Quando faz um ano do novo campus, Daniel Traça, o dean da Nova SBE fala ao Dinheiro vivo sobre os desafios da escola do futuro.
A Nova SBE é uma universidade pública, feita com financiamento privado e aberta a todos. É este o modelo da universidade do futuro?
A nossa ambição de constituir em Portugal uma escola com projeção para a Europa e para o mundo da Nova SBE apaixonou e inspirou a sociedade portuguesa. A Câmara Municipal de Cascais, o Banco Santander, a Jerónimo Martins e a Família Soares dos Santos foram os primeiros a estar connosco. Desde 2013, conseguimos o apoio de instituições privadas e públicas para financiar o projeto. Mais de 50 empresas e 1.600 indivíduos quiseram contribuir e, hoje, a Fundação Alfredo de Sousa representa-os no apoio e no desafio constante à Nova SBE.
A constituição da Fundação, um dos elementos mais inovadores deste modelo, foi importante por sermos uma universidade pública, com complexidades administrativas bem conhecidas. É um modelo de enorme sucesso, pois foi facilitador da confiança dos doadores privados e permitiu operacionalizar os processos necessários ao financiamento e construção do Campus. Mas o elemento mais transformador foi a abertura da escola à sua comunidade. Do financiamento dos privados e da partilha da visão criou-se um clima de confiança e co-construção que gerou vários projetos e iniciativas de impacto. Temos já empresas na Nova SBE com as suas áreas de inovação. Trouxemos as empresas para o campus, para perto dos alunos e dos professores. Os alunos já não precisam de sair da escola para conhecer as empresas, que era o modelo antigo das universidades. Para o futuro este modelo continuará a ser fundamental para o funcionamento e financiamento, mas sobretudo para o impacto e transformação da escola.
Se este é o modelo das escolas do futuro? Penso que a maior aproximação entre as universidades e a sociedade civil, nomeadamente as empresas, é uma urgência da nossa época. Será a única forma de constituir plataformas para endereçar os desafios da nossa sociedade e fazer prosperar o conhecimento. O financiamento privado pode ajudar nos investimentos que são cruciais para as universidades modernas. Mas, penso que o mais importante para as escolas do futuro é a visão, empenho e ousadia que são esperados hoje das universidades. Temos de nos abrir mais, desafiar mais, inovar mais para criar mais impacto. Esta é uma mudança de paradigma das instituições de ensino superior e da mentalidade de ensinar e aprender. E as parcerias profundas com a sociedade civil são um importante catalisador.
Este modelo traz-vos uma liberdade e capacidade de trabalho que outras não têm?
Este é um modelo que traz acima de tudo mais oportunidades e mais estímulos. É uma oportunidade para alunos se informarem e aprenderem com as empresas, para professores aplicarem conhecimento aos desafios da sociedade, para que as empresas aprendam com o talento dos alunos e a sua capacidade de pensar os problemas de outra forma. Penso sobretudo que as competências do futuro e os desafios futuros da sociedade exigirá modelos deste tipo. Em Portugal, a Nova SBE foi, sem dúvida, pioneira e já existem outras faculdades da UNL a replicá-lo.
Mas não podemos menosprezar as dificuldades operacionais que vivem as universidades, como elementos da administração pública. Sobretudo se queremos desenvolver uma abertura deste tipo. O modelo de funcionamento entre a Nova SBE e a Fundação Alfredo de Sousa agiliza a capacidade de relacionamento com as empresas, fundações e outros elementos da sociedade civil.
A quantidade de conferências, apresentações, talks, muitas delas com convidados nacionais e estrangeiros de peso é uma das mais-valias da Universidade? Ajuda a “abrir a cabeça” dos estudantes, a prepará-los para enfrentar desafios em qualquer parte do mundo?
