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Os dias da moda de consumo rápido estão a ser contados e, no que depender do super estilista Michael Cinco, serão substituídos por tecidos e peças intemporais.
“Depois da pandemia, as pessoas perceberam que precisamos de ser “eco-friendly” e ter consciência do impacto da moda”, disse Michael Cinco ao Dinheiro Vivo, nos bastidores da Semana da Moda de Los Angeles.
“Agora há noção de que é preciso comprar tecidos de qualidade e moda de qualidade, em vez de comprar roupas mais baratas e descartáveis”, considerou. “Se alguém compra roupa de qualidade, pode conservá-la e apreciá-la para sempre.”
Envergando os seus habituais óculos escuros, Cinco refletia naquilo que mudou nos últimos anos, em especial a mudança de mentalidade que aconteceu por causa da pandemia de covid-19.
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O confinamento provocou uma enorme disrupção na indústria da moda, forçando as lojas a encerrar, dificultando a produção e diminuindo as vendas de forma drástica. Imran Amed, CEO da The Business of Fashion, disse no início da pandemia que esta era “uma crise existencial” da indústria, cujas consequências seriam difíceis de prever.
“Durante a pandemia, um dos negócios mais vulneráveis e um dos mais afetados foi o da moda, porque requer muitos custos”, notou Michael Cinco. A crise trouxe, no entanto, uma perceção diferente por parte dos consumidores. “Para ser sustentável, uma pessoa tem de ser inteligente na forma como gasta e como compra roupas. Ou seja, comprar produtos de qualidade que lhe vão durar para sempre.”
Os números da chamada “moda rápida” ajudam a perceber porque é que passou a haver um foco tão grande na moda e sustentabilidade na sequência da crise pandémica. Estima-se que sejam produzidas 100 mil milhões de peças de roupa anualmente. Dessas, três em cada cinco serão descartadas no prazo de um ano. Muitas – 21 mil milhões por ano – irão parar às lixeiras. E o impacto ambiental da produção, desde a água necessária às árvores que são cortadas para produzir tecidos celulósicos, é de uma dimensão cada vez mais crítica. No global, a indústria do vestuário valeu 825,7 mil milhões de dólares em 2021 (cerca de 750 mil milhões de euros), de acordo com a IBISWorld.
Aquilo que defende Michael Cinco – considerado um “pioneiro da alta costura eco” no Dubai, onde reside – é que a moda de qualidade deve sobrepor-se à moda de rua, rápida e barata. Isso mesmo acabou por ser visível nos modelos que apresentou na noite inaugural da Semana da Moda de Los Angeles (LAFW, na sigla inglesa), com uma coleção bastante virada para o pronto-a-vestir de qualidade. Muitos brancos, alguns pretos, e uma aura de usabilidade elegante que muitas vezes não se encontra nas passarelas.
“Integrei isto na coleção que apresentei, que tem um visual clássico”, explicou. “Pode-se usar estas roupas durante muito tempo. Seguem as tendências mas, ao mesmo tempo, nunca saem de moda.”
Cinco, que é conhecido pelos fabulosos vestidos de noite, apresentou como joias da coleção vestidos em tons de verde, que brilham no escuro. Usando materiais como tule e lã e designs pintados à mão, Cinco indicou que a sua inspiração veio do céu. “Foram inspirados pela aurora boreal”, detalhou. “É mágica, dá-nos liberdade, dá-nos calma e algo com que sonhar.”
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