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Lucros a mais do que duplicar (+129%), negócio a crescer (2,5 mil milhões de faturação, representando mais 54%) e capacidade de produção a aumentar. O último ano foi de resultados extraordinários para a Navigator e neste novo ano as perspetivas são de novos recordes, depois de ultrapassada pela primeira vez a histórica barreira dos dois mil milhões de euros de volume de negócios. Num ano marcado pela guerra e pela inflação que fez disparar os custos industriais para muitas companhias, as vendas de papel representaram para a empresa que se destaca no ranking das exportadoras nacionais cerca de 74% do volume de negócios (pesavam 72% um ano antes), com o braço energético a subir aos 10% em ano de crise e a pasta e tissue a valer 8% cada. “A dinâmica dos preços internacionais de pasta, papel embalagem e tissue, potenciada pela melhoria do mix de produto e pelo foco no aumento de produtividade, a par da evolução dos preços de venda de energia renovável, impulsionaram os bons resultados registados no ano”, justificou a empresa na apresentação de resultados referentes a 2022.
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E se os resultados vão continuar a fazer brilhar a Navigator, parte deles será atingida à boleia do boost que chegará do tissue, graças à recente conclusão da compra da Gomà-Camps. Acrescentar ao portefólio o potencial do histórico do setor em Espanha permitirá à Navigator aumentar a produção de papel tissue em 60 mil toneladas.
“Com esta aquisição, a companhia reforça a sua posição estratégica no papel tissue, tornando-se no segundo maior player ibérico”, confirmou a empresa no início do mês, quando anunciou ao mercado o negócio que lhe dá uma capacidade anual de produção de 165 mil toneladas, menos de uma década após a estreia nesta área. O objetivo é alcançar 300 milhões de euros de vendas consolidadas provenientes desta área e torná-la na segunda mais relevante para a empresa liderada por António Redondo, à frente das renováveis, pasta e packaging. Com o volume de negócios a vir maioritariamente de fora.
No top 3 da exportação e com investimento recorde em recursos humanos
Feitas as contas, num ano de exportações recorde para o país – atingindo o valor acumulado de 120 mil milhões de euros, mais 34% do que em 2021 -, a Navigator fixou-se no terceiro lugar entre as maiores exportadoras nacionais, logo após a Petrogal e a Autoeuropa. Sendo também, segundo o INE, a maior geradora de Valor Acrescentado Nacional do país. Nisto pesa a elevada incorporação nacional nos seus produtos, com a papeleira a contribuir de forma determinante para a economia e a geração de emprego a nível local. A companhia responde já por 3115 colaboradores, com o número mais alargado de postos de trabalho gerados (diretos, indiretos e induzidos) a multiplicar esse número por dez.
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Consciente da relevância dos meios humanos no negócio, em 2022, a Navigator reforçou em 31 milhões de euros o investimento com pessoal, alargando assim os prémios de desempenho, uma remuneração extra que ronda os 1633 euros e que se soma a um novo prémio de produtividade que garantiu aos colaboradores entre 18,5 e 19,5 salários no ano de 2022.
No retrato da companhia, a dimensão nacional contrasta com o negócio feito nos cinco continentes, com destaque para a Europa, Norte de África e Médio Oriente.
De acordo com os dados oficiais, 73% dos 7300 fornecedores da companhia são portugueses, sendo despendidos anualmente cerca de 1500 milhões de euros em fornecimentos e prestações de serviços. De toda a produção, mais de 90% é vendida fora das nossas fronteiras, com a Navigator a representar 1% do PIB nacional.
A evolução é justificada pela empresa com a capacidade inovadora do grupo, que “tem sido fundamental na conquista de novos clientes e de quota de mercado”. “Na área do papel de impressão e escrita, a companhia terminou 2022 com 107 novos clientes na Europa e 64 no resto do mundo, num total de 171. No packaging, concluiu-se o ano com vendas em 150 clientes europeus e 35 fora deste continente, num total de 185, que representa um crescimento de 50% da base de clientes face a 2021.” Por último, o negócio tissue integrou mais quatro clientes, somando agora um total de 630, e na pasta foram mais 11 (nove deles na Europa), chegando a um total de 158.
