Partilhareste artigo
A CP recuperou 27 unidades ao longo de 2020. Este foi o principal efeito da fusão da empresa de manutenção de material EMEF com a transportadora ferroviária. Depois de terem ficado encostadas durante anos no Entroncamento, automotoras, locomotivas e carruagens ganharam nova vida nas oficinas da empresa. Mesmo em ano de pandemia, que resultou em perdas de 145 milhões, entraram 82 mecânicos.
Os utentes já começaram a sentir os efeitos da recuperação de material circulante, sobretudo no Norte. Dez carruagens (seis Schindler e quatro Sorefame) reforçaram a oferta na linha do Douro. E regressou o comboio MiraDouro, que passou a circular todo o ano entre Porto e o Pocinho com quatro locomotivas a gasóleo recuperadas no Barreiro.
As janelas panorâmicas das carruagens recuperadas potenciam a vista de uma paisagem que é património Mundial da Unesco. As Schindler foram recuperadas na reaberta oficina de Guifões, Matosinhos, que tinha sido encerrada em 2011. E o reforço de material a Norte permitiu libertar várias automotoras a gasóleo da série 592, que passaram a ser usadas na linha do Oeste.
Leia também:
Comboios a hidrogénio à espera de combustível europeu para arrancar
Subscrever newsletter
A oficina de Contumil também ajudou, com a recuperação de dez unidades: cinco locomotivas elétricas e cinco carruagens. As locomotivas da série 2600 vão começar a operar na linha do Minho no primeiro trimestre de 2021, rebocando carruagens Arco.
As cinco carruagens têm diferentes destinos: quatro serão utilizadas no regresso do comboio histórico do Vouga, em 2021, a última será comboio de emergência.
A oficina do Entroncamento já recuperou três das oito automotoras elétricas ao serviço dos comboios urbanos de Lisboa que foram encostadas durante os anos da troika. Este material tem servido sobretudo para evitar as supressões de viagens na linha de Sintra.
Contratar em pandemia
A entrada de 82 trabalhadores para a área de manutenção e engenharia da empresa foi essencial para recuperar estes comboios. As supressões, que dominaram o dia a dia da empresa em 2018 e início de 2019 passaram a ser residuais, conforme previsto no plano de investimento de 45 milhões apresentado em junho de 2019.
Em 2020, a empresa também reabriu as oficinas da Figueira da Foz, que serve para intervenções e reparações. A empresa fechou o ano com 3719 trabalhadores, mais 41 do que no final de 2019.
Ainda assim, só em 2021 entram em funções 122 trabalhadores, metade para manutenção e engenharia e os outros para os departamentos de operações e apoio comercial, num processo de recrutamento iniciados em 2019 e 2020, quando o Governo anunciou a entrada de 189 trabalhadores.
Prejuízo de 145 milhões
Mesmo num ano marcado por fortes perdas, a CP conseguiu cumprir o objetivo de reparações. A empresa espera uma quebra a rondar 145 milhões nas receitas, devido à pandemia – próximo dos 150 milhões previstos em julho pelo presidente, Nuno Freitas.
As dificuldades de tesouraria levaram a tutela a adiantar 73,14 milhões à CP. Valor transferido no penúltimo dia de 2020, deixando a empresa pronta para cumprir compromissos com os fornecedores.
Durante o confinamento, a transportadora registou prejuízos mensais de 22 milhões: apesar da diminuição de 70% a 80% nos passageiros, a oferta da empresa nunca ficou abaixo dos 55% nos comboios de longo curso e de 75% nos serviços regionais e urbanos. E nunca houve funcionários em lay-off, ao contrário do que aconteceu nas transportadoras rodoviárias.
Leia também:
Nasce em Portugal sistema inovador para evitar acidentes de comboio
Na segunda vaga, mesmo com nova redução da procura, a empresa só cortou serviços nos fins de semana em que não foram permitidas deslocações entre municípios – redução que permitiu cortar cerca de 30 milhões à despesa.
Ao abrigo do contrato de serviço público, em vigor desde final de junho, a CP já tinha recebido 88,1 milhões do Estado. O montante compensa todos os serviços realizados diariamente pela transportadora, exceto o Alfa Pendular.
Mais recuperações em 2021
A CP, para 2021, vai aumentar o ritmo das recuperações de comboios. Segundo fonte oficial da empresa, serão repostas em circulação 47 unidades, desde os serviços urbanos até aos comboios históricos.
Guifões será o epicentro destes trabalhos, com a recuperação de 15 carruagens do tipo Arco – que pertencem ao lote de 50 carruagens compradas à espanhola Renfe por 1,6 milhões de euros em 2020 -, 7 carruagens Schindler, 3 carruagens Sorefame e ainda 1 automotora a gasóleo Allan.
Contumil vai voltar a pôr em marcha 8 locomotivas elétricas da série 2600, 8 carruagens Napolitanas de via estreita, 1 automotora a gasóleo Allan, da década de 1950, e ainda duas automotoras Nohab de via estreita.
No Entroncamento, serão recuperadas as restantes cinco automotoras elétricas para os serviços urbanos de Lisboa; no Barreiro, ficarão como novas três locomotivas a gasóleo.
Deixe um comentário