Há três anos, a cadeia espanhola de supermercados Mercadona anunciou que tinha um alvo de internacionalização: Portugal. Desde então nasceram 317 supermercados, elevando para 2820, até ao final do ano passado, o número de lojas de retalho alimentar no país, segundo o Sales Index 2019, da Markest Consulting. Só em Lisboa foram 76, seguida de Faro (34), Setúbal (32) e Santarém (21). Já o Porto, onde na terça-feira abre no Canidelo (Vila Nova de Gaia) a primeira de dez lojas Mercadona previstas para 2019, chegou ao final de 2018 com apenas mais dois supermercados. Em Braga e Aveiro, outros dos distritos em que a Mercadona já anunciou que vai abrir espaços, nasceram 11 e 13, respetivamente.
Em três anos, a malha de cobertura nacional ficou mais fina, com as cadeias a ocuparam o seu espaço.
Afinal, como já tinha avisado em 2017 o presidente da Mercadona, Juan Roig, “depois do Porto continuamos por ali [Portugal] abaixo”. Em sete ou oito anos, a Mercadona quer ter 200 lojas, já investiu 160 milhões de euros e conta chegar ao final do ano com mil trabalhadores. Os dois maiores grupos nacionais de distribuição, a Jerónimo Martins e a Sonae, não tardaram em reforçar a sua mancha: só o Amanhecer abriu 96 lojas, seguido do Meu Super (49) e do Continente (46).
Game Changer
Estão todos à espera da entrada de um operador que Pedro Pimentel, diretor-geral da Centromarca, não hesita em classificar de “potencial game changer do mercado nacional”. Afinal, “num mercado de soma zero”, em que quando o valor sobe, descem os volumes, com pressão demográfica negativa, em que o impacto positivo do turismo tenderá a atenuar-se nos próximos anos, a entrada de uma nova cadeia far-se-á sempre “à custa da participação de mercado dos restantes retalhistas e não pela via de ganhos resultantes do crescimento do próprio mercado”.
Na sua primeira incursão internacional, a Mercadona veio com as suas armas mais modernas – o novo modelo de lojas (com 1500 a 1800 m2) – e as que já deram provas de sucesso do outro lado da fronteira: a sua marca própria que em Espanha representa “quase 70% das suas vendas totais”. Mas também aportuguesou-se. A começar pelo sortido, escolhido a pensar no consumidor português, pelo reforço de compras a fornecedores nacionais – só em 2018 foram 88 milhões, mais 40% do que em 2017 – mas também pela introdução de áreas de pronto-a-comer, uma oferta que passou a fazer parte das novas lojas em Espanha depois da incursão portuguesa da cadeia.
Com o objetivo de ter entre 150 a 200 lojas no país – já está a marchar rumo ao Sul – a Mercadona é um fator de pressão para todos os operadores. Uns mais do que outros. “Pela tipologia de lojas, pelo formato do modelo de negócio e de organização logística, pelo peso das suas marcas próprias no total de vendas, e, pelo facto de, estando atualmente na terceira posição do ranking, ser o primeiro alvo relevante a ultrapassar, o Lidl será muito provavelmente o operador que concorrerá mais diretamente com a Mercadona”, diz Pedro Pimentel. Mas terá sido a cadeia alemã (que adicionou 11 lojas à sua rede, para 250 no final do ano passado), “de todos os operadores do nosso mercado, aquele que mais e melhor se preparou para esta entrada”.
A pressão estende-se a toda a cadeia de valor. Retalhistas – “cada um pretendendo ganhar, ou pelo menos, não perder a sua fatia de bolo total” – e fornecedores que, “infelizmente, serão empurrados no sentido de vender os seus produtos em condições ainda mais desfavoráveis”, acredita Pedro Pimentel.
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