//“Empresas europeias dependem em demasia do financiamento bancário”

“Empresas europeias dependem em demasia do financiamento bancário”

Para o responsável do Fundo Europeu de Investimento (FEI), Alessandro Tappi, o facto de os bancos na Europa não terem atualmente incentivos para conceder crédito penaliza as empresas e a economia europeia.

Um problema agravado pela fragmentação dos mercados de capitais – há mais de 15 na região. Ao contrário do que acontece nos Estados Unidos, as empresas recorrem pouco a fontes alternativas para se financiarem. Neste contexto, as empresas mais penalizadas acabam por ser as pequenas e médias empresas (PME), porque apresentam maiores riscos para os bancos. “No total do setor empresarial, 80% do financiamento na Europa vem dos bancos e apenas 20% de canais não bancários”, disse Tappi em entrevista ao Dinheiro Vivo. “O contrário aplica-se aos EUA, onde 20% do financiamento vem dos bancos e 80% dos mercados de capitais e fundos alternativos. O que significa que, se os bancos têm um problema, a economia real tem um problema maior, o que vimos na crise.”

O Fundo Europeu de Investimento, organismo do Banco Europeu de Investimento, tem como missão apoiar as PME europeias e executar a política da União Europeia em termos práticos. O Fundo cria e desenvolve capital de risco e de crescimento, dá garantias e cria instrumentos de financiamento. Nos acordos com os bancos, o FEI dá garantias e reparte o risco na concessão de crédito.

Tappi esteve em Lisboa nesta semana para a assinatura de acordos de financiamento em parceria com o Millennium BCP. O banco liderado por Miguel Maya tem 900 milhões de euros disponíveis para financiar pequenas e médias empresas portuguesas. O montante divide-se em dois programas distintos da Comissão Europeia. Através do COSME, o BCP dispõe de 500 milhões de euros para financiar 1150 empresas com maior risco. É a primeira vez que o programa apoia empresas em Portugal. A outra linha, de 400 milhões de euros, é uma extensão do programa InnovFin. Vai financiar 750 PME inovadoras em Portugal.

O Fundo tem sido fundamental na aplicação do chamado Plano Juncker, ou Plano de Crescimento para a Europa. Portugal já recebeu apoios de 8,8 mil milhões de euros do FEI no âmbito do plano. Sem este apoio, fica mais difícil a algumas PME terem acesso a financiamento.

“Os bancos já não podem ser bancos porque não podem conceder crédito. Porque fazer empréstimos custa muito em termos de capital”, afirmou Tappi. Com a crise, “os bancos reduziram substancialmente a sua capacidade de financiar a economia, ou seja, as PME.” “E os constrangimentos regulatórios são muitos. Quando se tem de alocar o dobro do capital para a carteira de crédito, claro que há uma tendência para não se emprestar. Não se incentiva a concessão de crédito.”
Tudo “para prevenir a próxima crise financeira”. Mas se o responsável do Fundo Europeu de Investimento não espera que haja uma “nova grande crise”, apesar de prever que “as taxas de incumprimento vão subir em toda a Europa”, o que só não aconteceu ainda devido às baixas taxas de juro. “Não espero outra grande crise. Se houvesse uma nova grande crise seria devido a problemas soberanos, a la brexit. Se outro país decidir tornar-se difícil com a Europa, teremos um problema”, frisou.
No futuro, o FEI deverá continuar a financiar PME mas deverá apoiar mais aquelas mais voltadas para a economia sustentável, defende Alessandro Tappi. A blue economy – dedicada a proteger os recursos marítimos -, a green economy – amiga do ambiente – e a inclusão social são temas que chamam a atenção do FEI e que deverão fazer parte do orçamento do próximo programa. Um programa que terá incorporada “uma filosofia” que não tem existido até agora. “A minha esperança, e sou um verdadeiro crente nisto, é que no programa 2021-27 vamos ter instrumentos dedicados a estes temas. Além do apoio genérico das PME .”

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