Partilhareste artigo
Fundada em 1942 por Fernando Van Zeller Guedes, a Sogrape é uma empresa familiar de vinhos que há 80 anos se preocupa com a sustentabilidade e o desenvolvimento responsável a longo prazo do seu negócio. Detentora de mais de 30 marcas e cerca de 1600 hectares de vinha, mantém uma mentalidade de inovação num setor muito tradicional.
Um estudo mundial conhecido recentemente, que compara a adoção de práticas de sustentabilidade por empresas familiares e não-familiares, realizado por Ivan Miroshnychenko e Alfredo De Massis, do Centro de Investigação em Empresas Familiares da Universidade de Bolzano, indica porém que nem sempre é assim. O estudo, inovador e abrangente, verificou até que ponto as empresas procuram estratégias de prevenção da poluição, gestão verde da cadeia de abastecimento e desenvolvimento de produtos e práticas verdes ao longo do tempo. E considerou práticas adotadas pelas organizações, comparando empresas familiares com não-familiares, abrangendo países do mundo inteiro, num total de 45, ao longo de oito anos.
Se as empresas familiares procuram ser boas cidadãs e, tornando-se sustentáveis, vão ao encontro das expectativas da comunidade, dos reguladores, dos seus clientes e fornecedores – o que contribui para fortalecer a sua legitimidade, reputação e legado para as gerações seguintes -, seria de esperar que, com a sua visão de longo prazo e objetivos de stewardship bem presentes, as empresas familiares fossem comparativamente melhores.
Surpreendentemente, as conclusões do estudo indicam o contrário. Isto é, abordar a crise climática que o mundo atravessa é significativamente mais importante para as empresas cuja propriedade e/ou gestão não se encontra concentrada numa família.
Subscrever newsletter
Boas práticas sustentáveis: uma exceção
Se toda a regra tem exceções, aqui a Sogrape exemplifica um caso inverso à generalidade das empresas familiares. Focada em reduzir a sua pegada ambiental, em 2020, a empresa lançou o Programa Global de Sustentabilidade, no qual fez o mapeamento de todas as iniciativas da organização viradas para criar uma mudança social positiva e respeitar os limites do planeta.
Partindo do propósito “Trazer amizade e felicidade a todos aqueles com quem nos relacionamos através dos nossos grandes vinhos”, a Sogrape procura contribuir ativamente para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
O programa visa abrir caminho a um planeta mais saudável, através de medidas que reduzam a pegada ambiental. É o caso da instalação de três centrais fotovoltaicas, que evitam anualmente a emissão de 620 toneladas de CO2, mas também do projeto NOVATERRA, recorrendo a agricultura de precisão e robótica para reduzir o impacto ambiental. Para a Sogrape, a sustentabilidade – ambiental, económica e social – é um objetivo organizacional a longo prazo, com metas estabelecidas até 2027.
Três C da sustentabilidade para chegar aos três P
Dar resposta às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazer as suas próprias necessidades é a linha orientadora de um desenvolvimento que se quer sustentável. No seu livro Pioneering Family Firms” Sustainable Development Strategies, Sanjay e Pramodita Sharma, defendem que adotar uma lente sustentável tem o potencial de fomentar a inovação, quer ao nível da eficiência e redução de custos quer ao nível da criação de novas soluções lucrativas. E há um bónus: estas empresas tornam-se mais atraentes para as pessoas e para o talento, que se sente atraído e motivado a contribuir para tais causas.
Ter o controlo necessário para poder tomar as decisões estratégicas e realizar investimentos que sirvam uma visão de longo-prazo do negócio e assumir o compromisso de adotar os princípios de desenvolvimento sustentável nas operações são centrais no negócio. Numa fase inicial, os benefícios e o retorno podem ser mais demorados, imprevisíveis e até inferiores aos modelos tradicionais, mas o foco na continuidade do negócio para além da geração atual permitirá ter a resiliência necessária para chegar a uma solução onde o propósito tem o potencial para redirecionar os legados familiares para soluções de sucesso futuro. Por outro lado, o profissionalismo é crucial para fomentar inovação contínua e vantagens competitivas que, aliado a parcerias estratégicas, permitam manter a autenticidade das suas contribuições.
Torna-se assim imperativo consciencializar as empresas familiares para a necessidade e vantagens de adotar medidas para transformar o seu legado em desenvolvimento sustentável.
PhD Candidate & teaching assistant Nova SBE
Deixe um comentário