Maria Manuel Mota e Sara do Ó são as vencedoras da 32.ª edição do Prémio Dona Antónia. Em ano de pandemia, o júri do galardão, que procura prestigiar mulheres portuguesas que se distinguiram pelas suas qualidades humanas e espírito empreendedor, escolheu a bióloga e cientista portuguesa, que há mais de 20 anos investiga a malária, para o Prémio Consagração de Carreira. Já o Prémio Revelação foi para a CEO do grupo Your. A entrega decorreu no Douro, numa cerimónia privada, devido às limitações decorrentes da covid-19.
Em declarações ao Dinheiro Vivo, Maria Manuel Mota diz sentir-se “especialmente honrada” com a distinção. “Claro que nos sentimos sempre muito honradas quando recebemos um prémio, mas, neste caso, é especial. Acho a Dona Antónia uma figura incrível. Uma mulher que, não tendo conhecimento científico, soube procurá-lo e implementá-lo para enfrentar uma praga enorme que ameaçava destruir tudo e condenar a região à fome. Foi, verdadeiramente, uma fazedora e este prémio representa algo de muito bonito”, afirma.
Para a bióloga e diretora executiva do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, o exemplo de Dona Antónia mantém-se mais atual do que nunca. “Ainda precisamos destes modelos. Dois séculos depois, temos de criar quotas para as mulheres [para determinados cargos], parece somos uma qualquer minoria, a precisar de ajudar, mas não somos, somos metade da população, não faz sentido nenhum”, defende Maria Manuel Mota. A cientista partilha o prémio com as “dezenas de pessoas” que, nos últimos 18 anos, fizeram parte da sua equipa, na pesquisa da malária e que os motivará a continuar um trabalho, onde muito há ainda para fazer. “Conhecemos o parasita que causa a malária há mais de 100 anos e ainda morrem, todos os anos, meio milhão de crianças abaixo dos cinco anos com malária. E isso é algo que nos deve fazer pensar”, sublinha.
“Muito orgulhosa”, Sara do Ó vê no prémio um “grande estímulo” para continuar a desenvolver a sua carreira com base nos valores de Dona Antónia, destacando a “virtude, o gosto pelo risco e o sentido de serviço ao outro” da empreendedora duriense. O prémio monetário que acompanha a distinção vai aplicá-lo na “Ilha da Misericórdia”, a associação sem fins lucrativos que criou para apoio a pessoas em recomeço de vida e que, para já, tem no grupo Your o seu único mecena.
Além disso, Sara do Ó espera que a distinção dê força a toda a equipa da Your para potenciar a ajuda e apoio que concede às PME com que trabalha, com uma liderança “cada vez mais servidora”, tão necessária “nestes tempos de incerteza”. A Your é um grupo de outsourcing de apoio à gestão, fornecendo “soluções integradas” às PME, para que “o cliente se dedique ao seu core”. O projeto arrancou em 2011, com serviços de contabilidade, mas que entretanto alargou a mais nove áreas de negócio distintas. Fornece serviços a 1900 pequenas e médias empresas que vivem, atualmente, momento de “grande ansiedade, de incerteza e de luta para não perderem tudo o que já foi conquistado”.
No primeiro ano a Your faturou 50 mil euros, o ano passado chegou já perto dos sete milhões. “Somos um bom exemplo do que é começar por um sonho e ir crescendo, através de um caminho sustentável. Na verdade, vamos crescendo à medida que os nossos clientes crescem também”, diz Sara do Ó, que promete continuar a desenvolver “novas áreas de negócio” para apoiar os gestores e os líderes empresariais, permitindo que “tenham acesso, assim, a pessoas mais seniores e com grandes valências, através da subcontratação de know how especializado, um fator fundamental para o crescimento das pequenas e médias empresas”.
Presidido por Artur Santos Silva, o júri do Prémio Dona Antónia é, ainda, composto por Francisco Olazabal e Maria João Spratley Ferreira, descendentes de ‘A Ferreirinha’, como era carinhosamente apelidada no Douro, e por Luís Valente de Oliveira, Rui Guimarães, Isabel Furtado e Raquel Seabra. Isabel Furtado foi a vencedora do Prémio Consagração, o ano passado, e Raquel Seabra foi distinguida na 24ª edição do galardão.
Criados em 1988 pelos descendentes da homenageada e pela Sogrape, a atual detentora da marca Ferreira, a casa de vinho do Porto criada por Dona Antónia, os prémios distinguem mulheres portuguesas “que se afirmam pelas suas qualidades humanas e espírito empreendedor, seguindo o excecional exemplo de vida de Dona Antónia ao contribuírem para o desenvolvimento económico, social e cultural de Portugal”, numa lista que inclui nomes como Elisa Ferreira, Vera Nobre da Costa, Maria de Jesus Barroso, Maria da Purificação Tavares, Leonor Beleza ou Teodora Cardoso, mas, também, a maestrina Joana Carneiro ou a cineasta Leonor Teles, emtre muitos outros.
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