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A Ervideira, que teve em 2022 o seu melhor ano de vendas de sempre, com 2,5 milhões de euros, está a preparar-se para um novo ciclo de crescimento, assente na recuperação da sua performance internacional, no reforço do mercado interno e numa aposta ainda mais forte no enoturismo. Em curso está já uma nova etapa de investimentos, calculada em dois milhões de euros, entre 2023 e 2024, assente em novas vinhas e na construção de uma nova adega.
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“Estamos ainda a aguardar o fecho de contas, mas, não fora o incremento dos custos com mão-de-obra, eletricidade, combustíveis, adubos, garrafas e tudo o mais que se possa pensar, 2022 poderia ser também um ano de resultados extraordinários. Mas com crescimentos de custos na ordem dos 24%, que é uma brutalidade, ficamo-nos pelo melhor ano de sempre em termos de faturação, que cresceu 25%”, explica o diretor executivo da Ervideira.
Duarte Leal da Costa admite que a situação poderia ter sido ainda uma gravosa, não fosse o investimento feito pela empresa alentejana, em 2019, na instalação de painéis solares. Os custos com a eletricidade duplicaram, em 2022, mas, sem os painéis solares, teriam quadruplicado, garante o responsável. E exemplifica: “Em 2019, regávamos a vinha, à noite, com um custo de 45 euros por megawatt-hora, este ano, pagamos 450 euros o MWh. São dez vezes mais”. Os painéis solares asseguram metade das necessidades da empresa, mas “o grande problema” é o consumo noturno. Sem sol, os painéis não funcionam.
Para 2023, a estratégia é de retoma do crescimento, sobretudo, atendo a que se assiste já a “ligeiras reduções” dos custos das matérias subsidiárias, designadamente das garrafas, caixas de cartão e fertilizantes. “Estamos prontinhos para melhorar os nossos comportamentos em 2023 e para prepararmos um novo crescimento de vendas na ordem dos 20% para este ano”, garante o empresário.
O objetivo é chegar aos três milhões de euros de faturação, em 2023, com uma aposta concertada nas várias frentes de atuação, de modo a que todas cresçam, mas mantendo o mesmo peso que têm atualmente. A primeira frente de aposta é “melhorar a performance exportadora”, área que, garante, esteve “absolutamente morta” durante os últimos três anos. “Estamos a falar de vinhos vendidos essencialmente em restaurantes e garrafeiras, com um preço elevado e, mesmo em 2022, sentimos que os mercados ainda estavam receosos, à espera de esgotar os stocks para dinamizar as compras”, garante.
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Os mercados externos valem 30% das vendas da Ervideira, com especial destaque para o Luxemburgo, Suíça, Alemanha e Brasil. A recuperação do mercado chinês, que se manteve fechado nos últimos três anos, no âmbito da política “covid zero”, vai levar tempo.
Mas é no mercado português que a Ervideira assegura metade das suas vendas, uma performance que pretende fortalecer, à boleia da retoma turística. “Tivemos o melhor janeiro de sempre, em termos de enoturismo, e fevereiro idem. São tudo sinais de que o turismo está aí em força, levando os restaurantes a comprar mais vinhos”, defende.
Com 12 mil visitantes recebidos em 2022 e um contributo de meio milhão de euros para a faturação total, entre provas e vendas de vinho à porta da adega, o objetivo é que esta área de negócios – que atrai sobretudo portugueses, mas também muitos brasileiros, americanos e canadianos, além de várias origens na Europa – cresça também 20% este ano. “Abaixo dos 600 mil euros no enoturismo será derrota”, argumenta o empresário.
Nova adega arranca este ano
A produzir vinhos desde 1880, a Ervideira é uma empresa familiar que vai já na quinta geração. Desde 2017, quando decidiu comprar a posição dos seus irmãos na empresa – um processo que levou dois anos a concluir -, Duarte Leal da Costa já investiu cinco milhões de euros na Ervideira, a que somam os dois milhões que tem previstos entre este ano e o próximo. Só a nova adega, que irá construir de raiz, está orçamentada em 1,5 milhões de euros.
“Precisamos de uma adega nova que nos permita melhores condições de estágio dos vinhos, quer em barrica quer em inox, mas também com melhores condições para recebermos os turistas. Queremos continuar a crescer e, neste momento, já começamos a ter horários bloqueados, por falta de capacidade para receber mais pessoas”, refere. O projeto, diz, conta já com as diversas aprovações necessárias e está em fase de submissão da candidatura aos apoios à Qualificação da Oferta do Turismo de Portugal. Com ou sem esses apoios, o projeto vai avançar, garante.
Além disso, plantou já este ano seis novos hectares de vinha, que se juntam aos 14 plantados no ano passado e aos 22 do ano anterior. No total, a Ervideira tem já 116 hectares de vinha, que não pretende, para já, aumentar mais.
“Com estes 116 hectares temos potencial para atingir um milhão de garrafas [faz agora 600 mil] no espaço de dois anos. Não precisamos de crescer mais em vinhas, por agora”, defende. Em causa está um crescimento de mais de 60% nas garrafas produzidas anualmente.
Quanto a faturação, Duarte Leal da Costa admite que possa chegar aos quatro milhões de euros no mesmo prazo. Para já, não há intenção de diversificar a aposta noutras regiões vitivinícolas. “Em 2015, chegámos a ter um pé no Algarve, mas não aconteceu. Agora, não queremos perder o foco”, sublinha.
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