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A Efacec continua a ser uma batata-quente nas mãos do governo, que não conseguiu reprivatizá-la até ao fim de 2021. O processo continua por fechar e uma resolução tardia poderá revelar-se uma pedra no sapato no arranque da nova legislatura, uma vez que, ao contrário do prometido, a empresa está na esfera do Estado há cerca de ano e meio – já beneficiou de uma injeção de 100 milhões a 25 anos do Banco de Fomento, convertíveis em capital – e continua a ver a situação financeira agravar-se.
A empresa liderada por Ângelo Ramalho terá registado, em 2021, um resultado líquido negativo de 62,7 milhões de euros e o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (EBITDA) terá sido de 31,8 milhões negativos. A meta para este último indicador era 22 milhões positivos. A empresa terá faturado também menos 90 milhões de euros face a 2020.
Os números foram avançados ontem pelo jornal Eco, dando conta de se tratar de dados provisórios. As contas oficiais deverão ser conhecidas nos próximos dias.
Contactada pelo Dinheiro Vivo, a empresa recusou confirmar os valores, sublinhando que as contas ainda não foram aprovadas em assembleia geral e, por isso, não foram divulgadas.
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Lamentando “contínua divulgação de informação anónima e não oficial”, fonte oficial da companhia esclarece que “os resultados da atividade serão avaliados pelos órgãos competentes e, quando o forem, serão divulgados como sempre, com toda a transparência, após auditoria pelos revisores oficiais de contas da Efacec, do parecer do conselho fiscal, e da aprovação por todo o conselho de administração da sociedade e pelos seus acionistas”.
No entanto, a confirmarem-se novos prejuízos, a situação da empresa pode já não corresponder aos dados apresentados ao mercado na abertura do processo de reprivatização. “O processo de reprivatização é um processo dos acionistas pelo que não tecemos comentários sobre o mesmo”, refere a mesma fonte.
Sobre esta questão ninguém no governo abre o jogo. Do lado do Ministério da Economia, fonte oficial apenas garante que o processo de reprivatização “continua em curso”. Do lado da Parpública, a sociedade gestora das participações do Estado nas empresas, não chegou qualquer resposta até ao fecho da edição.
Até ao momento só é conhecido o interesse da bracarense DST, que o primeiro-ministro, António Costa, em entrevista ao Observador, considerou não satisfazer o interesse do Executivo. No entanto, no final de janeiro, citado pelo Jornal Económico, Siza Vieira afirmou que a DST continua na corrida pela Efacec. Como referido, fonte do ministério disse que o processo está em curso, apesar de o dossiê ter estado em suspenso durante o período eleitoral.
Da nacionalização à reprivatização
O Estado continua assim a responsabilizar-se por uma empresa que o Executivo nacionalizou, em julho de 2020, para salvar 2500 empregos e com a promessa de a colocar nas mãos de privados até ao fim de 2021. Para acabar com um impasse entre os acionistas, que poderia ter colocado em causa a sobrevivência da empresa, o governo assumiu a participação de 71,73% de Isabel dos Santos na companhia portuguesa, detida através da sociedade Winterfell 2 Limited, arrestada pela Justiça na sequência do caso Luanda Leaks.
O governo realçou, desde então, que procura manter a empresa viável, pelo que a nacionalização não tinha um “caráter duradouro”. Um processo de reprivatização foi iniciado quase imediatamente após a nacionalização.
Problema? Com as contas negativas a repetir-se, o interesse de um potencial novo acionista poderá não se verificar face à deterioração da situação financeira da empresa em relação às condições apresentadas, inicialmente, pelo governo.
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