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A Ericsson está intimamente ligada à implantação da quinta geração da rede móvel (5G) e, por isso, defende um “impulso adicional” na implementação da nova tecnologia, em Portugal, para o país recuperar de um atraso de dois anos. O estímulo deveria partir do Estado a fim de criar “condições extras” para o 5G vingar em tempo útil, mas também deve passar pelo reforço da oferta dos operadores e por uma maior predisposição das empresas no digital.
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Foi na versão lusa do evento Imagine Life que o head of network sales da Ericsson Portugal, Luís Muchacho, explicou ao Dinheiro Vivo o apelo de um dos principais fornecedores de telecomunicações do mundo. A multinacional de origem sueca apresentou, nos últimos dias de outubro, os principais casos de uso em que o 5G é um fator distintivo nas operações das empresas.
“Foi feito nestes últimos dois anos um esforço muito grande de aceleração do 5G, em Portugal, mas ainda há muito para fazer”, afirma o gestor, lembrando que a nova rede móvel “chegou mais tarde a Portugal face ao resto da Europa”, devido ao polémico leilão de frequências português.
“[Apesar do atraso] estamos no bom caminho na implementação das redes […]”, prosseguiu, notando que no meio telco Portugal está numa arena muito competitiva e, no Velho Continente, a maioria dos países tem dois anos a mais de experimentação 5G. E ainda que realce que a própria Europa, no geral, “se encontra mais atrás no desenvolvimento do 5G quando comparada com a Ásia e a América do Norte”, Luís Muchacho não tem dúvidas que urge acelerar por cá. Considerando que a nova rede móvel é “uma ferramenta que pode transformar” a vida das empresas, “deverá ser feita uma aceleração em Portugal”.
Como é que se pode pôr o pé no acelerador do 5G? “Para isso, é necessário que, obviamente, todos cumpram o seu papel pelo impacto positivo que o 5G pode ter”, respondeu. Luís Muchacho explicou que o caminho poderia passar por apostar na nova rede numa ótica de parceria público-privada.
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“O 5G, para ter sucesso, precisa da combinação de duas componentes”, sublinha. É necessária “alta capilaridade” de uma rede “com alta capacidade e com cobertura nacional. Não apenas uma cobertura nacional com capacidade pouco superior ao 4G [evolução tecnológica anterior ao 5G], mas uma cobertura de rede com uma grande velocidade e com maior largura de banda. E aí estamos a falar de 5G”, argumenta.
Existindo 5G acresce a necessidade da nova rede ser standalone. Neste momento, as redes 5G que existem no país são non-standalone, o que significa que toda a estrutura da rede (exceto a antena) é 4G. A fase seguinte é fazer evoluir as redes para o 5G standalone, onde toda estrutura (núcleo da rede, o core; gestão da rede; transporte terrestre da rede, sistemas de interligação entre redes; e rádio, ou seja, a antena) é nativa 5G.
“O 5G standalone é uma realidade na qual Portugal também está um pouco atrasado, quando em Espanha, aqui ao lado, já existem redes de standalone e, no resto da Europa e do mundo, também já há um conjunto alargado dessa rede”, sublinha o head of networks sales da Ericsson Portugal. Ora, adianta o gestor, é “a combinação de elevada largura de banda com o espetro das bandas médias e o 5G standalone que permite criar um conjunto de casos de uso diversificados e utilizar características que tornam o 5G numa rede de multisserviços”.
É nesta combinação, segundo Muchacho, que reside “a alavanca para o sucesso” da nova tecnologia, seguindo uma ótica público-privada. “Cada player [leia-se operadores de telecomunicações] têm trabalho a fazer, mas também aqui pode existir um incentivo [governamental]”.
“Em países como Espanha foram alocados fundos públicos ou fundos europeus do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] para financiar a implantação de infraestrutura 5G. Isso não aconteceu em Portugal”, afirma, alertando que o desenvolvimento da nova rede “foi deixada um pouco aos privados”, que cumprem objetivos em função de obrigações impostas.
“Não é um risco deixar tudo do lado dos privados, mas pode condicionar o potencial que se imagina para o 5G”, atira o responsável, defendendo que um incentivo do Estado é também necessário para que existam casos de uso. “Um impulso adicional pode, realmente, criar condições extra e o exemplo de Espanha é um bom exemplo”, defende, salientando que quanto mais rápido for o desenvolvimento da nova rede, mais casos de uso surgem e sobe o “nível de maturidade” na criação de novos serviços e novos produtos em diferentes setores económicos.
Nesta discussão sobre a nova vaga tecnológica há o reverso da medalha, contudo. Estão os operadores a dar tudo pelo 5G e as empresas a procurar soluções em 5G?
“Acho que está em linha com aquilo que é perspetivado em relação aos estágios do 5G em Portugal”, respondeu. Todavia, Luís Muchacho considera que se os operadores acelerarem nas ofertas e “mostrarem que a rede existe e que os casos de uso existem” a probabilidade de as empresas se retraírem na aposta do 5G pode ser menor. “Na Ericsson, estamos a fazer esse esforço desde 2017, para trazer para Portugal demonstrações e provas de conceito para o 5G”, revela.
Por outro lado, há um obstáculo para as empresas portuguesas. “Em Portugal, partimos de uma base de digitalização que não é muito elevada [face à Europa], adianta o gestor. “É necessário – para além da conectividade e criação dos casos de uso -, que as próprias empresas invistam e vejam que existe potencial de introduzir digitalização nos seus processos produtivos”, acrescenta.
Em setembro de 2022, a tecnológica de origem sueca estimava que o 5G gerasse 18 mil milhões de euros no Produto Interno Bruto português até 2030.
Luís Muchacho admite que, se Portugal não acelerar no 5G, o valor possa ser revisto em baixa. “[No limite] chegaremos lá mais tarde que o previsto. Portugal enquadra-se numa geografia em que os países competem entre si. O ponto aqui é quão rápido queremos estar na linha da frente. A Europa e Portugal estiveram na linha da frente nas outras gerações móveis anteriores”, atirou.
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