Os espanhóis da Renfe estão disponíveis para alugar mais comboios à CP. Esta é a reação da empresa pública do país vizinho às declarações do presidente da empresa portuguesa, Carlos Gomes Nogueira, que na segunda-feira assumiu que será necessário o “reforço do aluguer entre seis e 10 composições” junto da Renfe, para compensar os problemas dos comboios Diesel que circulam em Portugal.
“A Renfe está aberta a explorar novos acordos, tendo em conta a sua estratégia para a próxima [etapa] da liberalização do mercado, que exige que todos os operadores procurem melhorias na sua eficiência e competitividade”, referiu fonte oficial da empresa espanhola ao Dinheiro Vivo.
A concretização deste acordo irá depender da vontade dos governos de Portugal e Espanha, através do Ministério do Planeamento e Infraestruturas e do Ministério do Fomento, respetivamente. Um eventual acordo para alargar a parceria entre CP e Renfe deverá começar a ser negociado nas próximas semanas, segundo foi possível apurar junto de fontes do sector. A empresa portuguesa poderá gastar até 3,5 milhões de euros nos novos alugueres.
Este material deverá ser utilizado nas linhas do Oeste e do Algarve, conforme adiantou no final de julho o ministro do Planeamento, Pedro Marques. A CP não tem conseguido assegurar todas as viagens nestas linhas porque os comboios a Diesel utilizados não têm tido manutenção compatível com a idade: estão ao serviço há mais de 50 anos.
O aluguer de comboios irá durar “durante o tempo que for necessário” até que chegue novo material circulante à CP. Isso só deverá ocorrer “daqui a três ou mais anos”, conforme lembrou na segunda-feira o líder da CP.
O concurso público internacional para a compra de comboios deverá ser iniciado ainda este ano. O Ministério do Planeamento e das Infraestruturas tem afirmado nos últimos meses que esta operação está a ser ultimada. Inicialmente, estava prevista a compra de 35 comboios – 28 para serviço regional e sete para serviço de longo curso. Em janeiro, no entanto, o Público adiantou que, afinal, serão comprados 28 comboios para o serviço regional.
Parceria ibérica
A CP paga atualmente sete milhões de euros por ano pelo aluguer de 20 comboios da série 592 e 592.2 da Renfe, que asseguram a circulação na Linha do Douro e o comboio Celta, que liga Porto a Vigo. Este acordo foi assinado em 2011 e voltou a ser renovado este ano, por um período de cinco anos, até 2022, de acordo com uma portaria publicada em maio no Diário da República.
Portugueses e espanhóis são também parceiros do Lusitânia Comboio Hotel, que liga Lisboa a Madrid, e também colaboraram na elaboração do horário da Linha do Leste, que une Entroncamento a Badajoz.
Ainda no serviço internacional, a CP paga cerca de dois milhões de euros por ano à Renfe pelo aluguer de comboios, manutenção e serviços de exploração do “Sud Expresso”, que faz a ligação entre Lisboa e Hendaye, em França. Este acordo está previsto até 2020.
Espanha é o único país que pode alugar comboios a Portugal: tem material preparado para circular com a bitola [distância entre carris] ibérica e é o único país que conta com comboios a Diesel, tendo em conta que “cerca de um terço da infraestrutura” portuguesa está por eletrificar, lembrou na segunda-feira o líder da CP.
As duas empresas ibéricas poderão aproximar-se ainda mais por causa da abertura, em 2020, do mercado ferroviário de passageiros a operadores internacionais, sejam públicos ou privados. O líder da CP admitiu na segunda-feira que podem existir “parcerias estratégicas com a Renfe”, porque só “quem tem bons argumentos, quem é competente, quem tem boa performance e condições de gestão singrará no mercado”.
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