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Podíamos estar a falar de um casal de turistas britânicos, que depois de descobrirem a soalheira região sul do nosso país decidem por lá ficar. Mas, a verdade é que Amélia Santos e Nuno Vitorino são portugueses, mas estiveram emigrados em Londres, no Reino Unido, onde criaram um negócio na área da alta-fidelidade e trouxeram-no para Portugal.
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Tudo começou em 2009, ainda a morarem em Londres, quando sentiram falta de uma forma prática de ouvir música, mas não descurando a qualidade.
Tanto Nuno como Amélia são formados em Engenharia Informática pelo Instituto Superior Técnico, em Lisboa; ele seguiu pela área de consultoria na Deloitte e ela integrava a equipa de liderança do canal online da Tesco.
Tal como acontece com muitos outros exemplos de marcas de alta-fidelidade, também a Innuos começou por ser um hobby. No pouco tempo que tinha livre, Nuno montou um pequeno servidor com peças e software, comprados a terceiros, e passou a sua coleção de CD para o disco rígido interno. Tudo isto aconteceu numa altura em que as plataformas de streaming de música ainda estavam a dar os primeiros passos, muito longe da ubiquidade atual.
O prazer e a facilidade de ouvir música eram elogiados sempre que tinham visitas em casa e passou a ser frequente receberem pedidos de amigos para lhes montarem um sistema igual. A quantidade de solicitações levou Nuno Vitorino a construir mais servidores e experimentar colocá-los à venda no eBay e na Amazon. Ter abdicado de horas de sono e do pouco tempo livre que tinha foi afinal compensador: “Nos primeiros seis meses vendemos 200 unidades”, recorda.
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Amélia Santos conta que depois de tirar o MBA na INSEAD, via com frequência os colegas a criarem os seus próprios negócios. “Eu era extremamente avessa ao risco. Só depois de perceber que existia um mercado para estes produtos tive o clique para avançarmos para o negócio”, explica-nos a CEO da Innuos.
A chegada ao Algarve aconteceu em 2013, não porque tivessem alguma ligação prévia à região, mas porque quiseram, intencionalmente, descentralizar a sua operação para fora da Grande Lisboa ou do Grande Porto.
Além disso, foi fundamental acreditarem no seu potencial para o desenvolvimento noutras áreas para lá do turismo: o Algarve tem aeroporto internacional, qualidade de vida e capacidade de atrair estrangeiros. Os apoios ao financiamento para o empreendedorismo e emprego, como o programa CRESC Algarve 2020, fizeram o resto.
Até há dois anos, a empresa esteve sediada na zona industrial de Loulé, no edifício ninho de empresas do IEFP. No período de sete anos, o volume de negócios cresceu internacionalmente: “Estamos presentes em 42 mercados e 99% do que fazemos é para exportação, sendo 70% para fora da União Europeia. E, hoje, na nossa equipa, temos pessoas de cerca de dez nacionalidades. Somos 45 espalhados por vários sítios, mas 30 estão no Algarve.”
A gama de produtos Innuos – acrónimo de “innovation through open services” – contempla desde os novos streamers Pulse, com um preço a começar nos mil euros, até aos 20 mil euros, no caso do Statement, o topo de gama da marca. Mas, além dos equipamentos físicos, existe também a preocupação com a facilidade de utilização da interface com os produtos. “Desenvolvemos a nossa própria eletrónica e o nosso próprio software, especificamente, para áudio digital. Fazemos reprodutores de rede, streamers, em que é possível tocar música de serviços de streaming de alta resolução, como Qobuz ou Tidal, e tocar também música de CD que tenham sido digitalizados para o equipamento, usando a nossa aplicação, que permite editar capas, procurar metadados e é muito fácil criar playlists num tablet ou smartphone“, explica Nuno Vitorino.
Encontrar um sítio para as novas instalações não foi fácil. Idealmente, teriam de ser 1500 metros quadrados, mas tiveram de ficar com apenas mil metros quadrados. No interior, encontram-se espaços projetados com elevadíssimos critérios de produção, como o laboratório ESD, com controlo de humidade e temperatura para produção e assemblagem de equipamentos eletrónicos.
António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar, depois de ter participado no último Conselho de Ministros, realizado na região do Algarve, na passada quinta-feira, 2 de março, marcou presença na inauguração das novas instalações da Innuos, em Faro.
Depois de uma visita a todos os departamentos da empresa, o ministro ficou rendido à audição da “Nona Sinfonia”, de Ludwig van Beethoven, uma das suas músicas preferidas, a tocar a partir do servidor Statement, integrado num sistema “high end“, de muitos milhares de euros. “Nada se faz sem competências profissionais”, realçou no fim, a propósito da importância daquilo que a Innuos está a fazer para o desenvolvimento sobretudo da região algarvia e para o país.
O futuro da Innuos passa por explorar novos mercados como Hong Kong e Singapura. Mas também pela possibilidade de alargar a área de negócio, com os estúdios profissionais de gravação de música e o áudio digital para o infoentretenimento na indústria automóvel, um setor avaliado na sua totalidade em 43 mil milhões de euros, para 2025.
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