//“É preciso equidade na forma como se taxa a eletricidade e o gás”

“É preciso equidade na forma como se taxa a eletricidade e o gás”

Giles Dickson, CEO da WindEurope, veio à conferência anual da APREN reclamar tratamento igual, a nível fiscal, das várias energias. E garantiu: “As renováveis significam mais euros na carteira dos portugueses”

O Green Deal, o novo pacto ecológico que conduzir a União Europeia à neutralidade carbónica em 2050, deve ser visto pelos portugueses como uma oportunidade para pagar menos pela energia que consomem. Esta é a convicção do CEO da WindEurope, a associação europeia da energia eólica, para quem a expansão das renováveis significa “mais euros na carteira” do consumidor.

Giles Dickson foi um dos oradores do primeiro painel da conferência Portugal Renewable Energy Summit 2020, que decorre hoje e amanhã na Culturgest, em Lisboa, que se dedicou a analisar as potencialidades do Green Deal enquanto estratégia de crescimento para a Europa. Convidado a enunciar os três maiores benefícios desta política para Portugal, este responsável começou por enunciar os benefícios da descarbonização, sublinhando que “isto significa que os consumidores portugueses não terão de continuar a pagar para importar combustíveis fósseis de fora da Europa porque a energia passará a ser gerada localmente”.

A criação de emprego foi o segundo vetor destacado. “Portugal tem uma cadeia de valor de fornecimento fantástica para as eólicas”, defendeu, lembrando as fábricas de componentes de Viana do Castelo e de Vagos, que são produzidas as pás, as baterias e os geradores para as turbinas eólicas, unidades “altamente competitivas” e que estão a exportar “significativamente, trazendo receitas para a economia portuguesa” e que, com o desenvolvimento crescente de parques eólicos por toda a Europa, “vão ainda desenvolver-se mais”.

Mais importante ainda, pelo menos do ponto de vista do consumidor, é a questão da fatura mensal e, a esse nível, Giles Dickson é perentório: “A transição energética significa o recurso cada vez maior às energias renováveis, que são a forma mais barata de energia. Quanto mais renováveis se consumirem, menos terão os consumidores portugueses que gastar no seu abastecimento energético”.

Mas há desafios, reconhece, destacando a necessidade de ser garantindo o “equilíbrio” na forma como o gás e a eletricidade são taxados. “Há muita gente em Portugal que aquece as suas casas com recurso a caldeiras a gás e que até poderiam considerar mudar para a eletricidade, mas percebem que, para mudar, vão pagar mais impostos por unidade de energia consumida porque os impostos sobre a eletricidade são mais altos do que os do gás e isso está mal. Tem que mudar. Tem de haver equidade na forma como se taxam as diferentes formas de energia”, defende.

Sobre o papel das renováveis na reindustrialização da Europa, Giles Dickson e os seus parceiros de painel, Walburga Hemetsberger e Dörte Fouquet, responsáveis, respetivamente da SolarPower Europe, a associação europeia do solar fotovoltaico, e da ERFE , a Federação Europeia das Energias Renováveis, foram unânimes em considera que esta é uma “grande oportunidade” para todos, mas que há que, antes de mais, definir uma estratégia “ousada e ambiciosa” para impulsionar a inovação, que pode levar ao desenvolvimento de uma cadeia industrial, designadamente ao nível das baterias. “A inovação é a chave disto tudo”, acredita Walburga Hemetsberger, para quem o desenvolvimento do mercado solar “terá sempre de ser a base de qualquer estratégia industrial na Europa”.

Giles Dickson concorda. “É preciso continuar a apoiar ativamente a cadeia de valor” do sector, o que significa continuar a investir nas tecnologias que já estão maduras, “tal como se continua a investir nas indústrias automóvel e aeroespacial”, sob pena da Europa perder a sua competitividade nestas áreas face à China. O que não significa, alerta, a implementação de políticas restritivas. “É preciso continuar a apoiar a uma política comercial aberta. As renováveis têm sido competitivas, até agora, porque temos conseguido importar componentes mais baratos, designadamente da China. A Europa tem de se manter aberta ao comércio”, defende. Walburga Hemesberger partilha da sua visão. “Vivemos num mundo global e assim tem de continuar. A transição energética é para se fazer com o apoio de parceiros de fora da Europa”, defende.

Por outro lado, Giles Dickson lembra que tudo está a mudar e própria China já anunciou que pretende atingir a neutralidade carbónica até 2060, um compromisso “extremamente significativo”, acredita. “No futuro, teremos Estados elétricos e não Estados petrolíferos e a Europa tem que se posicionar para ser um deles. A China quer posicionar-se, ativamente, na liderança desta transformação, mas não é a importarmos energia elétrica que vamos fazer a transição energética na Europa. Temos de garantir que somos nós a liderar este processo”, defende o CEO da WindEurope.

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