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Num dos espaços do TecLabs, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, está instalado o primeiro laboratório dedicado à investigação de canábis medicinal em Portugal. O investimento que já ronda os dois milhões de euros serviu para a cotada canadiana EXMceuticals instalar uma unidade-piloto na capital, onde a equipa está dedicada à investigação da planta, trabalhando na extração e purificação de canábis para fins medicinais de forma não comercial.
Com a licença do Infarmed atribuída no ano passado e sócia da Apifarma desde este ano, a companhia pretende passar em breve da unidade-piloto para uma unidade industrial, multiplicando a capacidade “numa escala dez vezes superior”.
Paulo Martins, o diretor-geral, detalha que embora a indústria da canábis medicinal tenha várias áreas diferentes onde as empresas se podem posicionar a empresa está na fileira das farmacêuticas, interessada num ponto onde “a cadeia tem um valor mais acrescentado”.
Se no laboratório da empresa entram grandes quantidades de matéria-prima, proveniente dos EUA e da Europa – com Portugal já incluído devido às empresas dedicadas à plantação -, o produto mais ambicionado tem uma escala bem diferente após todo o processo: na ordem dos mililitros. A título de exemplo, Paulo Martins aponta que um composto de CBD, um dos canabinoides presentes na planta, pode custar até 11 euros por mililitro.
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“Aquilo que estamos a introduzir na cadeia é pegar na matéria-prima, purificá-la e, ao fazer isso, incluir o know-how, a tecnologia, standardização, regulamentação e enquadramento técnico-farmacêutico para, quando o regulador autorizar a utilização daquele produto por si só ou combinado com medicamentos, possamos vender dessa forma”, aponta.
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“Uma coisa é estar a produzir a planta por si só, que realmente já tem grande valor, mas que não foi sujeita ainda a transformação. Aqui, estamos a pegar na possibilidade de transformar esse produto num produto altamente acrescentado e que é benéfico para todos – não só para a indústria mas para o consumidor final, porque estamos a implementar métodos de standardização que, no futuro, vão baixar o valor de mercado do produto e torná-lo acessível para mais pessoas”, afirma o responsável.
Susana Santos e Adília Charmier, respetivamente diretora de inovação e diretora de processos químicos, detalham que na unidade-piloto já foi conseguido um valor de purificação de 99,7%. “Quando dizemos que temos um piloto, é mesmo isso, é um piloto que demonstra do ponto de vista da produtividade, validação de processos, standardização que os resultados são sempre os mesmos”, explica Susana Santos, detalhando que o trabalho está ligado à “obtenção de conhecimento que possa ser exponenciado na vertente industrial”.
A pandemia trocou as voltas à empresa, explica o diretor-geral. A EXM esperava já ter concluído a ronda de investimento para a unidade industrial, com um objetivo a atingir perto de 12 milhões de euros. “A covid veio trocar algumas voltas. Não obstante isso, conseguimos concluir tudo o que era possível antes da ronda de investimento – concluir o projeto industrial, fazer procurement de equipamentos e fornecedores, o mais importante, e fechar acordos com potenciais compradores.”
Canábis versus covid
Durante o confinamento, a equipa da EXM pensou num projeto em que a canábis pudesse ter um papel na proteção contra o vírus. Assim, arrancaram os primeiros ensaios para um desinfetante de superfícies onde a planta atua como biocida, matando micro-organismos. Também está pensado o desenvolvimento de máscaras com um filtro embebido em compostos que funcionem como uma barreira de proteção.
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