Suprimido. Esta é uma palavra que se repete todos os dias aos altifalantes das estações de comboio da CP na linha de Sintra e na linha do Algarve. Só desde o início deste mês já foram cortados quase 140 comboios numa das principais ligações de acesso a Lisboa; mais a sul, houve perto de uma centena de viagens que ficaram por realizar-se. A falta de material circulante justifica estas supressões. Dos 50 comboios ao serviço, 10 estão para manutenção, denuncia a comissão de trabalhadores da empresa. Os problemas estendem-se também à linha do Oeste, sobretudo desde que foram retomados os horários anteriores aos cortes de agosto.
Na linha de Sintra, registou-se desde o início do mês a supressão de 138 comboios na hora de ponta, de manhã e ao final da tarde. Numa altura em que são necessários mais comboios, para responder aos picos de maior procura, o material não chega para cumprir os serviços previstos pela CP. Desde 2 de novembro, na ligação entre Sintra e Alverca, houve 85 viagens que ficaram por realizar, de acordo com as informações consultadas pelo Dinheiro Vivo junto da IP-Tráfego. O pico dos cortes ocorreu na semana passada: entre segunda e quinta-feira, houve 12 comboios suprimidos.
Na ligação entre Mira Sintra-Meleças e Lisboa-Rossio, ficaram por realizar 53 viagens. Só ontem, houve nove comboios que não partiram por causa dos problemas de material da CP. “São necessários pelo menos 40 comboios para garantir o serviço regular nesta linha. De um total de 50 unidades ao serviço, há 10 que estão a aguardar manutenção; ou seja, a empresa está a funcionar no limite”, adianta fonte da comissão de trabalhadores. Na semana passada, a CP tinha apenas 37 unidades disponíveis, isto é, menos três composições do que o número mínimo necessário.
A linha de Sintra e de Azambuja funciona com as automotoras elétricas 2300 e 2400 e ainda as 3500 (as únicas unidades de dois andares da CP). No caso das séries 2300 e 2400, há 50 unidades ao serviço das 56 registadas no parque – há seis automotoras que foram encostadas em 2013 enquanto aguardam a revisão de meia-vida; da série dos comboios de dois andares, há 10 unidades ao serviço de um parque total de 12 – há duas unidades que também estão a aguardar a revisão de meia-vida.
No serviço urbano de Lisboa, as supressões na hora de ponta implicam que os restantes comboios circulem muito perto da capacidade máxima ou mesmo em sobrelotação, acelerando o desgaste destas composições, que datam da década de 1990.
A sul, o cenário é ainda mais grave porque quando um comboio é suprimido, a próxima viagem só pode ser feita uma hora depois. Desde o início do mês, houve um total de 96 viagens que ficaram por realizar na linha do Algarve, nos troços Lagos-Faro e Faro-Vila Real de Santo António. “Estão a circular seis dos oito comboios necessários para esta linha funcionar normalmente”, adianta a comissão de trabalhadores da empresa.
A linha do Algarve funciona com as automotoras a gasóleo UDD 450, compradas em 1965. Aos 53 anos, este material não consegue cumprir os horários e requer manutenção constante.
Três das 19 automotoras a gasóleo do parque ativo da CP são utilizadas na linha do Oeste, em complemento com outras duas automotoras a gasóleo da série 592 alugadas a Espanha. Mas nem com esta ajuda foi possível evitar as supressões nesta linha nos últimos dias. Na última semana, entre 12 e 19 de novembro, ficaram por realizar 39 viagens, o que obrigou a recorrer ao autocarro como transporte alternativo. Uma das cinco automotoras para esta linha teve de ser recolhida depois de um acidente, o que comprometeu a oferta desta linha.
Os problemas na CP, no entanto, tão cedo não deverão ser resolvidos. A empresa de manutenção EMEF não conta com pessoal suficiente, nem orçamento para comprar peças, o que compromete os planos de manutenção dos comboios. O Dinheiro Vivo contactou a transportadora mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.
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