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A Jerónimo Martins, o grupo dono da Biedronka e do Pingo Doce, viu os lucros recuar 17,8%, para 219 milhões de euros, até setembro. No período as vendas do grupo fixaram-se nos 14,198 mil milhões de euros, uma subida de 3,9% face aos primeiros nove meses do ano passado.
O grupo – que no terceiro trimestre viu subir 2,7% as vendas, para 4,8 mil milhões de euros, e os lucros para 115 milhões (+11,2%) – vai propor, em novembro, em assembleia geral extraordinária de acionistas a distribuição de reservas de 86,7 milhões de euros, ou seja, o payout de 50% dos resultados consolidados de 2019. Este valor junta-se aos 130,1 milhões de euros de dividendos pagos em julho.
“No início da pandemia, face à então muito reduzida visibilidade sobre o impacto potencial da crise na atividade do ano, o payout dos resultados de 2019 foi reduzido, dos 50% inicialmente propostos, para 30%. Nesta fase, as nossas companhias deram provas da sua resiliência e determinação. Assim, atendendo à força do desempenho do grupo em tempos de adversidade, à luz da posição de caixa que temos no final de setembro e do nível de flexibilidade financeira que consideramos necessária no futuro, o Conselho de Administração decidiu propor em Assembleia Geral Extraordinária, a distribuição do montante remanescente para o payout de 50%, em linha com a política de dividendos do Grupo”, anuncia Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, citado no relatório e contas.
O retalhista alimentar fechou setembro com um cash flow de 205 milhões de euros, menos do que os 356 milhões de euros registados até setembro do ano passado.
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“Estes nove meses de 2020 ficam marcados por mais de seis meses sob os efeitos da pandemia por covid-19. Neste período, o trabalho determinado das nossas equipas e a flexibilidade das nossas operações permitiram-nos sermos ágeis e criativos na adaptação necessária das propostas de valor das nossas insígnias em condições de mercado especialmente complexas. Reforçámos, assim, a sua pertinência e assertividade para o consumidor”, continua o gestor.
A incerteza permanece muito elevada e que o Natal, época tradicionalmente mais forte para o negócio alimentar, poderá estar este ano condicionado pelas restrições à mobilidade e pela falta de confiança e capacidade de compra de um consumidor cada vez mais sensível ao preço, derivado do momento único que se vive a nível mundia
“Ao longo destes meses, a força do nosso balanço tornou possível que não perdêssemos, na urgência do curto prazo, a perspectiva do longo prazo e que nos mantivéssemos firmes nas prioridades estratégicas definidas. Apesar da dureza dos tempos que vivemos, acredito que estamos hoje mais bem preparados do que há seis meses para lidar com as exigências da realidade de cada mercado e para continuar a crescer de forma sustentável”, diz.
O CEO do grupo fala do atual momento de incerteza, causado pela pandemia, que poderá impactar o Natal, época de fortes vendas para o retalho alimentar.
“Estou consciente de que a incerteza permanece muito elevada e que o Natal, época tradicionalmente mais forte para o negócio alimentar, poderá estar este ano condicionado pelas restrições à mobilidade e pela falta de confiança e capacidade de compra de um consumidor cada vez mais sensível ao preço, derivado do momento único que se vive a nível mundial”, diz.
Investimento do grupo deverá situar-se nos 450 milhões
Apesar da visibilidade “reduzida” sobre as condições de mercado para os próximos meses, que incluem a época do Natal, e do “contexto do incerto desenvolvimento da situação epidemiológica e das medidas que continuam a ser implementadas nos mercados em que operamos, antecipando-se restrições à mobilidade a nível global”, o grupo mostra-se otimista.
“Estamos agora mais preparados para garantir uma resposta adequada aos desafios que ainda possam surgir e para continuarmos a disputar e a conquistar a preferência dos consumidores numa envolvente operacional comparativamente muito mais exigente”, dizem.
No que toca ao plano de investimentos, e “beneficiando de uma gestão menos restritiva da crise sanitária na Polónia”, a Biedronka foi a a cadeia que “mais rapidamente retomou o plano original, tentando imprimir um ritmo de execução compatível com a recuperação dos atrasos na expansão”, diz a Jerónimo Martins, que aponta planos concretos de abertura de lojas.
“Se as condições no sector da construção não se alterarem, esperamos que, no ano, a Biedronka acrescente à sua rede de lojas mais cerca de 100 localizações. O Pingo Doce espera abrir cerca de 13 lojas e a Ara cerca 50. O valor estimado de capex para o Grupo, em 2020, deverá situar-se em cerca de 450 milhões de euros”.
O capex (excluindo os direitos de utilização adquiridos de acordo com a IFRS16) foi de 258 milhões de euros, até setembro, tendo a Polónia absorvido cerca de 55% deste valor.
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O EBITDA do Grupo cifrou-se nos 1.029 milhões de euros, 1,9% abaixo do primeiros nove meses do ano passado. A taxas de câmbio constantes, o EBITDA foi relativamente estável (+0,3%). A respectiva margem foi de 7,3% (7,7% no ano anterior).
