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Na primeira audiência do chefe do Instagram perante o congresso norte-americano, Adam Mosseri defendeu as práticas da rede social e propôs a constituição de uma entidade da indústria que supervisione as políticas de segurança online. Mas os argumentos do número um da rede social não convenceram os senadores do subcomité do Comércio, que organizaram a audiência “Proteger as crianças online: o Instagram e reformas para jovens utilizadores.”
A sessão, em que Adam Mosseri foi interrogado durante mais de duas horas, debruçou-se sobre os perigos do Instagram para a saúde mental de crianças e adolescentes e as informações que vieram a lume quando a denunciadora Frances Haugen vazou documentos internos da empresa.
“O país está a enfrentar uma crise de saúde mental nos adolescentes. As redes sociais não a criaram, mas deram-lhe gás”, disse o senador democrata Richard Blumenthal, que encabeça o subcomité. “A big tech e as redes sociais alimentam esta crise com produtos viciantes e algoritmos poderosos, e exploram e lucram com as inseguranças e ansiedade das crianças”, acusou.
Mosseri, que tinha fornecido um longo testemunho por escrito antes de aparecer presencialmente, negou que o Instagram provoque adicção nos utilizadores e questionou a veracidade dos malefícios que lhe estão a ser imputados.
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“Não considero que a pesquisa sugira que os nossos produtos são viciantes”, disse o executivo em resposta a Blumenthal. “Mostram que o Instagram tem um efeito mais positivo que negativo. É minha responsabilidade fazer tudo o que posso para manter os utilizadores seguros e vou continuar a fazê-lo”, asseverou.
Com muitas instâncias em que se escusou a comprometer-se com os pedidos feitos pelos senadores, Mosseri repetiu a fórmula usada pelo CEO da Meta, Mark Zuckerberg, desde que o escrutínio sobre as suas redes sociais se intensificou.
“Temos pedido regulamentação durante os últimos três anos”, afirmou o chefe do Instagram, dando a entender que a responsabilidade é dos legisladores e que estes têm sido lentos demais. “Deve haver requisitos e parâmetros para que companhias como a nossa sejam transparentes em relação aos dados e algoritmos”, afirmou.
A proposta de criar uma entidade que funcione como uma espécie de painel da indústria não agradou, no entanto, aos legisladores.
“Uma entidade da indústria não é a regulação pelo governo que Zuckerberg e outros têm pedido”, apontou Blumenthal.
Depois de meses em escrutínio e várias audiências, o senador deixou um aviso a Adam Mosseri e às restantes redes sociais que são populares junto de utilizadores muito jovens: “O tempo para o autopoliciamento e autorregulação acabou.”
Blumenthal foi muito crítico da aparente inação do Instagram perante aquilo que considerou serem desenvolvimentos preocupantes na relação entre os adolescentes e as redes sociais.
“Este subcomité ouviu histórias horripilantes de inúmeros pais cujas vidas, e as vidas dos filhos, mudaram para sempre”, afirmou. “O algoritmo exacerba a espiral destrutiva”, disse, mencionando o caso de uma adolescente que tentou o suicídio por não aguentar a pressão social do Instagram.
Blumenthal também disse a Mosseri que o subcomité fez testes criando contas falsas a posarem como adolescentes e ficou alarmado com os conteúdos que o algoritmo sugeriu, como glorificação da anorexia, automutilação e dicas para saltar refeições.
“Os pais estão furiosos e não confiam nas plataformas”, disse. “O primeiro imperativo é transparência sobre os algoritmos e designs viciantes. Precisamos de investigadores independentes.”
A senadora republicana Marsha Blackburn, que representa os eleitores do Tennessee, também criticou o Instagram pela teia que tem tecido nos últimos meses, sem que nada mude realmente. “Sinto que isto se repete ad nauseum”, afirmou, mencionando as várias instâncias em que responsáveis do Facebook e Instagram se comprometeram com mudanças e transparência sem resultados concretos, no seu entender.
Mosseri contrapôs dizendo que a empresa está empenhada em dar boas experiências aos utilizadores e anunciou uma série de novidades, como o reforço dos controlos parentais e da fiscalização das idades, para que nenhuma criança com idade inferior a 13 anos possa ter conta no Instagram. Também diferiu uma boa dose de responsabilidade para os pais, dizendo que “os pais e guardiães sabem o que é melhor para os seus adolescentes”, e assumiu responsabilidade pela suspensão do plano de criar um Instagram Kids para crianças, que seria direcionado para a faixa entre os 10 e 12 anos.
“Como pai de três, quero criar um mundo que é seguro para os meus filhos e lhes permita beneficiar das coisas boas que a Internet tem para oferecer”, frisou.
Escusando-se a dar respostas sem reservas aos pedidos dos senadores, Mosseri comprometeu-se a “fornecer acesso significativo a dados com que investigadores externos possam desenhar os seus próprios estudos e tirar conclusões” nesta questão do impacto em adolescentes. Também disse que poderia explicar como os rankings funcionam.
Mas os legisladores mostraram-se para lá da boa vontade e avisaram que o Instagram, bem como outras redes sociais com muita influência nos jovens (como TikTok), podem esperar regulamentação em breve para mitigar os seus impactos negativos nas mentes em formação.
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