Partilhareste artigo
A implementação da semana de quatro dias, tal como proposto pelo Governo em sede de Concertação Social, não convence os empresários, que consideram que a medida terá um impacto “muito negativo” sobre a competitividade, a produtividade e os lucros das empresas.
Relacionados
Entre os inquiridos, 71% consideram o impacto da medida nas empresas “negativo ou muito negativo” para os lucros, 70% para a organização dos processos internos das empresas, 69% alertam para os efeitos a nível da competitividade e 65% para a queda da produtividade.
Em causa estão os dados do mais recente inquérito da Associação Empresarial de Portugal (AEP) que, nas últimas semanas, auscultou os seus associados sobre esta temática, recebendo 1130 respostas. Destas, mais de um terço considera que a medida só beneficia os trabalhadores, sendo que outros tantos defendem mesmo que “não será benéfica para nenhuma das partes”.
No caso da indústria, o número de empresários que apontam a semana de quatro dias como interessando apenas aos trabalhadores chega quase aos 50%, o que leva o presidente da AEP a considerar que “é muito clara a opinião dos empresários relativamente à falta de oportunidade de se avançar com este modelo e o grande ceticismo da sua aplicação ao setor industrial”. Para Luís Miguel Ribeiro, quando muito, a situação “poderá ser interessante” para os serviços, que podem ser realizados à distância. “Nas indústrias transformadoras não será possível. As máquinas trabalham de forma contínua e não podem parar”, defende.
A prová-lo está o facto de só 10% dos inquiridos acharem que a medida pode ser “muito benéfica” tanto para empresas como para trabalhadores, e não haver nenhuma resposta a considerar que sejam as empresas a tirar melhor partido da mudança.
Subscrever newsletter
Questionados sobre os vários cenários possíveis em termos de contrapartidas, todos são chumbados pelos empresários, independentemente de haver ou não apoios financeiros da Estado para fazer a transição. Mesmo com um corte de 10% nos salários e com apoios do Estado, 86% dos inquiridos continuam a achar que a situação é pouco ou mesmo nada vantajosa. Número que sobe para 94% no caso de haver uma redução de 20% nas horas trabalhadas, sem qualquer corte salarial, e sem apoios para fazer a transição.
Mas há impactos positivos apontados, como os ganhos ao nível dos gastos energéticos, identificados por 40% dos empresários, e na menor incidência de acidentes de trabalho, benefício indicado por 24% das respostas. Por fim, admitem-se melhorias ao nível das taxas de absentismo (39%) e nos gastos com consumíveis (35%).
Do ponto de vista das implicações da semana de quatro dias para os seus trabalhadores, o bem-estar pessoal, com 83% das respostas, e a qualidade de vida, com 78%, são os mais apontados pelos empresários, a par do apoio à família e dos custos com deslocações, indicados por 76% dos inquiridos. Curiosamente, só 48% acreditam que a implementação desta medida daria maior satisfação com o trabalho e 46% que teria efeitos ao nível da intenção do trabalhador em permanecer na empresa.
Por fim, a esmagadora maioria dos empresários (77%) concorda, parcial ou totalmente, que, “em alternativa ao modelo da semana de quatro dias, seria preferível uma total flexibilidade no modelo a adotar, por acordo entre o trabalhador e a empresas”.
“A médio e longo prazo, a medida será negativa tanto para as empresas como para os trabalhadores. Portugal não está preparado para isso e, a ser adotada, a semana de quatro dias vai no sentido contrário daquilo que o país necessita que é aumentar a produtividade e a competitividade”, defende Luís Miguel Ribeiro, sublinhando que a redução de horas implicará custos para as empresas, com a contratação de mais pessoal. O que significa, defende, que o custo de produção será mais elevado, gerando preços mais altos para os consumidores e agravando, assim, a inflação. Aponta ainda a “dificuldade em encontrar mão-de-obra disponível no mercado para ocupar o tempo de trabalho necessário, para manter uma indústria de trabalho contínuo”.
Deixe um comentário