal, mostra que Barcelona é o destino preferido para investimentos nos próximos trimestres, seguida de cidades como Londres, Paris, Amesterdão e Munique. A capital espanhola, Madrid, ocupa a sétima posição.
Albert Grau, da Cushman & Wakefield Hospitality em Espanha, diz ao Cinco Dias que os resultados do inquérito “mostram que Barcelona e Madrid oferecem, por diferentes razões, condições atrativas para investimento”. O responsável adianta ainda que o “segmento de luxo é o que está a liderar o posicionamento dos investidores na capital, enquanto em Barcelona a pandemia reanimou o interesse por ativos que estão melhor localizados e que antes estavam com preços muito altos, o que dificultava o encerramento das operações”.
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Um outro dado que emergiu do inquérito realizado pela consultora é que o interesse dos investidores está em linha com as previsões para a retoma do turismo. Ou seja, os investidores estão a dar preferência a destinos de sol e praia e a apartamentos com serviços.
As tendências apontadas por entidades internacionais sugerem que o turismo de lazer irá recuperar mais rapidamente que o turismo de cidade, que permite menos distanciamento social. Além disso, as cidades viviam também bastante do chamado turismo de negócios (MICE), que não deverá contar com uma recuperação tão célere quanto outros segmentos, como o lazer.
No início de junho, o Dinheiro Vivo escrevia que a pandemia não tinha esmorecido o apetite de investidores por ativos hoteleiros. Os contornos terão mudado um pouco, mas o apetite pelos ativos mantém-se e não há, para já, uma baixa significativa de preço.
“O setor do turismo e a hotelaria em particular tem-se revelado como um setor de grande interesse para investimento. Independentemente da pandemia não verificámos um recuar no interesse por parte de investidores. Houve sim uma alteração na forma como os investidores veem a oportunidade de investimento no setor, transformando uma perspetiva mais consolidada em fase pré-pandémica, para uma perspetiva de valor acrescentado / oportunista”, explicava ao Dinheiro Vivo Gonçalo Garcia, Diretor de Hospitality da Cushman & Wakefield.
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Karina Simões, Head of Hotel Advisory JLL, também defendia que o interesse não esmoreceu e que “do lado da procura as notícias são animadoras – a procura mantém-se sustentada numa crença de que os fundamentais do destino não se alteraram e que a iniciar-se uma recuperação, Portugal será dos primeiros países a emergir”. Mas não esconde que há duas mudanças face ao período pré-pandémico: “por um lado surgiram, compreensivelmente, os investidores oportunistas, mas mantiveram-se investidores motivados a pagar um valor justo pelos ativos (com o impacto no preço que decorre da menor geração de cash flows perspetivada até 2024); e por outro lado passou a haver uma maior concentração geográfica da procura por ativos hoteleiros – a cidade de Lisboa passou a quase dominar”.
Até à pandemia, a capital, tal como o Porto e Algarve, eram as localizações mais procuradas, mas agora Lisboa domina as atenções. Karina Simões explicava que “a liquidez dos ativos localizados em meio urbano é maior, e se por absurdo o turismo não recuperar da forma que é expetável, uma possível mudança de uso destes ativos será com certeza mais fácil do que num hotel de resort”.
“A forma como o verão de 2021 decorrer, bem como a decisão relativamente à manutenção dos apoios do Estado e moratórias bancárias, vai ditar o futuro de algumas unidades hoteleiras, cuja solidez financeira possa estar comprometida. É possível que no final do ano se assista a um aumento da oferta de ativos hoteleiros para venda, mas nesta fase é apenas futurologia”, assumia a responsável da JLL.
A plataforma imobiliária Hotéis para venda, que está focada na agregação de empreendimentos turísticos disponíveis para venda, contando com mais de 100 ativos identificados, explica que a amostra que tem não permite conclusões definitivas, mas não esconde que a maioria dos potenciais interessados nos ativos hoteleiros é europeus. E assume que os preços não são muito diferentes dos praticados antes da pandemia “dado que a maioria dos ativos não estão à venda por necessidade, nem é expectável que a maioria dos ativos que venham a ser colocados no mercado nos próximos meses seja devido a dificuldades financeiras”.
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