Esta abertura da universidade ao debate com a sociedade civil recupera a universidade aberta como era concebida outrora. Esta é a abertura que sempre tivemos, mas que agora nos define. Para nós, esta atividade faz parte do ensino que fará a diferença para o futuro. As competências que hoje são procuradas são muito mais soft que no passado. Têm a ver com a liderança, a sensibilidade multicultural, o trabalho em equipa, a capacidade de decisão em incerteza e muitas outras que têm em comum o facto de não ser aprendidos na sala de aula tradicional. São as atividades que se desenvolvam no campus, não apenas nas conferencias, mas nos eventos promovidos pelos clubes de alunos e nas dinâmicas de inovação, de empreendedorismo ou de impacto social que permitiram desenvolver estas competências de futuro nos nossos alunos. Assim, a dinâmica do campus não é um fator supérfluo no nosso projeto pedagógico. Está no centro mesmo desse projeto. Estamos ainda a aprender como trazer esta atividade para a aprendizagem, mas estamos seguros que é um caminho que temos de percorrer.
E o facto de contar com muitos alunos estrangeiros também ajuda?
Pensar o desenvolvimento do talento português fora de um ambiente internacional é não preparar os nossos jovens para o século XXI. Os alunos estrangeiros que estão cá trazem valor acrescentado para Portugal. Contribuem financeiramente para o país, garantem uma multiculturalidade e uma experiência que enriquece os nossos alunos e podem ainda ajudar empresas nacionais que se querem internacionalizar. Levam consigo um pouco da nossa cultura e experiência que certamente os marcará durante muitos anos e ajudará a imagem de Portugal no mundo. A distinção entre alunos estrangeiros e portugueses não corresponde à nossa forma de ver o mundo. Apesar das tendências mais recentes que noutro sentido, nós acreditamos nos benefícios da economia global e da abertura dos países.
Diria que os estudantes da Nova SBE são diferentes ou que é a universidade que os faz diferentes?
Temos hoje uma juventude que quer mundo. Procuram abertura, diálogo, experiências, desafios e, sobretudo, querem descobrir o seu propósito. É o papel das universidades compreender estas mudanças nas expectativas do talento e adaptar-se, enquanto instituição, quer em termos académicos e da experiência de ensino em sala de aula, quer enquanto espaço que proporciona um ecossistema enriquecedor.
Na Nova SBE, procuramos endereçar e oferecer essas oportunidades aos nossos alunos. O que é diferenciador na Nova é a disponibilidade e abertura para se ajustar a estas expectativas que vemos nos nossos jovens. Por exemplo, realizamos pequenos-almoços mensais de alunos comigo e temos cerca de 35 clubes de alunos nas mais variadas áreas do saber e interesses. Tirar partido da energia desta juventude para ajudar a construir a escola implica uma abertura perante esses alunos. Por isso eu diria que a nossa diferença é sermos uma escola que tem orgulho em ser feita pelos seus alunos, em energizá-los, em dar-lhes confiança para correr riscos e para acreditarem na sua paixão e o seu propósito.
Leia aqui: Pública, financiada por privados e aberta a todos: é assim a escola do futuro
De que forma o projeto educativo se ajusta à realidade, mais do que à formalidade de currículos? E como se mantém o desafio de procurar sempre estar um passo à frente para formar o melhor possível?
O campus da Nova SBE foi um projeto pioneiro, em Portugal, com a ambição de nos tornarmos uma grande escola na Europa. Com ele conseguimos posicionar-nos e diferenciar-nos, face a outras escolas na Europa. É disso prova, a experiência hoje vivida neste Campus, expressa em cada reação de deslumbramento visível, nos muitos milhares de pessoas que nos visitam durante o ano. A abertura, a transparência, e a hospitalidade deste espaço são o cenário ideal para uma Universidade que acredita, profundamente, na urgência da transformação do ensino superior. Esta nova casa deu-nos o hardware. Cabe agora continuar a construir o software necessários para materializar esta ambição.
Continuamos assim a nossa transformação face ao futuro, onde o Campus é apenas mais um dos muitos passos dados ao longo de 40 anos. A nossa visão é ser a “Escola do Futuro”, desde logo porque nascemos assim, mas essencialmente porque o mundo atual precisa de ideias e de talento aptos a criarem esperança face aos desafios da tecnologia, da globalização, da desigualdade e da sustentabilidade. Esta é uma escola virada para o futuro e que quer ser diferente e, por isso, já estamos a introduzir algumas mudanças.