Novo ano com ambição de diversificação
Depois de um 2022 extraordinário, António Redondo mantém planos ambiciosos para a expansão da companhia, apesar de alguma cautela justificada pelo atual contexto político-económico, marcado pela desaceleração das economias, pela elevada inflação e pelo prolongar da guerra na Ucrânia que continuam a alimentar a imprevisibilidade. Conforme se explica no relatório dos resultados anuais, “a redução da procura que se sentiu no segundo semestre de 2022 – principalmente por efeitos de stocks elevados ao longo da cadeia de distribuição, resultado do forte aumento da procura a partir do verão de 2021 e durante todo o primeiro semestre de 2022 – ainda se faz sentir no arranque de 2023”. Sem antecipar grandes alterações na procura e antevendo a continuidade do destocking, o foco será ainda “na redução de custos variáveis, controlo de custos fixos e maximização das eficiências operacionais”, mas sem tirar gás aos planos de diversificação e desenvolvimento de produtos.
“O desenvolvimento do novo segmento de packaging continua a revelar sinais bastante positivos, traduzidos pela crescente base de clientes, reconhecimento da qualidade dos produtos e, consequentemente, da marca gKraft, servindo a marcas de grande exposição, em setores tão distintos como a área da moda, retalho alimentar, e-commerce, indústria ou agricultura. A marca gKraft continua a assentar a sua estratégia de crescimento em produtos de maior valor acrescentado, impondo gradualmente os seus argumentos de diferenciação e sustentabilidade, muito assentes na qualidade das matérias-primas (sobretudo em fibra de Eucalipto Globulus), que apresenta particularidades muito interessantes que permitem reduzir o consumo de fibra”, explica ainda a companhia, que vê igualmente “grande potencial de crescimento” nas embalagens alimentares, com a sustentabilidade a assumir o centro dos planos de negócios das empresas.
“A fibra virgem é a adequada para embalagens alimentares (…), o que oferece grandes oportunidades de crescimento”, assume a Navigator, revelando que “estão em curso vários desenvolvimentos que poderão abrir portas, a curto prazo, a outros segmentos de alto valor acrescentado”. De acordo com os números divulgados aos mercados, o packaging atingiu, no último ano, 90 milhões de euros, duplicando o valor de vendas de 2021. E o investimento nesse segmento – com a construção de uma fábrica de produção de peças de celulose moldada (para substituir o plástico que protege alimentos, nos pontos de vendas ou na perspetiva de utilização única) na Navigator em Aveiro, que deverá arrancar com a produção no primeiro trimestre de 2024 – irá potenciar esses valores. “A fábrica terá uma capacidade inicial de 100 milhões de peças, estando prevista a possibilidade de se fazerem aumentos de capacidade nos anos seguintes.”
A par da estratégia alinhada com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas – que já deram à companhia o terceiro lugar no ranking mundial de sustentabilidade da Sustainalytics -, nos planos de desenvolvimento da Navigator é central a inovação. E o I&D tem por isso ganho peso, numa companhia que assume esse ADN desde a sua origem, em 1957. “A Navigator atravessa um entusiasmante ciclo de investimento, inovação e diversificação, com vista a liderar as novas oportunidades para os produtos de base florestal na substituição dos artigos de origem fóssil por bioprodutos renováveis, recicláveis e biodegradáveis elaborados a partir da celulose, contribuindo assim para a resposta aos desafios das alterações climáticas e a perda de biodiversidade”, assume a companhia.
“Um grande desafio associado ao projeto [do packaging] prende-se com o desenvolvimento de propriedades barreira biodegradáveis que permitam assegurar as funções de proteção dos alimentos e de isolamento apropriado a líquidos e gorduras constituintes dos mesmos”, exemplifica-se. É assim assumido um forte investimento no desenvolvimento de “bioprodutos sustentáveis, a partir de matérias-primas provenientes de florestas, com gestão certificada ou de origem controlada, reduzindo a dependência dos recursos fósseis e promovendo a descarbonização da economia”.
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