A cortiça ganhou novos mundos e funções. Esta matéria-prima reutilizável e biodegradável, que permite que Portugal seja reconhecido como líder mundial do setor, continua a ter nas rolhas a principal aplicação, mas o seu elevado potencial abriu-lhe novas janelas de oportunidade. Hoje há corticeiras que produzem “tudo menos rolhas”. A exportação é o canal de relevo, mas as vendas no país têm aumentado, com os turistas a darem o seu contributo.
As corticeiras Viking e 3DCork não querem saber de rolhas. Estas duas empresas encontraram na cortiça o material ideal para fabricar produtos distintivos, inovadores e com design. Entraram assim nos segmentos casa, desporto e moda. A Corticeira Amorim, líder incontestada do setor e onde os vedantes são reis, também fez o seu percurso de modernidade. O grupo já lançou coleções de design, assinadas por artistas de renome, e inclusive tem apoiado a criação de startups que potenciam as utilizações da cortiça.
Símbolo do país
Desde a primeira hora que a Viking apostou em produtos distintos, conta Renato Espírito Santo, diretor financeiro. O segmento mesa (diferentes bases de tachos, copos, individuais, tabuleiros ou frappés) foi o foco inicial da empresa, que foi alargando a oferta a artigos para o desporto, carteiras e acessórios, gifts. O negócio regista um crescimento de 10% nos últimos anos, sustentado na procura externa e doméstica.
A Amorim quis também “elevar o perfil da cortiça e conquistar novos territórios e públicos”, explica Thiago Oliveira, diretor da Amorim Cork Composites. Apoiada na inspiração de designers de renome, lançou a Materia, uma coleção de objetos à base deste material e que é hoje comercializada um pouco por todo o mundo. A Alma Gémea, uma parceria entre a Amorim e a Matcerâmica, é mais um caso de sucesso e de reinvenção da cortiça. Esta marca de produtos para a mesa tem muita procura nos aeroportos portugueses, possivelmente porque o turista “encontra na cortiça o elemento de ligação a Portugal”.
Renato Espírito Santo reconhece que o mercado nacional tem incrementado a sua relevância nas vendas da empresa que, neste ano, devem atingir os 3,3 milhões de euros. E esse crescimento só não é mais notório porque também as exportações estão a subir. A Viking tem os seus produtos à venda em mais de 20 lojas no país, mas também está presente em espaços globais como a Zara Home ou o El Corte Inglés e nas cadeias americanas HomeGoods e Marshalls. Como diz o responsável, “mesmo que o turista não compre cá, pode sempre comprar no seu país e ligará Portugal à cortiça. Isso é muito importante”.
De pés para a casa
Atenta às tendências, a 3DCork lançou-se no fabrico de produtos para a casa e decoração, aproveitando a flexibilidade do processo produtivo assente nos componentes para o calçado. Como explica Sara Nunes, diretora comercial, “desenvolvemos coleções com designers variados em que pretendemos mostrar formas diferentes de trabalhar a cortiça e vendemos para lojas”, essencialmente no exterior. O negócio, que no ano passado valeu 1,8 milhões, está mais direcionado para a exportação, até porque “são mercados que dão mais valor à componente ecológica, natural e reciclável que são características da cortiça”, defende. Outro fator que pesa na pouca importância do canal doméstico é o preço. “A cortiça não é um material barato e o preço é a variável que domina o consumidor português”, sublinha.
A Amorim Cork Ventures, subsidiária do grupo Amorim para startups, decidiu apoiar o lançamento da primeira marca nacional de chinelos flip-flop. Como adianta Pedro Bessa, diretor, As Portuguesas, à venda por todo o país, inclusive em lojas nos aeroportos e estâncias turísticas, tiveram no ano passado em Portugal o seu segundo mercado, com o turismo a impulsionar as vendas.
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