Quando Vítor Baía arrumou as chuteiras, voltou-se para o mercado imobiliário e arriscou entrar na hotelaria. Embora estivesse quase pronta, a maior jogada do antigo guarda-redes, um hotel numa herdade em Évora, nunca chegou a abrir as portas. Às dívidas de 14 milhões, juntaram-se desentendimentos entre os acionistas e um litígio com a construtora. O imóvel acabaria por ser entregue à banca para abater dívidas e, logo depois, entrava na carteira do Discovery Portugal Fund, criado para salvar hotéis em insolvência ou dificuldades. Abre em junho como Évora Farm Hotel, adiantou Francisco Moser, diretor-geral da DHM – Discovery Hotel Management.
A marca criada em 2014 para gerir os ativos do Fundo Discovery já investiu 4,7 milhões de euros neste projeto, valor que deverá aumentar quando, aos 57 quartos com que o projeto arranca, se juntarem mais 20 vilas. É apenas um dos dez hotéis que o DHM está a reabilitar, conta Francisco Moser. Cinco reabrem com cara nova também este ano, três serão entregues a marcas internacionais e um já a funcionar, ganha um novo edifício que “será para umas férias exclusivas” e que a DHM acredita que será um chamariz internacional. “Queremos trazer atores de Hollywood”, diz Francisco Moser.
“Para quem diaboliza o papel dos fundos na hotelaria fica a prova de como é possível reabilitar, contribuir para a economia, para a criação de postos de trabalho, e para o desenvolvimento das regiões”, assume Rodrigo Roquette, diretor de marketing do DHM, num encontro com jornalistas.
Não é um trabalho fácil, assume Francisco Moser. O fundo Discovery tem 44 unidades, mas apenas 18 já foram intervencionadas. É preciso “analisar a viabilidade uma a uma”, reconhece o responsável, lembrando que os projetos podem, depois, ser passados a outras marcas, como vai acontecer brevemente com três unidades. “Enquanto fundo de gestão de ativos tóxicos, há uma linha muito incoerente no perfil das unidades. Temos desde um grande resort a um hotel em Santiago do Cacém, um local muito difícil de dinamizar”.
“Todos os ativos estão com resultados positivos”, diz Francisco Moser. No ano passado, o DHM viu as receitas subirem 12% para 53 milhões de euros, elevando os lucros em 19%. Entre 2012 e 2018, o fundo imobiliário Discovery investiu 45 milhões de euros e, para 2020, a aposta volta a subir. Com dez projetos de recuperação em mãos, o grupo está a investir 21 milhões – Vila Monte, em Moncarapacho (1 milhão); Praia Verde, Castro Marim (800 mil); The Patio Suite Hotel, Albufeira (7 milhões); Eden Resort, Albufeira (4 milhões); Monte Real Hotel & Spa (2 milhões ); Palácio da Lousã Boutique Hotel (1,5 milhões); Évora (4,7 milhões). Juntam-se ainda unidades na Terceira, Serretinha, (1 a 1,5 milhões); Ocean Ville, Albufeira; e Sesimbra Bay.
“No início, encontrar financiamento junto da banca era difícil, mas os bons resultados trouxeram confiança”, reconhece Moser ao Dinheiro Vivo. Não sabe qual é o projeto que encontrou em piores condições, mas recorda que, se no Palácio da Lousã, que abre em março, havia telhas soltas, no de Santiago do Cacém, que já está a funcionar depois de uma extreme makeover, o “aspecto era de putrefação”. No hotel Vila Monte, “que hoje é um caso de sucesso, o cenário não era de guerra mas era bem diferente do que há hoje em dia”, acrescenta ainda.
O fundo Discovery tem uma linha de vida de 20 anos. É durante este período que o DHM tem como missão transformar em luxo as unidades que, pela crise, dívidas ou maus resultados caíram na ruína. “O nosso projeto é pegar nos ativos, fazer diagnóstico, um projecto, remodelar, pôr no mercado a operar, atingir uma fase de maturidade, que na hotelaria é muito tempo, e depois preparar a venda”, destaca Moser, assumindo que já há outros projetos em análise.
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