Em primeiro lugar, a urgência em desenvolver as competências do amanhã em toda a nossa formação, focando não só nas competências quantitativas e tecnológicas, mas também naquelas eminentemente humanas que jamais serão substituídas por uma qualquer inteligência artificial. Acabamos de rever o nosso programa de licenciatura, vamos lançar novos mestrados em áreas de empreendedorismo social e data science e temos planos para crescer o nosso corpo docente nas áreas de data, tecnologia, inovação e empreendedorismo.
Em segundo lugar, estamos conscientes do desafio vivido hoje pelas empresas, na necessidade em se transformarem para sobreviverem e do papel dos empreendedores que vão liderar a inovação. Estamos convencidos que formar talento para integrar organizações, por vezes com culturas, estratégias e lideranças ainda agarradas a sistemas rígidos e pouco inovadores, poderá gerar frustração e desperdício de valor. Conscientes disso, transformámos recentemente a nossa unidade de formação de executivos para nos posicionarmos como parceiros das empresas nos seus processos de transformação organizacional. Queremos oferecer uma proposta integrada com novas abordagens para transformar a cultura, a estratégia, a inovação e a gestão de talento a todo os níveis das empresas, porque acreditamos que essa transformação será condição necessária à competitividade neste século. A nova oferta de Executive Education e Business Transformation é uma proposta inovadora para as organizações não só em Portugal, mas também na Europa.
Por último, queremos tornar o campus num ecossistema de inovação e de aprendizagem única. Isto passa por mobilizar a Sociedade Civil em Portugal e no estrangeiro para nos ajudarem a formar os nossos alunos dentro e fora da sala de aula. Só com este engagement poderemos criar uma sociedade mais inovadora em soluções para os problemas complexos com que nos defrontamos.
Veja aqui: Como a Nova SBE está a mudar-nos
A ligação da Nova SBE ao mundo real, às empresas, à sociedade, ao mercado de trabalho, faz-se de que forma?
Queremos ajudar a responder aos desafios societários da atualidade. Por exemplo, lançámos a iniciativa única do Inclusive Community Forum que servirá de modelo a uma abordagem aos grandes desafios da humanidade, onde queremos mobilizar professores, alunos e empresas.
Também queremos que a investigação alicerçada nos nossos knowledge centres tenha não apenas um impacto académico, mas faça também a diferença para a nossa sociedade. O NovAfrica, knowledge center, inspirado pelas metodologias da equipa que acaba de receber o prémio nobel tem produzido investigação de ponta com impacto na realidade africana (Moçambique, Angola, Guiné, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde).
Promovemos e incentivamos que os alunos participem em eventos e iniciativas alinhados com os SDG. Em parceria com a Fundação La Caixa estamos a trabalhar na Social Equity Initiative para mapear, analisar e criar soluções para as situações das populações mais desfavorecidas na sociedade portuguesa. Com a Fundação Gulbenkian, criámos um mestrado em social entrepreneurship e um curso de formação de executivos – paradigma shift. Estas são apenas algumas das iniciativas em que estamos empenhados, sempre em pareceria com a sociedade civil.
Licenciou-se na Nova. Qual é a principal diferença entre esta Nova e a dos seus anos de licenciatura?
A Nova SBE é uma hoje uma escola muito mais internacional, muito mais aberta e com mais impacto. Mas também muito mais exigente.
Chegado ao final deste mandato como dean, em 2022, que característica gostaria que fosse reconhecida à Nova?
Gostava de deixar uma escola inovadora capaz de trazer novas abordagens e soluções para o Mundo e para as novas gerações – a escola para o futuro. Uma escola que desenvolvesse talento com conhecimento e competências, mas também com paixão, resiliência e sentido de propósito para contribuir cada dia para impactar o mundo. É o que diz a nossa missão, na qual acredito profundamente.
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