“Este desempenho de margem incorpora já o aumento dos custos operacionais no contexto da pandemia (cerca 32 milhões de euros) e um efeito de desalavancagem operacional, particularmente forte no segundo trimestre, dos negócios que registaram nesse período uma pressão sobre o desempenho das vendas. No terceiro trimestre, a relativa recuperação das vendas e a implementação de iniciativas de contenção de custos em todas as companhias permitiram ao grupo atingir um EBITDA de 395 milhões de euros, 3,3% acima do terceiro trimestre 19, com a respectiva margem a cifrar-se em 8,1% (8,0% no terceiro trimestre de 2019)”, refere o grupo.
Polónia: Biedronka sobe vendas 7,3% para 9,9 mil milhões
Até setembro, a polaca Biedronka registou vendas superiores a 9,9 mil milhões, uma subida de 7,3% face a igual período do ano passado, com o contributo dos resultados do terceiro trimestre, cujas vendas atingiram os 3,4 mil milhões de euros, 6,4% acima do trimestre homólogo do ano passado.
“Após ter temporariamente suspendido, no início da pandemia, o plano de investimento, a Biedronka está agora concentrada na execução do seu plano de aberturas e de remodelações, tendo inaugurado 52 novas localizações (45 adições líquidas) e remodelado 167 lojas”, informa o grupo.
A Biedronka registou um EBITDA de 913 milhões de euros (+5,7%), com a margem EBITDA a fixar-se nos 9,2%, menos 0,2 pp do que há um ano.
Já a cadeia Hebe vendeu 180 milhões de euros, em linha com os resultados do ano passado. “O desempenho da insígnia foi muito impactado no segundo trimestre pelo encerramento dos centros comerciais cuja reabertura no início de maio, em conjunto com a recuperação de alguma vida social no país, permitiu à companhia recuperar dinâmica de vendas, visível no desempenho do terceiro trimestre”, diz. O EBITDA da Hebe cifrou-se em 10 milhões de euros (+18,2%).
Pingo Doce: vendas a recuar 2,3%
Em Portugal, o ambiente de consumo manteve-se pressionado pelos efeitos da pandemia, “com sinais claros de trading down no retalho alimentar”, alerta o grupo. A inflação alimentar foi de 2,1% no período (+2,3% no terceiro trimestre).
O Pingo Doce foi impactado. Até setembro, cadeia fechou com 2,8 mil milhões de euros em vendas, um recuo de 2,3% face ao mesmo período do ano anterior. No terceiro trimestre as vendas reduziram-se em 1,2%, para mil milhões de euros. Apesar disso, uma melhoria face à queda de 8,5% registada no trimestre anterior, vindo de um período pré-pandemia onde a cadeia crescia 3,5% as vendas.
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“O Pingo Doce esteve particularmente exposto à redução da circulação de pessoas, quer pelo seu histórico de elevada densidade de vendas e elevado número de visitas, quer pelo impacto que a ausência de tráfego tem nos restaurantes, cafés e na categoria de take-away da insígnia”, refere o grupo.
A cadeia abriu nove novas localizações e realizou 17 remodelações.
Recheio: descida de 15,6% reflete “queda dramática” no canal HoReCa
O Recheio registou vendas de 639 milhões de euros, uma descida 15,6% face ano passado. No trimestre a queda ainda é mais acentuada: 17,5%. “O desempenho continuou a refletir a queda dramática registada no canal HoReCa, que representava mais de 35% das vendas do Recheio”, refere o grupo.
“A permissão, a partir de 18 de maio, para reabrir restaurantes levou a um processo lento e irregular de reativação da atividade, com muitos pequenos negócios a permanecerem encerrados. O consumo alimentar fora de casa – que, em Portugal, é em grande parte suportado pelo turismo – sofre também em resultado da retração da procura dos consumidores locais”, reforça a Jerónimo Martins.
A distribuição em Portugal registou um EBITDA de 190 milhões de euros, 21,4% abaixo do mesmo período do ano anterior, com a margem EBITDA a fixar-se nos 5,5% (6,6% há um ano). “A pressão sobre a margem, apesar do contributo da revisão de custos efetuada, reflete as despesas adicionais relacionadas com a pandemia em curso e a desalavancagem operacional provocada pela redução de vendas”, justifica. No terceiro trimestre a margem recuou dos 7,4% de há um ano para 6,7%.
Ara: cadeia abriu 33 lojas
Na Colômbia, onde o grupo detém a Ara, as medidas de confinamento mantiveram-se em vigor desde o início de abril até ao final de agosto, “com impacto muito relevante na economia”, com a economia a reabrir em setembro.
A Ara aumentou as vendas 9,9% para 615 milhões de euros. “No terceiro trimestre as vendas em moeda local cresceram 10,9% (-5,6% em euros), com um LFL de – 1,7%, afectado pela redução de cerca de 16% das horas de funcionamento das lojas no contexto do encerramento obrigatório como uma das medidas de combate à pandemia”, refere a JM.
A cadeia registou uma redução de 2 milhões das perdas EBITDA, que de 25 milhões de euros negativos há um ano, para 23 milhões de até setembro, “beneficiando da desvalorização do peso colombiano”, diz. “No terceiro trimestre, e já beneficiando da revisão de custos em curso, as perdas caíram em moeda local cerca de 20%, reduzindo, em euros, 35,3% para 3 milhões de euros.”
Até setembro, a Ara abriu 33 lojas (25 adições líquidas).
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